Materiais Diversos é exemplo de como a arte pode ser para todos
A 11ª edição do Festival Materiais Diversos tem como objectivo aproximar o público das artes procurando criar um espaço de encontro entre os vários intervenientes. O MIRANTE assistiu a uma conversa informal e a uma peça de teatro que contou com a presença de dezenas de pessoas na plateia.
O Festival Materiais Diversos está a decorrer até 17 de Outubro no Cartaxo, Alcanena e Minde. O principal objectivo da organização é promover o convívio enquanto se debate a importância das artes para o desenvolvimento da sociedade. O festival vai na 11ª edição e, segundo Elisabete Paiva, tem como principal propósito continuar a abrir mentalidades e imaginários de forma que não se entenda a arte como uma actividade elitista. Pelo contrário, deve estar disponível para todos os que quiserem experimentar e viver.
Elisabete Paiva é directora artística do Materiais Diversos e considera que a comunicação é uma ferramenta com extrema importância na cultura e nas artes. “A comunicação é pôr em comum o que é muito importante para ligar as pessoas à prática artística”, afirma a O MIRANTE. Na sua opinião, as boas estratégias de comunicação são absolutamente necessárias para aproximar as pessoas da cultura e para esbater a ideia que as artes são apenas para as elites.
Elisabete Paiva lamenta que não haja uma disponibilidade maior do Orçamento do Estado para o sector da comunicação e que se continue a desinvestir na cultura. “Nos moldes actuais não há condições para que a comunicação faça parte integrante das artes performativas, porque não há dinheiro para investir em profissionais de qualidade. Os governos tradicionalmente desvalorizam o sector da cultura, mas o actual tem exagerado”, salienta, sublinhando que as autarquias também têm um papel muito importante na promoção da cultura nos seus concelhos.
A directora artística assume ainda que os próprios artistas são responsáveis pelo desprezo dado ao seu sector, uma vez que não se insurgem, nem se unem, como deviam para reclamar de melhores condições para desenvolver os projectos que são sempre idealizados a pensar na comunidade.
UM FESTIVAL INOVADOR E INTERACTIVO
O Festival Materiais Diversos é composto por um conjunto variado de espectáculos, performances e instalações artísticas. As conversas, em jeito de tertúlia numa mesa comprida, colocam os oradores e a assistência a debaterem e trocarem ideias sobre a importância da comunicação no mundo das artes.
Na conferência “como comunicar quando falamos sobre cultura?” vários especialistas abordaram questões relacionadas com ferramentas e estratégias de comunicação, as diferenças e similaridades com o marketing e como se deve enquadrar os profissionais de comunicação na criação de um espectáculo. “Promover o convívio e o debate de ideias enriquece quem participa nestas iniciativas. Este festival está desenhado para falar de arte abertamente e sem escolher palavras promovendo a sensibilização das pessoas para esta actividade tão nobre”, afirma, Elisabete Paiva.
A peça de teatro “Palmira”, da autoria de Sara Duarte e Anabela Almeida, é um bom exemplo do conceito do Materiais Diversos. Aborda os preconceitos de ser mulher e a desigualdade de género que a sociedade continua a aceitar de forma leviana. “É um tema que faz parte do dia-a-dia de todas as pessoas e que deve ser escrutinado e não colocado de parte. Ao longo de uma hora dialogamos, recorrendo muita vez ao sarcasmo, sobre como é ser mulher num mundo de homens”, explicam.