Presente na edição deste ano da Agroglobal, o presidente do Novo Banco, António Ramalho, disse a O MIRANTE, que o sector agrícola tem tido um bom comportamento mas que tem pela frente desafios difíceis, entre os quais o aumento dos custos de produção e a compressão das margens de lucro.

“Se perguntarmos aos agricultores, 62% estão preocupados com os custos de produção que aumentaram de uma forma brutal, com as subidas das “commodities” que afectam em muito essa base de produção. Curiosamente o segundo tema que mais preocupa os agricultores é o preço de mercado dos seus produtos, que não está a conseguir reflectir nos consumidores o aumento do custo das mercadorias. O que significa, em última instância, que está a comprimir margens”, explica. Para António Ramalho a situação é também má porque acontece numa altura em que se deveria estar a apostar no “Green Deal” - Pacto Ecológico Europeu, com nova investigação e muitos jovens a trazer àquele mercado cada vez mais eficiência e produtividade.

“A capacidade de resiliência durante o período da crise está agora a preocupar-me pela compressão das margens serem mais nefastas que noutros sectores. Este sector, apesar de ter um nível de exportação significativo, não deixa de ter de conviver com uma realidade muito para-europeia. E a Europa está toda a viver este drama. Custos de mercadoria mais elevados e uma política monetária que reduz a atracção da subida de preços. É o problema de saber até onde podemos comprimir as margens e como alteramos a política que temos até agora”, reflecte.

Apesar dos desafios, o presidente do Novo Banco diz que actualmente “o sector agrícola está a beneficiar de factores que podem ser positivos. Os modelos de distribuição são um bom exemplo: os produtos agrícolas tiveram mais importância do que aquilo que se pensava”.

“Só para dar uma ideia, 61% das vendas durante o período da pandemia em lojas físicas eram de produtos alimentares. Mas nas lojas online eram de 44%. Isto é uma transformação completa dos modelos de distribuição. As vendas dos produtos alimentares já estão 3% acima de 2019, de alguma maneira recuperou depressa. Na Europa estão 6% acima”. António Ramalho releva também um crescimento das importações e exportações, em relação a 2019, que começa a acontecer, e a sensação que tem de que o sector se tornou ainda mais eficiente porque, apesar de ter tido uma quebra de emprego maior que a indústria em geral, conseguiu fazer o que fez, com menos gente.

O que vai marcar a próxima década é o “Green Deal”

António Ramalho diz que, sendo o Novo Banco o segundo banco preferido dos agricultores, vai ter que se adaptar à nova realidade porque as próprias exigências de sustentabilidade do crédito e de enquadramento com novas exigências sociais, leva-o para sectores mais próximos da produção de bens essenciais. E realça a importância do “Green Deal”, o Pacto Ecológico Europeu para o sector agrícola.

“Estamos muito satisfeitos com os nossos empresários e com a maneira como responderam à pandemia. Estamos a trabalhar com eles nos novos projectos de investimento porque achamos que vai haver um novo desafio significativo com base nos projectos do “Green Deal”, mais até que nos projectos do PRR, que traz alguns subsistemas importantes mas que não são esmagadores. O “Green Deal” traz de facto um novo desafio que vai marcar a próxima década”, sublinha.