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Pedreiras de Fátima são um bom negócio mas não para a população
Carlos e Maria Oliveira, habitantes de Casal Farto. José de Sousa e Ana Patrícia, junto ao minimercado da Maxieira. População considera as pedreiras um motor de desenvolvimento para a região, mas queixa-se da perda de qualidade de vida

Pedreiras de Fátima são um bom negócio mas não para a população

A acusação de falta de controlo sobre a exploração de pedreiras em Fátima voltou à ordem do dia. Os moradores das aldeias vizinhas queixam-se do ruído, do pó e do perigo que representa a passagem de camiões sem lonas de protecção ou cintas de segurança. Mas há quem afirme que o negócio é uma bênção para os moradores que não têm outro meio de subsistência.


O negócio da exploração das pedreiras na zona de Fátima, concelho de Ourém, continua a dividir opiniões, não só entre a classe política do concelho, mas também entre os moradores das aldeias situadas paredes-meias com as pedreiras. Alguns habitantes queixam-se do ruído dos trabalhos; outros falam das poeiras que se entranham nas suas habitações e que estragam as culturas e a paisagem; há ainda quem lamente o tráfego dos camiões que, na sua grande maioria, passa dentro das aldeias sem lonas de protecção e cintas de segurança. “Não podemos deixar os nossos filhos à porta de casa, a brincarem, por exemplo, porque correm o risco de ficarem maltratados com a projecção da gravilha das ruas”, afirma Ana Patrícia, funcionária do único minimercado da aldeia de Maxieira.
Na manhã de segunda-feira, 8 de Março, O MIRANTE andou pelas aldeias de Maxieira e Casal Farto para ouvir os testemunhos de quem vive colado à exploração de um negócio que rende milhões às empresas e faz do município de Ourém refém das contrapartidas financeiras e das centenas de postos de trabalho que assegura. Exemplo disso foi a aprovação, no ano passado, em assembleia municipal, de declarações de interesse público tendo em vista a regularização das pedreiras que não estavam a funcionar conforme a legislação em vigor. Recorde-se que não é competência da Câmara de Ourém fiscalizar o funcionamento das pedreiras, embora seja responsável por monitorizar o nível do ruído.
Ana Patrícia considera que as pedreiras são um motor de desenvolvimento do concelho, embora admita que pouco têm feito para isso. “É verdade que empregam muitas pessoas e ajudam à economia, porque os trabalhadores frequentam os nossos estabelecimentos e arrendam as nossas moradias. Mas tirando uma estrada ou outra, não têm participado nem contribuído para o bem-estar social, a que deveriam estar obrigados por nos destruírem a paisagem e levarem qualidade de vida”, sublinha.
José de Sousa está de acordo com Ana Patrícia, relembrando que algumas empresas prometeram alcatroar estradas e ainda não o fizeram, assim como requalificar alguns espaços nas aldeias que estão localizadas no sopé da Serra d’Aire e Candeeiros.
Ainda na estrada, por caminhos que oferecem segurança aos automobilistas, O MIRANTE encontrou Maria e Carlos Oliveira a cuidar do seu jardim na aldeia de Casal Farto. Casados há mais de três dezenas de anos, vivem a cerca de meio quilómetro das pedreiras, embora garantam que o barulho dos trabalhos não lhes tira o sono e que se habituaram ao alvoroço provocado pela passagem dos camiões.
O casal explica ao repórter porque é que a população não se revolta mais pela exploração dita abusiva das pedreiras: “Há muitas famílias a venderem os seus terrenos por valores muito elevados e a abandonarem a aldeia para irem viver para outra zona do concelho ou para o distrito de Leiria. Qualquer dia não há pessoas a viver nestas aldeias”.
O repórter de O MIRANTE parou à saída de Casal Farto para meter conversa com Alzira M., que transportava caixotes de papelão da sua casa para o automóvel; está de malas feitas para ir viver para outra localidade no concelho. A O MIRANTE não adianta se vendeu ou não a propriedade, apenas refere estar a deixar a casa onde vive há 40 anos, que fica colada a uma das pedreiras, por sentir que perdeu qualidade de vida. “Vim para aqui quando a exploração estava inactiva, mas nos últimos 10 anos as pedreiras têm crescido como cogumelos”, sublinha.
Alzira garante que reclamou na junta de freguesia e autarquia, mas nunca foi ouvida com o interesse de quem teria vontade de arranjar uma solução para o seu problema. “A população destas aldeias está desprotegida. Temos direito ao sossego e é por isso que me vou embora”, confessa.

À margem

Autarcas estão a borrifar-se para as populações

O PCP divulgou recentemente um comunicado a acusar as dores da população do concelho de Ourém que mais sofre com as pedreiras de Fátima. O aproveitamento político dos comunistas faz todo o sentido se tivermos em conta aquilo que o repórter de O MIRANTE ouviu no terreno sobre os autarcas do PSD que empenharam as barbas para que as pedreiras ganhassem estatuto que lhes permitisse aumentar áreas de exploração.
O presidente da Junta de Fátima, Humberto Silva (PSD), e o presidente da Junta de Freguesia Nossa Senhora das Misericórdias, Luís Oliveira (PSD), devem dormir todos os dias com as orelhas a arder, porque as promessas das empresas em requalificar e edificar património ainda não foram cumpridas. Quem vive nas aldeias de Casal Farto e Maxieira afirma que as empresas não colaboram sequer para a manutenção do que estragam quanto mais para o seu desenvolvimento social e cultural.

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