Consultas na rua no posto médico de Alcorochel
A única médica que presta serviço na unidade chega a atender utentes na rua porque não há quem abra a porta na hora do expediente. População queixa-se da falta de condições e avança com abaixo-assinado.
A população de Alcorochel, concelho de Torres Novas, está revoltada com as condições de acesso aos cuidados de saúde primários, devido à reforma de um médico de família e pela falta de uma funcionária para abrir a porta na hora do expediente, nos dias em que há consultas. A situação já levou a que a única médica afecta ao serviço tenha atendido utentes no passeio, porque não havia funcionários para abrir a unidade às 08h00. Os utentes lançaram um abaixo-assinado onde exigem ter um serviço médico e de atendimento de qualidade, que já reuniu mais de 300 assinaturas.
“É uma vergonha vir para o médico às 05h00 e estar a médica sentada [na rua] a passar as receitas, porque não há administrativa”, diz a O MIRANTE a utente Maria Santo. Paula Ramalho que, na sexta-feira, 8 de Outubro, foi tentar apanhar consulta na vez da mãe, que está acamada, acrescenta: “Muitas vezes ninguém tem conhecimento a que dias vem a médica e quando vem ninguém abre o posto e as pessoas não são atendidas”.
Na manhã em que O MIRANTE esteve no local a ouvir os utentes, a médica, Raquel Badilha, chegou de bicicleta antes da hora, tendo já mais de uma dezena de utentes à espera. Às 08h00, hora a que devia abrir o posto, não havia quem abrisse a porta. “Mais uma vez tivemos que esperar e só 08h40 abriram a porta, portanto a doutora perdeu 40 minutos do seu trabalho quando podia ter atendido quatro ou cinco pessoas”, lamenta em tom revoltado, Maria Alves.
A funcionária administrativa que esteve ao serviço nesse dia, Eduarda Sebastião, lamenta a O MIRANTE a situação e explica que está “sujeita ao transporte do centro de saúde” de Torres Novas. Além disso, “há falta de administrativos”, o que faz com que muitas vezes tenha que acudir a outras extensões de saúde.
ARS reconhece dificuldades na contratação
A Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo explica que na manhã em que a médica atendeu os doentes na rua “ocorreu um imprevisto com a assistente técnica que habitualmente presta serviço em Alcorochel”, acrescentando que assim que o agrupamento de centros de saúde tomou conhecimento foram realizadas inscrições dos utentes à distância e deslocalizado um assistente de outra unidade para aquela extensão de saúde.
Quanto à falta de médicos, a ARSLVT refere, em resposta a O MIRANTE que ainda não foi possível repor o quadro clínico depois de o médico que prestava serviço aos utentes da União de Freguesias de Brogueira, Parceiros de Igreja e Alcorochel se ter aposentado. “Durante este ano ocorreram muitas aposentações e exonerações de médicos de família e o número de novos especialistas que ocuparam vaga no concurso de acesso à carreira especial médica não foi suficiente para fazer face a todas as necessidades”, sustenta a mesma entidade, acrescentando que estão garantidos semanalmente três períodos de consulta (duas manhãs e uma tarde) nas extensões de Parceiros e Alcorochel.
Os utentes contrapõem dizendo que nem sempre é o que acontece e quando sabem que vai haver consulta, muitas vezes, vão pernoitar em frente ao posto na tentativa de conseguir marcação. Ficam de pé ou sentados no chão, sujeitos às condições climatéricas e nem sempre o esforço compensa. “Não há um banco nem um telheiro para que as pessoas, que vêm às três da manhã possam estar aqui”, lamenta Maria Alves, vincando que o cenário é “desumano” e que têm direito a ter “acesso a cuidados de saúde com condições”.