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“Fico ofendido quando ouço dizer mal de Santarém”
José Venceslau é proprietário do supermercado Pérola do Ribatejo há mais de vinte anos

“Fico ofendido quando ouço dizer mal de Santarém”

José Venceslau, 72 anos, é um rosto conhecido no centro histórico de Santarém. Entrou na Pérola do Ribatejo aos 17 anos e há duas décadas toma conta do supermercado na Rua Capelo Ivens. Praticou atletismo e correu milhares de quilómetros até uma queda o empurrar para as caminhadas. Gosta de ter produtos de qualidade e as coisas bem organizadas. Adora viajar e voltar à cidade onde vive e da qual não suporta ouvir dizer mal apesar de ser o primeiro a apontar o dedo ao que está menos bem: praga de pombos, falta de limpeza e calçadas traiçoeiras.

Nasci em Marianos, no concelho de Almeirim. Vim para Santarém com 17 anos. Para trabalhar na mercearia do meu tio. Antes já tinha trabalhado numa mercearia em Paços dos Negros, também propriedade de um tio.
Assim que saí da escola comecei a trabalhar. Houve pouco tempo para brincar na infância. Embora nessa altura as coisas fossem muito diferentes do que são hoje e se conseguisse sempre encontrar um bocadinho para a brincadeira. Também trabalhei no campo. Os meus pais eram agricultores.
Quando cheguei a Santarém fui moço de recados. O meu tio de Santarém chamou-me para o ajudar na mercearia. De manhã ia a casa dos clientes saber o que precisavam e à tarde fazia a entrega das encomendas, primeiro numa bicicleta e, anos depois, numa carrinha.
Tomei conta da loja há cerca de 20 anos. Durante anos fui empregado. Mais tarde adquiri a loja e comecei a gerir sozinho o negócio por minha conta e risco. Tem corrido bem, já fiz duas remodelações. Uma logo quando fiquei com a loja e outra mais recente, há cerca de cinco anos, quando criámos a sala para refeições leves.
Tudo tem sido fruto de muito trabalho. Levantar todos os dias às seis da manhã e sair da loja por volta das oito da noite, sem interregno, muitas vezes até ao fim-de-semana.
O segredo para o sucesso é gostarmos do que fazemos. Incluo-me nessa máxima. Sempre fui comerciante e gosto do que faço. Apesar do trabalho poder por vezes ser muito repetitivo gosto dele e sempre o desempenhei com gosto. Gosto de ter produtos de qualidade e as coisas bem organizadas.
A Pérola do Ribatejo é uma estrutura já com alguma envergadura que começa a ultrapassar as minhas capacidades. Recentemente chamei os meus filhos e perguntei se algum quereria dar continuidade ao negócio. O meu filho está aqui agora com esse objectivo. Veio do Porto.
Fiz tropa no tempo da guerra mas felizmente não fui destacado. Não sei como, não pedi nada a ninguém, mas safei-me da guerra colonial. Assentei praça em Leiria, em 1969, depois estive em Coimbra e por fim em Lisboa no Hospital Militar, onde fui enfermeiro até 1972.
Durante vinte anos fui dirigente e bombeiro nos Voluntários de Santarém. Foi uma experiência enriquecedora. Como bombeiro fazia parte do corpo auxiliar, conduzia ambulâncias, mas não combatia incêndios. Fui director da Associação Comercial de Santarém perto de vinte anos. Recentemente achei que estava na altura de sair. Foi uma boa experiência, mas ultimamente as pessoas que lá estavam lideravam a associação de uma maneira que não compreendo. Quando aceito estes cargos é para levar a sério, assumo de corpo e alma.
Já corri milhares de quilómetros. Fiz atletismo durante muitos anos, corri maratonas e meias-maratonas, na região e fora. Só comecei a praticar atletismo com 38 anos e o melhor desempenho que tive foi em quatro provas em Portalegre “As Rampas da Inatel”, onde fui primeiro classificado no meu escalão. Além do troféu em vidro ganhei também uma libra em ouro. Tinha 44 anos. Desde que caí na loja só faço caminhadas. Dei cabo de um joelho.
Conheço vários países da Europa e a última viagem que fiz foi ao Peru no ano passado. No ano anterior tinha ido ao Irão. Mas a viagem que mais me marcou foi a que fiz à Escandinávia, Dinamarca, Suécia e Noruega. Pela paisagem e pela cultura, muito diferentes da nossa. Este ano já tinha decidido não viajar porque ando a fazer obras. Foi uma decisão tomada antes da pandemia. Terei muita pena se não puder continuar a viajar. A minha viagem de sonho é à Austrália e ainda quero ver se a consigo fazer.
Fico ofendido quando ouço dizer mal de Santarém. Vivo na cidade e adoro-a, mas sou crítico de algumas situações como os pombos, a limpeza que deixa muito a desejar e a calçada irregular que impede muitos idosos de por aqui passar. Há anos que se ouve dizer que vai ser arranjada, com umas lajes centrais, mas nada.
Quem diz mal da cidade nunca fez nada por ela e critica o que os outros fazem. Acredito que mesmo o que está mal feito foi feito com boa intenção.

“Fico ofendido quando ouço dizer mal de Santarém”

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