uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Os autarcas, esses heróis sem capa ingratamente incompreendidos

Os autarcas, esses heróis sem capa ingratamente incompreendidos

Acutilante Manuel Serra d’Aire

Manifestas na tua última epístola preocupação com a nova fornada de políticos que aí vem, nomeadamente autarcas. Compreendo a tua visão mas não partilho da mesma apreensão. Aliás, dou graças aos deuses que nunca me tenham convidado para concorrer a tais funções, porque, com a minha costela altruísta e falta de bom senso, era capaz de embarcar na aventura julgando-me apto a dar novos mundos ao mundo da política autárquica. E como o nosso eleitorado não é bem certo das ideias era bem capaz de me eleger, tal como já deu uma maioria absoluta ao Sócrates ou 10% ao pregador Ventura nas presidenciais, para citar apenas dois exemplos.

Abençoadamente para a minha terra e para o meu país, tal nunca aconteceu e nunca estive em lugar de tomar decisões políticas pelo colectivo (já bem basta a administração do condomínio). Ainda assim, tenho de endereçar encómios e desejar ânimo a quem se propõe ser autarca, sobretudo aqueles que se arriscam a ganhar - porque ser candidato do Volt ou do PT, por exemplo, é só mesmo para ter umas feriazinhas na altura da campanha eleitoral.

Ao contrário do que muita gente precipitadamente pensa, a vida de autarca está longe de ser fácil, para além de ser mal remunerada face às responsabilidades que envolve. Logo à partida, está-se impedido de tomar decisões que possam beneficiar o próprio ou os seus familiares mais próximos, o que é uma absurda injustiça e discriminação em relação aos outros cidadãos. A meu ver é, até, inconstitucional. Um autarca não é menos que outro cidadão e não vejo por que não possa, por exemplo, contratar obras ao pai que tem uma empresa de construção ou serviços jurídicos à irmã que é advogada ou, até, encomendar refeições no restaurante da esposa.

Depois, é a actividade de autarca em si. A vida não é fácil, sobretudo para pessoas que tenham as agora muito famosas comorbilidades, como hipertensão ou diabetes ou problemas gástricos. São muitos almoços e jantares de aniversário nas associações recreativas e culturais, muitos petiscos nos clubes desportivos, muitos lanches nas IPSS do concelho. E autarca que se preze não pode faltar, embora haja por aí dois ou três copinhos de leite que são a inevitável excepção à regra…

Vê o caso do omnipresente Moita Flores quando andou por Santarém. Foi tanta festa e festança, tanto porco no espeto e entremeada na brasa que o homem passada meia dúzia de anos estava KO e teve de ir pregar para outra freguesia, provavelmente em busca de hábitos alimentares mais saudáveis e uma vida menos agitada.

Depois há ainda aqueles trabalhos sujos que alguém tem que fazer. Como os de limpar a merda (literal e metafórica) que os munícipes deixam por todo o lado. Que o diga o presidente da Junta de Vila Chã de Ourique quando descobriu que alguns dos seus fregueses mais desregrados evacuavam junto ao muro do cemitério, que tem as casas-de-banho fechadas, e se prontificou ele mesmo, caso fosse necessário (cá p’ra mim não deve ter sido), a ir limpar o que os incontinentes cagões tinham feito. A isto se chama serviço público! Ah pois é!!!
Saudações autárquicas do
Serafim das Neves

Os autarcas, esses heróis sem capa ingratamente incompreendidos

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido