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José Fidalgo: o homem que colocou o estudo da sociedade acima da vida política
José Fidalgo

José Fidalgo: o homem que colocou o estudo da sociedade acima da vida política

José Fidalgo Gonçalves foi um rosto que colocou Vila Franca de Xira no mapa nacional da política autárquica graças a uma postura de sinceridade, frontalidade e amizade. A sua morte, aos 67 anos, apanhou toda a gente de surpresa e deixou a comunidade de luto.

José Fidalgo Gonçalves partiu aos 67 anos, vítima de ataque cardíaco, mas deixa um percurso de vida como poucos no país e em especial no concelho de Vila Franca de Xira, para onde foi viver ainda jovem. Não partilhava da ideia de que os velhos é que sabiam tudo e por isso trocou a vida autárquica pelo estudo e ensino, onde deu à comunidade ensaios importantes sobre a governança local e a melhoria das sociedades.

Publicou livros de investigação académica com a chancela de O MIRANTE e ainda era cronista habitual nas páginas do jornal tentando transmitir o seu conhecimento sobre governança local e cidadania, umas vezes sobre temas nacionais, outras vezes sobre a terra que o apadrinhou. A sua última publicação questionava se ainda todos nos lembramos de Álvaro Guerra.

Disse em entrevista a O MIRANTE que todas as profissões que teve foram acasos da vida: trabalhou na metalomecânica, na área comercial, gestão pós-venda e até chegou a ser despachante de tráfego aéreo. Lamentava que a crise empurrasse cada vez menos alunos para as faculdades. O seu envolvimento na política foi um acaso e do qual guardava memórias bastante positivas. Desde os 14 anos esteve ligado ao movimento associativo e acreditava que todos os cidadãos tinham a obrigação de trabalhar para o bem comum.

“Ninguém deveria ser deputado ou presidente de câmara sem ter passado pelos diferentes escalões da vida autárquica e cívica para perceber como é o funcionamento das coisas”, dizia o homem que foi também dirigente nacional da ANAFRE - Associação Nacional de Freguesias. Foi nesse cargo que estabeleceu amizade com autarcas de todo o país, que lamentaram publicamente o seu falecimento. Chegou a ser sondado para ser candidato a presidente da Câmara de Vila Franca de Xira mas nunca aceitou.

Foi presidente da Junta de Vila Franca de Xira entre 2000 e 2011, revolucionando a forma como a junta de freguesia funcionava e servia a sua população, tendo passado também por momentos maus como a fracassada criação do centro gastronómico de Povos. Mas nunca desistia e governava com a crença de que era possível fazer melhor pela sua terra. Depois virou-se para o ensino chegando a professor e investigador no Centro de Estudos e Investigação Aplicada e, mais tarde, chegando a coordenador científico do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica.

“A certa altura começaram a chamar-me o papa-cursos porque eu mesmo a trabalhar continuava a estudar. Estava sempre em qualquer lado onde pudesse aprender algo mais. Sinto uma necessidade grande de aprender. O meu pai dizia-me que a experiência teórica liga com a prática, mas se não soubermos o que fazer a teoria não diz nada”, confessava José Fidalgo a O MIRANTE. E lamentava que as pessoas hoje não tenham vontade e ânsia de saber, aprender e conhecer mais sobre o mundo em que vivem.

Dizia não ser viciado em trabalho mas começava os seus dias às 07h30 e só acabava já depois da uma da madrugada. “Mas gosto do que faço”, garantia. Vivia na Castanheira do Ribatejo e obrigá-lo a ir às compras era o pior que lhe podiam fazer. Estar com a família era a sua grande alegria e o xadrez o seu vício.

“Não fico chateado quando sou ultrapassado pelos mais novos. Não partilho essa ideia de que os mais velhos é que sabem tudo. Fui educado pelos meus pais, irmãos, filhos e agora estou a ser educado pelos meus netos. Estamos sempre a aprender”, afirmava.

“José Fidalgo era uma pessoa extraordinária”

Um pouco por todo o concelho de Vila Franca de Xira sucederam-se as manifestações de pesar pelo falecimento de José Fidalgo vindos de todos os quadrantes políticos e associativos. A Junta de Vila Franca de Xira colocou as bandeiras a meia haste e todas as assembleias de freguesia realizadas esta semana honraram José Fidalgo com um minuto de silêncio. A Câmara de Vila Franca de Xira vai também apresentar um voto de pesar na sua próxima reunião pública.

No funeral de José Fidalgo estiveram presentes apenas a família mais próxima e João Santos, presidente da Junta de Vila Franca de Xira, que mantinha uma forte amizade com José Fidalgo. Recorda-o como uma pessoa “extraordinária e única”. José Fidalgo foi cremado no cemitério da Póvoa de Santa Iria na tarde de 25 de Junho.

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