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Menopausa não tem de ser um martírio na vida da mulher
Fátima Antunes é médica ginecologista na clínica AS Médica em Santarém. A menopausa estragou os planos de Cristina Sérgio aumentar a família

Menopausa não tem de ser um martírio na vida da mulher

Cristina Sérgio queria aumentar a família quando a menopausa precoce a apanhou de surpresa. Quando essa fase da vida da mulher chega não há como pará-la, mas os sintomas podem ser atenuados, lembra a ginecologista Fátima Antunes, no Mês Mundial da Menopausa.

Cristina Sérgio enfrentou a menopausa mais cedo do que a maioria das mulheres, numa altura em que tentava concretizar o sonho de aumentar a família. Sem ter enfrentado os sintomas típicos que chegam com esta fase da vida, foram análises hormonais a confirmar que o seu ciclo reprodutivo tinha chegado ao fim. Tinha 32 anos, um filho de oito e uma vontade enorme de ser mãe pela segunda vez. O diagnóstico foi recebido com “surpresa e alguma revolta”, por quem estava longe de alcançar a idade média para a menopausa.

“Dizerem-me que estava em menopausa e que não iria conseguir ter mais filhos foi muito triste. Pensei na minha mãe, que passou por este ciclo aos cinquenta e tal anos, e perguntei-me: porquê a mim?”. Partilhar o diagnóstico com a família, ao invés de o transformar num tabu, “ajudou” a lidar com o que viria depois. As alterações de humor começaram a afectar a sua vida social, os afrontamentos apareceram para incomodar e a perda de cálcio nos ossos começou a ser um problema. “Comecei muito nova a ter dores nos ossos”, diz. A que mais a incomoda, agora aos 46 anos, vem da artrose na anca.

A menopausa surge em média cerca dos 51 anos quando a mulher está há um ano sem menstruar e representa uma falência ovárica irreversível. Há factores, como os genéticos, que podem influenciar a sua chegada mais precoce ou tardia, que “nada têm a ver com a idade da primeira menstruação (menarca), desmistifica a ginecologista Fátima Antunes, sublinhando que “não há duas mulheres [nem menopausas] iguais”.

“A menopausa não é o fim da vida sexual da mulher”

Depois de se render ao diagnóstico Cristina Sérgio, residente na Parreira, concelho da Chamusca, procurou ajuda médica para tentar viver a nova fase da sua vida com a melhor qualidade possível. Iniciou a terapia hormonal de substituição (THS), tratamento para aliviar os sintomas da menopausa, que pode fazer milagres. “Podemos controlar os sintomas, desde os afrontamentos, suores nocturnos às hemorragias surpresa [através de pílulas, dispositivo intrauterino, suplementos hormonais e vitamínicos]; só não podemos evitar a menopausa”, refere a ginecologista, reforçando a importância de continuar a ser mantida a vigilância nesta fase da vida para prevenir ou diagnosticar patologias o mais precocemente possível.

Enquanto profissional de saúde que reconhece as vantagens da terapêutica hormonal, Fátima Antunes alerta, contudo, que este método aumenta o risco de cancro da mama. Estima-se que em mil mulheres em dez anos surjam mais seis cancros da mama. Além disso, refere ainda, “há mulheres, como por exemplo as que sofreram embolia pulmonar ou têm cancro, que não podem fazer” estes tratamentos.

A maioria das mulheres já não se fecha em copas a tentar esconder esta fase de transição na sua vida, mas ainda há mitos que persistem à volta da menopausa. A perda total de líbido é um deles. “A líbido pode, de facto, ser afectada, mas a menopausa não é o fim da vida sexual da mulher. Há mulheres que aos 70 ou 80 anos têm uma vida sexual activa e gratificante”, nota Fátima Antunes, sem ignorar que a “secura vaginal”, um dos sintomas da menopausa que se deve à perda de hormonas femininas, neste caso o estrogénio, também pode ser atenuado com a THS.

A queda na produção hormonal também pode provocar alterações na imagem da mulher que baixam, consequentemente, a sua auto-estima. “Engordar, ter dificuldade em controlar o peso ou ficar com o corpo mais masculinizado” e, em consequência disso, a mulher pode sentir-se menos feminina e recear não despertar atracção no parceiro.

Congelar óvulos para não estragar os planos

São cada vez mais as mulheres que adiam a chegada da maternidade em prol da estabilidade financeira e profissional. Os motivos podem, até ser outros, mas o que é certo é que quanto mais se adia mais probabilidade há de insucesso. No entanto é possível acautelar o futuro através da vitrificação. Uma técnica de congelação rápida de óvulos que “faz com que a mulher não perca a sua capacidade reprodutora”, explica Fátima Antunes.

A ginecologista chama ainda à atenção para um dado que demonstra que antes de a mulher nascer as suas células germinativas (que podem gerar vida através da reprodução) já estão em decadência. “Às 22 semanas de vida intra-uterina atingem o seu máximo, cerca de sete milhões. Quando a mulher nasce caem para dois milhões e depois é sempre a baixar”, conclui.

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