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Morte súbita abortada
Vítor Paulo Martins - Diretor Clínico da Clínica do Coração Santarém E Diretor do Serviço de Cardiologia do Hospital de Santarém (foto DR)

Morte súbita abortada

Em Santarém temos um valor de implante de CDI (cardioversor desfibrilhador) por milhão superior à media nacional mas não podemos descurar as nossas atitudes.

Mais uma vez em direto, desta vez num jogo do Campeonato Europeu de Futebol, assistimos a um jogador de futebol que foi reanimado de uma morte que só foi abortada porque a equipa médica percebeu a gravidade e atuou em conformidade com realização de uma cardioversão elétrica com sucesso que seria a única atitude com eficácia nesta situação em concreto.

Esta arritmia maligna, denominada fibrilhação ventricular, apenas pode ser revertida com um choque elétrico dado por um desfibrilhador externo ou por um desfibrilhador implantado. Foi este aparelho que o jogador de futebol recebeu poucos dias depois e que vai atuar em situações semelhantes de modo automático revertendo uma morte certa. Dez minutos na ausência destas medidas a morte surge e nada poderá mudar esta situação dramática.

Tudo isto leva-nos a pensar porque será que tal acontece e se a avaliação médica tem sido correta na identificação destas situações.

Sabemos que o desporto de alta intensidade não é saudável. Estes atletas têm que ser periodicamente avaliados clinicamente e com exames adequados de modo a criar segurança aos atletas. No entanto nem sempre tal é suficiente, como aconteceu no caso referido. Sabemos também que temos muitos outros pacientes, com diagnósticos concretos, que têm uma probabilidade de morte súbita arrítmica muito elevada. Serão estes que serão candidatos a um implante de um cardioversor desfibrilhador (CDI).

No distrito de Santarém existem, no momento, perto de 500 doentes portadores de CDIs e, destes, cerca de 20% já tiveram uma morte súbita abortada porque tiveram a tal arritmia maligna e o aparelho administrou o tal choque milagroso porque evitou uma morte que parecia ser inevitável.
Deste modo é importante identificar todos aqueles que necessitam de um desfibrilhador, mas também tratar todas as alterações clínicas de elevada probabilidade de complicações no âmbito cardiovascular.

Doentes com antecedentes de enfarte do miocárdio com sequelas graves (depressão muito significativa da função sistólica), corações muito dilatados, com antecedentes de arritmias malignas e reanimados de morte súbita são o grupo principal candidato a estas terapêuticas.

A mortalidade cardiovascular, antes da pandemia Covid-19, vinha em queda significativa. No último ano parece haver um agravamento dos índices no âmbito cardiovascular, a nível nacional, aparentemente por deficit na avaliação médica. Em Santarém temos um valor de implante de CDI por milhão superior à média nacional (+/- 200 por milhão). No entanto, não podemos descurar as nossas atitudes.

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