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Ser vegetariano é um estilo de vida mas é preciso cuidado
Lia Rodrigues é vegetariana há cerca de cinco anos e conheceu o namorado, Vítor Gateira, no final do passado que também segue o mesmo estilo de alimentação

Ser vegetariano é um estilo de vida mas é preciso cuidado

Lia Rodrigues deixou de comer carne e peixe há cerca de cinco anos e garante ter sido a melhor opção que tomou. Susana Brites, nutricionista, aconcelha a planear com cuidado a dieta para não correr riscos. Uma reportagem a propósito do dia mundial do Vegetarianismo.

Lia Rodrigues não come carne há cerca de cinco anos mas o processo não foi imediato. Quando o médico lhe detectou ovários poliquisticos aconselhou-a a deixar de comer carnes vermelhas. Foi-lhe dito para optar pelas chamadas carnes brancas uma ou duas vezes por semana. Além disso, por causa do problema de saúde, teve que intensificar o exercício físico. Lia Rodrigues praticava diariamente desporto mas com a medicação que tomava era necessário caminhar ou correr pelo menos durante uma hora. Foi assim que se iniciou nos trails.

No espaço de dois meses deixou de comer carne e depois peixe. O problema de saúde foi ultrapassado e Lia Rodrigues iniciou um processo de reeducação alimentar que a tornou vegetariana, algo que nunca lhe tinha passado pela cabeça. “Tenho um casal amigo que é totalmente vegan e durante um jantar, há cerca de três anos, falaram-me nos benefícios dessa alimentação. Tudo melhorou a nível gástrico, intestinal, a digestão passou a ser feita muito mais rapidamente e passaram a dormir melhor. Experimentei durante uma semana e não voltei atrás”, explica a O MIRANTE.

Lia Rodrigues vive em Almeirim com os dois filhos, de 14 e 8 anos, e o seu afilhado. Os filhos comem carne e peixe e é a mãe quem cozinha e faz questão de não lhes impor nada. “Os meus filhos escolhem o que querem comer. Às vezes petiscam a minha comida quando gostam mas se querem carne ou peixe também cozinho. Não imponho nada a ninguém”, garante.

A única coisa de origem animal que consome são ovos, onde vai buscar muita proteína, e queijo sem lactose. Mas os ovos vêm de casa do seu namorado, Vítor Gateira, natural de uma aldeia próxima de Évora, e que também é vegetariano.

A única coisa vegetariana que detesta é seitan. Admite ter saudades de comer bacalhau com natas e canja feita pela mãe. O cheiro do frango assado também é tentador mas Lia garante que se mantém fiel à opção que tomou e não vacila. A comida que mais gosta é lasanha de legumes, feita pelo namorado, que garante cozinhar muito melhor do que ela.

Tem sido com o namorado, que conheceu em Novembro do ano passado durante o processo eleitoral da associação Trail Running Portugal, que Lia Rodrigues tem aprendido ainda mais coisas sobre ser vegetariano e sobre a sustentabilidade ambiental. Foi com Vítor que começou a reciclar. Lá em casa a água da chuva é aproveitada para regar as plantas e lavar o quintal. Os produtos de higiene e de cozinha são todos sustentáveis e já começou a comprar roupa vegan. Deixou de pintar o cabelo e as unhas.

A empresária confessa que decidiu ‘reiniciar’ a sua vida há cerca de cinco anos. Foi nessa altura que se mudou de Santarém para Almeirim e começou a mudança de hábitos alimentares. Diz ter sido o melhor que poderia ter feito. Apaixonada por botânica, possui dezenas de plantas em casa. É ali, junto da natureza, que encontra a paz e recupera energias do stress do dia-a-dia. “A nossa casa é o nosso templo e é lá que temos que nos sentir bem e em paz”, sublinha.

Deixar um planeta melhor para os nossos filhos

Lia Rodrigues garante que a comida vegetariana não fica mais cara. As compras são feitas em produtores locais ou mercados locais onde existe tudo o que procura. Lembra que nos tempos dos seus avós e bisavós comia-se carne e peixe uma ou duas vezes por semana. “Actualmente, a maioria das pessoas faz duas refeições de carne diárias. É insustentável e não faz bem ao organismo”, afirma, ressalvando que cada um faz a sua opção.

Durante as provas de trail em que participa leva suplementos e barras energéticas vegan. No final da prova, como quase todas as organizações disponibilizam comida feita à base de carne, Lia e o namorado levam a própria marmita.

Lia Rodrigues é dona da empresa D. Carochinha, que faz serviços de limpeza, trata de roupa, manutenção de piscinas, jardins, entre outros, e já só utiliza plástico reciclável e a lixívia é biológica. “Temos que ter todos a consciência e a preocupação de deixar um planeta melhor para os nossos filhos e netos. As alterações climáticas são mais do que evidentes e se não mudarmos o planeta vai tornar-se insustentável e não vai demorar muito tempo para que isso aconteça”, alerta.

Nem tudo o que é vegetariano pode ser considerado saudável

A nutricionista Susana Brites explica que a alimentação vegetariana tem vindo a ganhar adeptos podendo esta opção estar associada a convicções ambientais, éticas, religiosas ou de saúde. Em qualquer dieta de base vegetal podem surgir carências nutricionais, nomeadamente em vitaminas e minerais que o nosso organismo não produz e se encontram nos alimentos de origem animal, como é o caso da Vitamina B12.

“Esta vitamina é essencial para o nosso corpo e inexistente no reino vegetal. Por isso recomenda-se a sua suplementação para manter as reservas no organismo das pessoas que optam por uma dieta vegetariana ou vegan. Por vezes esta dieta também pode levar ao aumento do consumo de alimentos altamente industrializados e nutricionalmente pobres”, diz a nutricionista.

Susana Brites sublinha que nem tudo o que é vegetariano pode considerar-se saudável. “Existe no mercado uma grande variedade de produtos alimentares de origem vegetal bastante atractivos mas excessivamente processados, podendo conter na sua composição um excesso de gorduras, sal, açúcares com elevado valor energético”, clarifica.

Susana Brites refere que os portugueses comem mais carne do que deveriam. Segundo a Direcção Geral de Saúde (DGS) um adulto médio saudável não deveria consumir mais de 75-80 gramas por dia. A nutricionista diz que a relação entre dieta vegetariana e uma boa saúde pode estar associada ao facto destas pessoas ingerirem alimentos com pouca gordura saturada e ricos em fibra. Além disso, o consumo de alimentos vegetais parece estar associado a menor probabilidade de prevalência de doenças crónicas, como a doença cardiovascular, alguns tipos de cancro, diabetes e obesidade.

No entanto, seguir uma alimentação vegetariana não implica “forçosamente” melhor saúde. Susana Brites explica ser importante planear com cuidado a dieta para não correr o risco de ter um défice nutricional. “Mais e melhor saúde depende de um estilo de vida saudável onde a alimentação é um dos aspectos fundamentais”, sublinha.

Susana Brites, Nutricionista Clínica - Especialista em Obesidade e Emagrecimento (foto DR)
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