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“Gostava que Santarém tivesse um terminal rodoviário à medida da capital de distrito”
Marco Henriques admite que, com a pandemia e os sucessivos confinamentos, a procura no transporte público reduziu drasticamente

“Gostava que Santarém tivesse um terminal rodoviário à medida da capital de distrito”

Marco Henriques, 45 anos, é responsável pela direcção operacional de Santarém da Rodoviária do Tejo. A área dos transportes surgiu por acaso mas rapidamente foi atraído pelos desafios da mobilidade. O seu percurso profissional começou no futebol, desporto que já o fez cometer algumas loucuras como jogar uma época inteira com o menisco do joelho direito fracturado. Depois de alguns sustos na auto-estrada, quando trabalhava em Lisboa, decidiu procurar trabalho mais perto da família. Está na Rodoviária há 14 anos.

Sou filho de mãe angolana, de Luanda, e de pai escalabitano. Ela enfermeira e ele delegado de informação médica. Vim de Angola “escondido” na barriga da minha mãe. Acabei por nascer em Santarém. Para que a minha mãe pudesse continuar a trabalhar fui acolhido, com seis semanas de idade, por Elisa Pedroso da Costa e Mário Costa, conhecido pediatra de Santarém. Tive assim o privilégio de receber afectos a dobrar e “puxões de orelhas” na mesma proporção.
Gostava que Santarém tivesse um terminal rodoviário à medida da capital de distrito. Moro na Portela das Padeiras, em Santarém. O que gosto mais na cidade é do seu património histórico e monumental, mas sobretudo dos seus agentes culturais que tenho o privilégio de contactar e que revelam uma abnegação extrema pela identidade cultural da cidade.
Comecei a trabalhar na Rodoviária do Tejo três semanas antes do meu filho mais novo nascer. O Manuel tem agora 14 anos. No entanto o meu primeiro ofício foi desportivo, na equipa de futebol sénior do Portimonense SC. Conformado de que não poderia continuar a fazer desporto de alta competição, dei continuidade à licenciatura em Recursos Humanos e a partir do 2º ano, como me faltava o dinheiro, comecei a trabalhar no instituto de línguas LinguaCultura.
Antes de terminar a licenciatura passei ainda pela pela empresa de telecomunicações TeleSanta. Mais tarde a empresa fez uma fusão com a Telecelular, tornando-se um dos maiores grupos de telecomunicações em Portugal. Esta fusão obrigou-me a trabalhar em Lisboa, como responsável pela direcção de recursos humanos.
Depois de alguns sustos na auto-estrada decidi vir para mais perto da família. O meu primeiro filho, Francisco, nasceu nessa altura e foi um bom motivo para procurar trabalho mais perto de casa, em Almeirim, a cidade das minhas raízes. Foi então que ingressei na Rodoviária do Tejo, como técnico de recursos humanos e mais tarde na área operacional, desafiado pelo engenheiro Orlando Ferreira.
A área dos transportes surgiu por acaso. No entanto, rapidamente fui atraído pelos desafios relacionados com o conceito de mobilidade. Um conceito que hoje me entusiasma e desafia uma empresa com a história da Rodoviária do Tejo. Iniciei funções como adjunto da direcção operacional das Caldas da Rainha e, dois anos mais tarde, passei a fazer parte da equipa da direcção de Santarém, com responsabilidades ainda na gestão dos processos de melhoria contínua, certificados em toda a empresa.
O domínio em vários quadrantes que a área operacional de transportes obriga é o maior desafio diário. Não existem soluções pré-concebidas. Como dizia um chefe de movimento com quem trabalhei, “de manhã tem que estar tudo a horas na escola e a trabalhar e à noite têm que estar todos a ver a novela”.
A procura no transporte público reduziu drasticamente com a pandemia. Mais de 50% dos nossos clientes habituais foram perdidos. Os motivos são muitos. As restrições na mobilidade das pessoas são por si só motivo bastante para esta redução. Houve um trabalho de gestão de redes mais difícil no início do ano lectivo, na adaptação da rede aos novos horários escolares. Mas difícil mesmo é trazer novamente os clientes habituais.Saiu o cliente que perdeu o emprego ou reduziu o número de dias de trabalho, saiu o cliente que está em teletrabalho, saiu o estudante universitário que tem aulas à distância... e falta-nos os clientes que vêm à consulta, à fisioterapia, ou visitar um amigo.
Nos tempos livres gosto de me dedicar à actividade física, com algumas corridas semanais e futebol. O futebol é a paixão que me acompanha e que já me fez cometer algumas loucuras, como fazer, aos 13 anos, uma época inteira com o menisco do joelho direito fracturado, queixando-me apenas no final dos jogos aos cobertores, que ouviam as minhas preces com um saco de gelo em cima do joelho.
Sou do Benfica e, antes da pandemia, assistia assiduamente a futebol nos estádios, incluindo na Catedral. Sempre que posso acompanho o União de Almeirim, onde me ensinaram a ter respeito pelo trabalho de grupo e onde fiz amigos para a vida.
Dos tempos pré-pandemia sinto a falta do abraço dos meus amigos. Mas isso já me obrigou a dizer por palavras aquilo que se diz num abraço apertado, e isso tem-me feito bem, pelo que já disse e pelo que me têm dito.
Votar é um dos maiores poderes que a democracia me concede. Sempre votei mas não penso que o voto deva ser obrigatório. Isso seria um contrassenso à liberdade conquistada há mais de 45 anos. A democracia não está ameaçada, mas, como se costuma anunciar nas páginas dos jornais desportivos quando o “meu” Benfica não ganha, poderá estar em crise porque tem sido derrotada pela manipulação nas redes sociais.

“Gostava que Santarém tivesse um terminal rodoviário à medida da capital de distrito”

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