Produzir um grande vinho é homenagear ao máximo a natureza
Antonina Barbosa começou o seu percurso profissional como cientista mas a vida levou-a para o mundo dos vinhos e apaixonou-se. Natural de Monção, divide a sua vida entre Almeirim, a terra onde nasceu e o Porto, onde vivem o marido e o filho. Passa muitas horas ao volante mas garante que o truque é não complicar, porque esta foi a vida que escolheu.
Antonina Barbosa queria ser cientista e nem a vinha que o seu pai possuía em casa, em Monção, distrito de Viana do Castelo, a seduziu em criança. Participava nas vindimas e pouco mais. Mas a vida encarregou-se de a levar para o mundo dos vinhos.
Licenciou-se em Bioquímica, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e a intenção era prosseguir o sonho de ser cientista. Quando terminou o curso, foi convidada pela Universidade Católica do Porto para um projecto de investigação em parceria com uma empresa de vinhos. “A minha função era tentar descobrir moléculas ainda desconhecidas que dão aromas aos vinhos”, recorda. Foi aí que a convidaram para trabalhar na empresa Falua, em 2004. Na altura estava indecisa entre avançar para o doutoramento ou optar pela vertente prática. Optou pela segunda hipótese.
Na Falua fez de tudo um pouco até chegar a directora-geral da empresa. Começou por ajudar o enólogo da empresa, tendo depois passado para o laboratório. Foi directora de qualidade, directora de produção, trabalhou na adega, passou para directora de enologia até chegar ao cargo que ocupa. “Foi aqui que cresci e como fui acumulando sempre os cargos estou por dentro de tudo”, explica a O MIRANTE.
Quando a Falua foi vendida ao grupo francês Roullier, em 2017, Antonina Barbosa ficou apenas como enóloga consultora mas trabalhava noutro projecto. Em 2019 o grupo convidou-a para desempenhar os cargos que actualmente ocupa. A Falua, que em 2020 celebrou 25 anos de existência, comprou uma adega de vinhos verdes em Monção e também adquiriu uma quinta de 25 hectares na mesma localidade.
Aos 44 anos a vida de Antonina Barbosa é uma correria e divide-se entre as adegas de Almeirim e Monção e a casa onde vivem o marido e o filho na Maia, distrito do Porto. A enóloga está habituada a estar dois ou três dias em Almeirim e depois seguir para o norte. “O truque é não complicar. Se por algum motivo me queixo, logo me lembro como sou uma privilegiada em fazer o que mais amo e o que escolhi. O meu marido é empresário e não poderia vir para Almeirim e quando o nosso filho nasceu quisemos criar um espaço para ele crescer e o mais acertado foi escolhermos o Porto”, garante.
Com um sorriso no rosto, admite que dentro do seu carro não lhe falta nada. Também aproveita as longas viagens que faz para trabalhar e adiantar serviço. Gosta de ir ao terreno, provar as uvas e decidir qual a melhor altura para começar a vindima, por exemplo. Confessa-se apaixonada pela vinha única que a Falua possui nos seus terrenos no Convento da Serra, no concelho de Almeirim, e que é composta por calhaus. O rio Tejo passava por aquele local há milhares de anos e os calhaus ficaram proporcionando um ambiente singular e impactante. “As características do terreno são completamente diferentes, logo o vinho é único. São de uma autenticidade que não encontramos noutro local e dá a tipicidade da zona da charneca”, realça.
“Não me incomoda ser uma mulher entre homens”
A trabalhar num mundo maioritariamente masculino, Antonina Barbosa não sente diferenças por estar rodeada de homens assim como não sente que a tratem de maneira diferente. “Hoje ainda é muito usual estar muitas vezes sozinha num meio só de homens, mas há 20 anos era muito pior. Como cresci com dois irmãos estou habituada. Não me incomoda ser uma mulher entre homens”, recorda.
A enóloga defende que produzir um grande vinho é homenagear a natureza ao máximo e levar o respeito para a adega e continuar na produção. “Os vinhos demoram tempo e temos que dar tempo ao tempo. Além disso, o factor humano conta muito. A equipa tem que estar muito motivada e gostar do que faz”, destaca. A empresa está cada vez mais preocupada com a sustentabilidade ambiental e a trabalhar para que os produtos consumam cada vez menos resíduos poluentes.
Em 2020 a Falua foi distinguida pelas revistas portuguesas da especialidade como Marca do Ano e Empresa do Ano, o que enche de orgulho a directora-geral e enóloga da empresa.