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Memórias da Mague em Alverca: uma empresa à frente do seu tempo
Mostra foi inaugurada por Alberto Mesquita, ele próprio um antigo trabalhador da empresa

Memórias da Mague em Alverca: uma empresa à frente do seu tempo

Quase trinta anos depois de ter fechado portas a memória industrial da Mague continua vincada em Alverca. Depois de décadas de pesquisa e recolha de materiais o núcleo museológico da cidade apresenta ao público uma exposição inédita.

Mais que uma empresa metalúrgica, a Mague de Alverca foi uma escola de vida onde se aprendiam os valores do trabalho, da luta, da superação e da família, num ambiente laboral décadas à frente do seu tempo. A opinião é deixada a O MIRANTE por vários antigos trabalhadores da empresa à margem da inauguração da exposição “Mague: Espaço de Memórias”, que abriu ao público no sábado, 2 de Outubro, e resulta de várias décadas de recolha de espólio sobre a empresa por parte do museu municipal.

Carlos Vieira Pardal é natural de Santo Estêvão, Benavente, e começou a trabalhar na Mague em 1956, naquela que era chamada de sala de risco, onde recebia os desenhos técnicos para detalhar peça a peça os componentes a produzir. “Trabalhei na empresa 40 anos, nunca estive numa empresa que desse tanto incentivo aos trabalhadores como eles davam. Tínhamos todo o apoio para estudar”, recorda a O MIRANTE. Carlos Pardal entrou na Mague com a quarta classe e saiu de lá com um curso técnico.

Os colegas António Marques e Constantino Pereira, ambos de Alverca, também recordam uma empresa que era uma escola de vida. António era desenhador e Constantino um dos muitos operários que davam vida às peças idealizadas nos estiradores. “Era um bom sítio para trabalhar e não nos faltava nada. Era das empresas mais avançadas do país à época, tanto a nível técnico como a nível pessoal e organizacional”, recordam, elogiando a entreajuda entre colegas e a camaradagem como uma das mais-valias. “Havia uma grande competência e profissionalismo, toda a gente se empenhava e tinha orgulho em tudo o que fazia”, contam.

As gruas e guindastes com as letras “Mague - Alverca” ainda hoje funcionam por todo o mundo. Um legado das mãos de gente como Carlos, António e Constantino. “Foi lá que aprendemos a ser homens”, afirmam sem hesitar. Dizem que o fim da empresa foi um duro golpe para a cidade mas também para o país e António defende que a queda do muro de Berlim, em Novembro de 1989, foi o primeiro prego no caixão da Mague. “Com a queda do bloco soviético apareceram países de Leste em que a mão de obra era mais barata que a nossa e tudo foi deslocalizado para lá. Isso tramou-nos”, lamenta.

“Malvarosa? Preferia a Mague”

Um dos rostos mais visíveis da Mague é Alberto Mesquita, presidente do município de Vila Franca de Xira, que foi desenhador projectista na empresa e da qual guarda saudades. Na abertura da exposição o autarca confessou querer ver a exposição inaugurada antes de deixar a política por ter um carinho especial pelas memórias que lá criou. “Foi durante mais de quatro décadas o motor económico e social de Alverca e quando fechou portas ainda tinha 600 trabalhadores. Mas chegámos a ser mais de três mil”, recordou.

Alberto Mesquita foi um dos trabalhadores que protestou em Lisboa contra o fecho da empresa. Ao extinto jornal A Capital chegou a dizer que temia pelos apetites imobiliários para os terrenos onde estava a empresa. Uma premonição que se concretizou em 1998 quando a Obriverca comprou os terrenos onde funcionava a Mague e ali construiu a Urbanização da Malvarosa. “Ainda hoje acredito que a empresa tinha condições para continuar a laborar. Preferia ter ali a empresa a trabalhar hoje do que aquela urbanização, disso não tenho dúvidas”, criticou.

A exposição tem entradas livres e está patente até 31 de Dezembro de 2022, em paralelo com uma outra alusiva a fotografias antigas de Alverca, que também foi inaugurada no mesmo dia. Está aberta de terça a domingo das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00. Encerra às segundas-feiras e feriados.

Constantino Pereira, Carlos Pardal e António Marques trabalharam na Mague durante décadas e ainda hoje lamentam o fim da empresa

Uma história com mais de quatro décadas

Em 1952 Moniz da Maia e Vaz Guedes abriram em Alverca uma oficina metalúrgica que em 1957 foi designada de Construções Metalo-Mecânicas Mague. Além de gruas e guindastes começaram também a produzir turbinas hidráulicas. Em 1959 o negócio foi alargado a turboalternadores e auxiliares para centrais eléctricas. O primeiro computador chegou à empresa em 1978.

O ponto de viragem é dado em 1987 com a oferta pública de 3 milhões de acções, compradas pela empresa nórdica ABB em 1990 que significaram a integração da Mague no grupo SENETE. Em 1993 a produção foi deslocalizada para o Leste europeu e em 1995 encerraram definitivamente todas as actividades que ainda restavam no espaço da Mague.

Memórias da Mague em Alverca: uma empresa à frente do seu tempo

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