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Nascer de novo

Senhores presidentes de câmara, esqueçam as verbas que tinham no passado. Foram-se. Esqueçam o velho paradigma de desideratos metafísicos de obras que mobilizavam incautos eleitores. V. Exas ou mudam, ou serão catos no deserto. As regiões prevalecentes serão aquelas que conseguirem (i) estruturas de saúde eficazes - as actuais não servem...- e (ii) verbas para as suas populações, i.e., trabalho.


Hipótese 1 - ficcione-se que alguém ao nascer é colocado, por milagre da ciência, num qualquer recipiente provido de uma solução química que o preserva indefinidamente das debilidades físicas da finitude. Para garantir essa putativa imortalidade, ainda se deposita, com enlevo, aquele ser indefeso em criogenia. Estaria garantida uma longevidade inalcançável, quase perpétua.
Hipótese 2 - a normalidade. Um bebé nasce e, indefeso, percorre o trilho da vida. Frágil, a incerteza da morte está quotidianamente a cada esquina. Que hipótese é opção? A normalidade, sem hesitação: o medrar diário do meu fenótipo, o repto da fragilidade e precariedade da vida humana, eivada dos seus eflúvios, lutas, dores, lágrimas, prazeres e alegrias. Prefiro uma existência frágil, mas intensa, a uma existência longa, mas passiva. A vida mede-se pela sua qualidade e não pela sua quantidade. Dir-me-ão que a vida não é dicotómica, a preto e branco e que a realidade é, sim, matizada de cinzentos. Mas que matizes de cinzentos aguentamos? Confinamos, ou vivemos?
Não é necessário “ir a Coimbra” para ter a certeza que o vírus veio para ficar. As medidas restritivas não vão desaparecer, indo-se antes graduando periodicamente ao sabor das oscilações quantitativas das infecções e dos milhões de desencontros das imunidades transitórias facultadas pelas vacinas. A questão que importa colocar é saber se todos nós estamos dispostos a suportar estes confinamentos ad aeternum, mesmo que alternadamente. Se tudo for provisório, até se suporta. Mas... e se for para sempre? Em Março e Outubro, confinamos de novo?
A vida vai mesmo ter de prosseguir, seja com que matiz de cinzento for, com o indeclinável risco de se fenecer a todo o momento. Vamos ter de nos capacitar que, afinal, morrer faz parte da vida.
Chegados aqui, face à narrativa medieva da recente e palpitante história de Portugal e face aos agora ostensivamente evidentes parcos recursos do nosso sistema de saúde - os menores de toda a UE - importaria, além de se tratarem dos vivos e de se enterrarem os mortos, erguer a cabeça e planificar um outro país. Não há “bazuca” que chegue para mais um confinamento. Sem empréstimos - devido à nossa proverbial dívida - a bazuca desfigurou-se numa fisga. Não obstante ainda ninguém lhe ter dito, chegue-se aqui pertinho - com máscara...- para eu lhe cochichar: NÃO HÁ DINHEIRO!
Por conseguinte, o exíguo orçamento existente vai ter mesmo de ser radicalmente redireccionado. Para que a vida continue sem futuros confinamentos e para que, desse modo, a fome não alastre, um colossal investimento público na saúde e uma profunda e imprescindível sã articulação com os respectivos sectores privados e social, são “a” urgência. TAP, TGV e aeroporto? O grotesco mata mesmo. Justamente, não existindo dinheiro para distribuir aos amigos, a solução para Portugal é criar riqueza. A alternativa é a miséria. Importa recordar que o dinheiro dos impostos resulta dos lucros das empresas. O Estado não gera dinheiro!
Definitivamente, têm de se criar condições para o pequeno investimento privado Português, porque o de maior dimensão é uma impossibilidade. Esse terá de vir de fora. Mutatis mutandis, regiões sem redes de saúde eficazes não terão investimento.
Senhores presidentes de câmara, esqueçam as verbas que tinham no passado. Foram-se. Esqueçam o velho paradigma de desideratos metafísicos de obras que mobilizavam incautos eleitores. V. Exas ou mudam, ou serão catos no deserto.
As regiões prevalecentes serão aquelas que conseguirem (i) estruturas de saúde eficazes - as actuais não servem...- e (ii) verbas para as suas populações, i.e., trabalho. Por um lado, o edil terá de se intrometer e condicionar a gestão dos hospitais públicos, atrair os privados e sociais e, quiçá, estimular protocolos de saúde para as suas populações; e, por outro, as verbas do futuro apenas resultarão da iniciativa privada e do empreendedorismo, já que as verbas públicas serão provenientes dos povos do Norte da Europa que decidirão, exactamente, onde as vamos gastar. Felizmente para nós.
As próximas eleições autárquicas irão fazer a diferenciação entre os autarcas de antanho e os da posteridade, entre aqueles que alquebrarem as suas populações e aqueles que definirem condições para uma audaz e robusta criação de empresas.
A gestão municipal tem agora uma oportunidade única para nos ajudar a sair da fossa onde nos meteram puxando, desassombradamente, pelo país.

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