Interacção entre cientistas e jornalistas é uma vitória
Personalidade do Ano
Miguel Castanho é Personalidade do Ano pelo trabalho, rigor e carácter de um homem nascido em Santarém que valoriza as suas raízes. Após a entrega do prémio atribuído por O MIRANTE o cientista elogiou o papel dos jornalistas que fizeram com que a ciência chegasse às pessoas e as levasse a lidar com a pandemia de uma forma exemplar.
A importância da interacção entre cientistas e jornalistas, o sentimento do que é ser-se de uma terra, as mais de duas mil vidas salvas com a vacinação e a certeza que a pandemia vai acabar. Estas foram as ideias-chave do discurso de Miguel Castanho, o cientista da área da bioquímica ou, se quisermos, a voz calma e serena que ajudou o país a entender a complexidade dos tempos de pandemia, distinguido por O MIRANTE como Personalidade do Ano.
Com um sentido de humor apurado e grande capacidade de comunicar Miguel Castanho atraiu a atenção da plateia, roubou-lhes aplausos e gargalhadas durante os nove minutos do discurso improvisado, mas carregado de mensagens. Destacou a interacção entre cientistas e jornalistas, que permitiu tornar a ciência mais clara e levar as pessoas a aderir à vacinação fazendo de Portugal um exemplo mundial. E vincou que cientistas e jornalistas têm de continuar a cultivar a proximidade e a confiança para que perdure, após a pandemia, a conciliação “entre a verdadeira ciência e verdadeiro jornalismo”.
“Portugal é motivo de orgulho pelo que conseguiu com a vacinação. E é muito maior do que termos orgulho num feito desportivo que alguém fez, é algo endógeno à nossa sociedade. Não foi Cristiano Ronaldo que se vacinou, foram nove milhões de ‘cristianos ronaldos’ que se vacinaram”, disse, acrescentando que o feito pôs o país nas bocas do mundo pelas melhores razões”.
As contas, continuou, são reais e fáceis de fazer: “estão 2.300 vidas poupadas até agora, que são menos 2.300 famílias enlutadas. Grande parte seriam pessoas mais idosas e hoje teríamos muitas crianças sem os seus avós”. E para esta realidade, vincou, contribuíram cientistas e jornalistas e é “isto que nos pode deixar felizes e dormir mais descansados”.
Em 2020 quando saiu para as bancas o jornal onde foi anunciado como a escolha dos jornalistas de O MIRANTE para Personalidade do Ano, Miguel Castanho lembrou a notícia mais importante daquela primeira página: “a vacinação em lares arranca em Mação com uma utente de cem anos. Esta é a grande vitória, terem conseguido passar uma mensagem que acabou por inspirar confiança na vacinação”.
O cientista referiu a importância da cerimónia se realizar presencialmente, mas também o facto de “se ter escolhido fazê-la no momento certo”. Porque, continuou, “apesar das limitações temos que ser inteligentes, não deixar de fazer, mas saber como fazer”. Depois fez uma analogia do futuro com uma fotografia que uma vez viu num restaurante num país que visitou em que os noivos sorriam felizes pelo seu casamento com todo o cenário à volta destruído por um tornado. “Eles sorriam porque tinham planos para o futuro apesar de o presente não lhes ter sido sorridente”. E fez votos para que “um dia voltemos todos mais fortes, se possível tão fortes quanto a oliveira milenar das Mouriscas que alguém plantou há três mil anos”. “A pandemia acabará e disso não tenho dúvida nenhuma”, concluiu.
“As pessoas de Lisboa e Porto não sabem o que é isto de ser da terra”
Miguel Castanho contou que um jornalista de uma rádio nacional lhe perguntou qual era a sensação de receber um prémio dado por um órgão de comunicação social da região “porque as pessoas de Lisboa e do Porto não sabem o que é isto de ter terra, de ser da terra”.
“Nós somos daqui, não estamos aqui. Quer eu quer O MIRANTE somos daqui, endogenamente. Eu já nasci cá, a minha família é de cá embora não tenha nascido cá”, disse, acrescentando que entre a plateia se encontrava o seu pai, a sua mãe e irmã a quem tudo deve e que o “fizeram nascer em Santarém”.
Miguel Castanho, nascido em Santarém há 54 anos, é cientista no Instituto de Medicina Molecular e professor catedrático de Bioquímica na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Trabalha no estudo de vírus e desenvolvimento de moléculas anti-virais. Nesta crise da pandemia, recorde-se, ganhou maior projecção mediática sendo presença regular nos meios de comunicação social.