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Eutanásia divide quem diz que quer morrer  com dignidade e médicos que defendem a vida
foto DR Tiago Antunes sofre de uma doença degenerativa e defende o direito de poder decidir quando morrer

Eutanásia divide quem diz que quer morrer  com dignidade e médicos que defendem a vida

Tiago Antunes, que sofre de uma doença degenerativa, defende o direito de poder decidir quando morrer. Médicos defendem a vida e o melhoramento da rede de cuidados continuados e paliativos dando maior suporte aos doentes. A legalização da eutanásia precisa da concordância do Presidente da República, que a enviou para apreciação do Tribunal Constitucional.

Quando Tiago nasceu os médicos deram-lhe três dias de vida. Tiago Antunes contrariou as expectativas dos médicos e 33 anos depois continua vivo. O jovem de Ferreira do Zêzere sofre de uma doença degenerativa rara que lhe afecta as articulações e os músculos tendo sido o segundo caso diagnosticado em Portugal. As suas mãos estão deformadas e para caminhar tem que colocar diariamente ortóteses, um aparelho que ajuda a ter força nas pernas. Já fez 17 operações cirúrgicas às pernas, a primeira com dois anos, e algumas das quais experimentais. “Sabe-se tão pouco desta doença que aceitei que me fizessem operações experimentais, sempre com o intuito de melhorar”, explica.
Segundo os médicos que o acompanham, Tiago atingiu agora o pico da sua forma física e terá mais 20 a 30 anos de vida útil. Com a pandemia houve um pequeno retrocesso no seu progresso, porque o facto de não poder sair faz com que mexa menos os músculos. Antes da pandemia pegava no carro e ia passear para todo o lado. Sempre fez a sua vida normal.
Tiago Antunes recorda a O MIRANTE que teve uma infância feliz e os seus amigos nunca o afastaram das brincadeiras. Pelo contrário: “Quando jogávamos à bola os meus colegas colocavam-me à baliza porque sabiam que eu não podia mexer-me muito”, conta. Também os pais sempre o motivaram a ser o mais independente possível e o jovem agradece-lhes por isso.
A sua condição física nunca foi problema até chegar à adolescência e perceber que os amigos arranjavam namoradas mas Tiago não. “Sentia-me revoltado porque apaixonava-me mas elas não queriam nada comigo”, lembra. No entanto, Tiago teve alguns relacionamentos sérios que terminaram por preconceito da família das namoradas. “O namoro corria bem até ao momento de eu ser apresentado à família. Ambas as relações terminaram por pressão da família que não aceitava a minha condição física e o facto de sofrer de uma doença degenerativa”, lamenta.

“EUTANÁSIA É DAR UMA ÚLTIMA ESCOLHA A QUEM CHEGOU AO FIM DA LINHA”
Uma noite, antes de adormecer, em Fevereiro do ano passado, decidiu escrever um texto onde desabafou sobre a sua doença e do direito à eutanásia, ou seja, morte assistida. Tiago defende a eutanásia e pede que lhe dêem a liberdade de poder escolher morrer se um dia ficar preso no seu próprio corpo.
“Não perco sonhos nem a alegria de viver. No entanto, quando o meu corpo disser que chegou ao fim da linha quero poder decidir não ser um peso nas vidas da minha família. Perdoem-me, mas eles não merecem isso! Eu não mereço estar preso a uma cama plenamente consciente que estou dependente de outros, sobretudo quando faço, e farei, de tudo para levar, até conseguir, uma vida feliz e cheia de memórias com eles. Recuso-me a que as últimas memórias dos meus sobrinhos sejam do tio incapacitado numa cama”, escreveu.
Tiago acrescentou na sua publicação nas redes sociais Facebook e Twitter que eutanásia é dar uma última escolha a alguém que chegou ao fim da linha. “Gosto de ver pessoas sem doenças manifestarem-se a favor da vida...como podem estas pessoas representarem-me se não sabem o que é passar meses preso a uma cama onde a única coisa que se mantém connosco é o sofrimento e a dor. Eutanásia não é matar velhinhos só porque sim. É deixar alguém partir com uma última gota de dignidade. Quando chegar ao fim da minha linha gostava de poder escolher ir embora deste mundo rodeado de família e amigos, no meio de sorrisos e de uma conversa animada. Não quero ficar preso a uma cama sendo apenas um inútil que só dá trabalho”, sublinha.

“Joana” conta a história de uma mulher com doença terminal

Tiago Antunes gosta de colocar no papel os seus pensamentos. Recentemente escreveu um livro, que vai ser publicado em breve, intitulado “Joana”, uma mulher com cancro terminal que defende a eutanásia. O livro, romanceado, é baseado na história de vida de Tiago, que dá a cara pelo direito a morrer através da eutanásia.

Eutanásia divide quem diz que quer morrer  com dignidade e médicos que defendem a vida

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