Elucubrações sobre o sentido da vida e as coisas sem sentido
Fenomenal Manuel Serra d’Aire
Aquela meia dúzia de horas em que houve um apagão das redes sociais levantou questões pertinentes e deixou muita gente à beira de um ataque de pânico. O mundo contemporâneo sem montras para publicitarmos as nossas existências não seria certamente o mesmo e muito jovem e menos jovem iria confrontar-se com a angústia de não saber o que fazer da vida.
Que seria dos atletas que se esfalfam a divulgar à Humanidade os quilómetros que correram ou pedalaram nesse dia; os exercícios específicos que praticaram para tornear os glúteos; as flexões e agachamentos que contaram para terem um corpinho de fazer inveja às resmas de amigos e amigas que têm nesse mundo virtual?
E que seria dos gastrónomos que não perdem uma oportunidade para nos lembrar como sabem comer e beber do bom e do melhor enquanto a gente saliva do outro lado do ecrã? E que seria das moçoilas e balzaquianas se de repente perdessem a vitrina onde exibem orgulhosas a tatuagem e o último biquíni numa qualquer estância balnear? E qual o prazer de viajar para paragens exóticas sem poder meter pirraça aos amigos? E onde é que a populaça maldizente iria descarregar o ódio que destila?
Se as redes sociais colapsassem, o sentido da vida, para muita gente, desaparecia com elas. Por isso, longa vida para elas e para a Internet. E, respondendo à tua questão, espero que os emails continuem a existir e que não tenhamos que voltar aos tempos das cartas, porque, com os atrasos constantes dos correios, corríamos o risco de esta mensagem só te chegar lá para o Natal.
O cabeça-de-lista do Chega à Câmara do Entroncamento, eleito vereador nas últimas eleições autárquicas, decidiu não tomar posse por razões que o mesmo atribui a algumas pessoas do partido dizendo que sofreu inclusivamente ameaças e coacção pelo meio.
Esta história cheira a esturro por diversas razões. A primeira é que o candidato do Chega - partido que num vídeo de campanha eleitoral dizia em exaltada berraria que ia fazer e acontecer caso elegesse alguém para a Câmara do Entroncamento - não parece ser daqueles que se deixam intimidar por ameaças não se sabe bem de quem nem porquê.
Por outro lado, sendo o Chega o “partido dos portugueses de bem”, como magistralmente o definiu o seu líder nacional André Ventura, não albergará com certeza gente que recorre a expedientes manhosos como a ameaça e a coacção para fazer valer os seus argumentos. E, muito menos, contra outros portugueses de bem. Isso são coisas próprias dos portugueses de mal ou de povos bárbaros.
No meio disto tudo, há que reconhecer que o Chega está a começar a ombrear com os grandes partidos nacionais, pelo menos no capítulo das guerrilhas internas e dos episódios rocambolescos que tornam a nossa política e os nossos políticos tão pitorescos. Haja animação!
Saudações cibernéticas do
Serafim das Neves