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Três jovens estão a fazer de Santarém uma cidade mais solidária
Tica Figueiredo, Ana Conde e João Raposo criaram o grupo voluntário "Santarém Solidário"

Três jovens estão a fazer de Santarém uma cidade mais solidária

A generosidade de três jovens está a fazer a diferença na vida de muitas famílias residentes nos concelhos de Santarém, Almeirim e Benavente. Tica Figueiredo, Ana Conde e João Raposo criaram o grupo “Santarém Solidário” que leva a casa das pessoas mais carenciadas aquilo de que elas mais precisam. O MIRANTE acompanhou uma jornada e ouviu uma das jovens confessar que gostam de ser um pouco palhaços para animarem o trabalho e criarem ambiente.



O aniversário de Inês, de olhos doces e castanhos, este ano tem um sabor especial. Em casa, a mãe Maria e os irmãos Diana e Duarte esperam pela surpresa já combinada; a campainha toca, a porta abre-se e começa-se a cantar os parabéns. A família de Inês é a primeira do dia a ser visitada por um grupo de três jovens que estão a fazer a diferença na vida de cerca de meia centena de famílias residentes nos concelhos de Santarém, Almeirim e Benavente.
Tica Figueiredo, Ana Conde e João Raposo sobem ao quarto andar da casa de Inês, no Bairro de São Domingos, em Santarém, carregados com sacos repletos de alimentos, produtos de higiene e um bolo de aniversário. A tentação pelo bolo depressa leva as crianças para dentro. Minutos depois regressam, de barriga confortada, para se juntarem à conversa com o repórter de O MIRANTE.
Maria foi despedida, sem direito a subsídio, de uma grande superfície comercial em Santarém por estar à espera do quarto filho e ser uma grávida de risco. O marido é funcionário de uma empresa de construção civil, mas só trabalha quando as condições meteorológicas o permitem. Governar uma casa onde vivem cinco pessoas, com cerca de meio milhar de euros por mês, é uma tarefa hercúlea. “É doloroso acordar todos os dias sem saber se vou conseguir colocar comida em cima da mesa. A ajuda destes três anjos-da-guarda tem sido muito importante para a nossa família”, afirma.
A família de Inês, que comemora 14 anos, tem rosto mas para a reportagem resolveram dar apenas a voz por considerarem viver numa sociedade de julgamentos e recearem ser vistas como “uma família de coitadinhos”. O preconceito é uma realidade com que os três jovens, que criaram o grupo informal “Santarém Solidário”, têm de lidar diariamente.
Tica Figueiredo conta que há uma família que os recebe sempre de cabeça baixa, limitando-se a repetir várias vezes a palavra obrigado. “O fenómeno da pobreza envergonhada existe, mas nós estamos cá para quebrar essas barreiras”, salienta. Meia hora depois, os três voluntários despedem-se com uma cotovelada e com a promessa de voltar dentro de uma semana com um computador para que Inês e Diana tenham aulas em simultâneo.
No regresso ao carro, para a segunda e última volta do dia, os jovens falam a O MIRANTE sobre o projecto. Tica Figueiredo trabalha com o pai, Ana Conde estuda turismo na universidade e João Raposo está desempregado. Habitualmente fazem entre 4 e 7 entregas diárias. O esforço necessário para conciliar a rotina do trabalho e do estudo com o espírito do voluntariado é recompensado pelo carinho que recebem e pelas histórias de vida que lhes enchem o coração.
Chegam quase sempre a casa por volta das onze da noite, exaustos, mas com a alma reconfortada. “Vamos para a cama com um sabor agridoce na boca; por um lado estamos felizes por podermos ajudar os outros, mas emocionalmente é muito duro lidar com a realidade e o tormento em que vivem estas famílias”, desabafam.

“Gostamos de ver as pessoas a sorrir”
No caminho até à casa de Rute, nas Fontainhas, fala-se sobre a visita, no dia seguinte, a casa de Paulo, que vive dentro de uma loja abandonada na Ribeira de Santarém. “É o caso social mais grave que temos em mãos. Nesta situação, o nosso trabalho é insuficiente para dar alguma dignidade à vida daquele homem”, confessam. Eis que chegamos à nova morada. A Rute é mãe de uma menina que nasceu prematuramente há cerca de quatro meses, com pouco mais de um quilo e meio. A entrega, desta vez, merece um abraço: para além de comida e roupa os jovens levaram um berço para a bebé.
A conversa é animada apesar das dificuldades em que a família vive. “Somos um bocadinho palhaços porque gostamos de ver as pessoas a sorrir. Para além dos bens que entregamos também é importante interagir e dar a oportunidade para as pessoas desabafaram os seus problemas”, sublinham.
O trabalho dos três jovens só é possível porque centenas de pessoas já aderiram à causa. Com cerca de dois mil seguidores na página oficial de Facebook do Santarém Solidário os voluntários recebem ofertas vindas de toda a região. Afirmam que querem chegar a mais famílias, mas para isso precisam de mais gente sobretudo para fazer a recolha e as entregas. “Sabemos que não podemos mudar o mundo mas podemos contribuir para mudar a vida a muitas famílias. Quem quiser juntar-se a nós será muito bem-vindo”, afirmam em uníssono.

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