Crianças mais tristes e dependentes por causa da pandemia
As Jornadas Sociais de Abrantes debateram o impacto da pandemia e as consequências do isolamento na saúde mental. A psicóloga Rita Francisco apresentou um estudo que demonstra que as crianças e jovens estão mais tristes, sentem-se mais sozinhos e estão mais dependentes dos pais.
O edifício Pirâmide, em Abrantes, foi palco de mais uma edição das Jornadas Sociais que, este ano, debateram o impacto da pandemia e as consequências do isolamento na saúde mental das pessoas, principalmente nas crianças, jovens e idosos. Rita Francisco, psicóloga e investigadora, apresentou, na sessão de abertura, que decorreu a 24 de Novembro, um estudo que demonstra que as crianças e jovens estão mais tristes, mais agitadas, preocupadas, entediadas, sentem-se mais sozinhas e estão mais dependentes dos pais. O estudo, iniciado em Março de 2020, durante o primeiro confinamento, teve uma amostragem significativa e uma metodologia que envolveu entrevistas a 450 pais.
Rita Francisco começou a sua intervenção, realizada por videoconferência, por afirmar que “ter saúde mental não é o mesmo que ter ausência de dor mental, mas sim conseguir realizar todo o seu potencial e contribuir para estabelecer relações fortes com as pessoas”.
A frase serviu de mote para a explicação do seu estudo e de como os dois confinamentos tiveram consequências na aquisição de competências e na formação dos jovens. O estudo verificou que, num universo de uma dezena de crianças, nove aumentaram o consumo da utilização de ecrãs. Em oposição, em cada dez crianças, sete diminuíram a prática de actividade física. O único aspecto que pode ser visto como positivo é o facto de as crianças, depois dos confinamentos, terem aumentado cerca de uma hora o tempo em que estão a dormir durante a noite, de 9,2 horas para 10 horas.
A investigadora referiu ainda que as crianças têm várias preocupações relativamente à pandemia, nomeadamente por desconhecimento em relação à matéria. No entanto, há um conjunto de anseios que se destacam e que perturbam o bem-estar psicológico das crianças. “No estudo que fizemos encontramos preocupações associadas ao medo da doença e da morte, ansiedade em relação à toma da vacina e muitas saudades da escola e dos amigos”, referiu.
Rita Francisco sublinhou que a postura dos pais é essencial para atenuar o impacto da pandemia na educação dos filhos e que devem estimular a participação em actividades sociais e aproveitarem da melhor forma as horas que os seus filhos passam em casa. Para isso, acrescenta, é necessário manter regras ao mesmo tempo que se é tolerante e afectuoso.
O debate de abertura das Jornadas Sociais de Abrantes teve como moderadora a jornalista Ana Geraldes e foi inaugurado pelo presidente do município, Manuel Valamatos. O autarca salientou o papel da iniciativa na comunidade uma vez que ajuda a promover a reflexão e a encontrar as ferramentas de trabalho necessárias para lidar com os casos sociais no concelho. O primeiro painel do evento contou com a presença de cerca de meia centena de pessoas que tiveram a oportunidade de colocarem questões sobre o tema.