Faltam recursos humanos para apoiar crianças e jovens em risco
Tempo de espera para uma consulta de pedopsiquiatria no Hospital de Santarém é de mais de 100 dias.
Presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) do concelho do Cartaxo, Conceição Reis, que também é a coordenadora da área de Acção Social e Saúde da Câmara do Cartaxo, lamenta falta de recursos humanos para apoiar crianças e jovens em risco.
As consultas externas de pedopsiquiatria diminuíram 60% de 2018 para 2019 e o tempo de espera para uma consulta nesta especialidade é de mais de 100 dias no Hospital Distrital de Santarém. A informação foi dada pela presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) do concelho do Cartaxo, Conceição Reis, que também é a coordenadora da área de Acção Social e Saúde da Câmara do Cartaxo.
“Existe apenas um pedopsiquiatra no Hospital Distrital de Santarém, que é a coordenadora do serviço, o que torna impossível dar resposta aos nove concelhos da área de abrangência desta unidade hospitalar. Por mais boa vontade que haja faltam recursos humanos para dar a resposta necessária para apoiarmos as crianças e jovens em risco”, afirma durante o 8º Encontro de Intervenção Social do concelho do Cartaxo que decorreu na manhã de quinta-feira, 14 de Outubro, no auditório da Quinta das Pratas, no Cartaxo.
Conceição Reis informou ainda que, segundo um relatório anual, 16,3% das crianças e jovens sinalizadas pela CPCJ do concelho do Cartaxo têm comportamentos que afectam o seu próprio bem-estar como, por exemplo, consumo de álcool ou drogas ou ainda bullying. “É urgente pensar em respostas para colocar em prática uma prevenção que promova o acesso real ao tratamento e acompanhamento necessários e que neste momento não está a acontecer”, lamenta a presidente da CPCJ do Cartaxo.
“Os problemas de saúde mental são a principal causa de incapacidade”
A directora técnica da Farpa (Associação Familiares e Amigos do Doente Psicótico), Liliana Silva, que moderou o debate, sublinha que o apoio às crianças e jovens em risco tem sido precário por falta de recursos humanos que possam ajudar nesta área.
A pedopsiquiatra Lia Moreira Cruz explicou que 13% a 23% da população portuguesa sofre de algum problema de saúde mental e que 50% dessas doenças mentais crónicas começam na adolescência. “Os problemas de saúde mental são a principal causa de incapacidade e de um indivíduo ser autónomo. Além disso, o estigma de ter uma doença mental, infelizmente, ainda existe”, lamenta.
A médica, que é docente no Instituto CRIAP – instituição dedicada ao ensino especializado nas áreas da psicologia, terapia da fala, entre outros -, refere que durante a pandemia de Covid-19, sobretudo nos períodos de confinamento, a ansiedade aumentou muito nas crianças entre os 9 e 12 anos. “Todos os dias ouvíamos notícias de muitas mortes e esta é uma faixa etária que ainda está a aprender a relacionar-se com a morte. Foi difícil para muitos verem familiares, vizinhos a morrerem. A angústia da perda foi complicada de gerir e muitas crianças sofreram com tudo isto”, realça.
Lia Moreira Cruz alertou ainda para casos em que os pais não sabem lidar com os filhos no dia-a-dia e de como isso prejudica a relação familiar. “Nos casos em que os pais não têm capacidade de criar os filhos as crianças vão estar melhor longe dos pais. Deve ser o último recurso mas se for mais benéfico para a criança deve ser feito. As crianças têm que ter estabilidade emocional e psicológica”, sublinha.
Sinais de alerta para os pais
A médica deixa como sinais de alerta para os pais perceberem quando algo não está bem com o seu filho: comportamentos impulsivos; crises de agressividade e fúria; muito baixa auto-estima; ausência de objectivos de vida e repetidas tentativas de suicídio.
A procuradora do Ministério Público do Tribunal de Família e Menores de Santarém explica que surgem cada vez mais casos associados à saúde mental. Mónica Bracons afirma que também nos tribunais se constata falta de resposta dos serviços de saúde. “Aguardamos que seja marcada uma consulta de pedopsiquiatria durante meses. No entanto, o Hospital de Santarém tem tido o cuidado de marcar consultas com maior brevidade mas sentimos a falta de respostas para agilizar os processos”, conclui.