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Filarmónica do Sardoal aposta na juventude para manter tradição com quase 160 anos
A Filarmónica União Sardoalense tem quase 160 anos e é a associação com mais história do concelho do Sardoal

Filarmónica do Sardoal aposta na juventude para manter tradição com quase 160 anos

A Filarmónica União Sardoalense é a associação com mais história no concelho do Sardoal e, quase 160 anos depois da sua fundação, continua a ser um espaço de convívio e aprendizagem. O MIRANTE foi conhecer os elementos que compõem a banda da colectividade que precisa de mais sangue novo para continuar a dar música à população.

A Filarmónica União Sardoalense (FUS) tem mais de século e meio de vida e é uma das associações que mais dinâmica imprime no concelho do Sardoal. Fundada em Agosto de 1862, com o nome de “Sociedade Philarmónica Sardoalense”, foi a primeira banda do concelho tendo precedido a “Sociedade Fraternidade Sardoalense”. Na gíria popular, as duas bandas eram conhecidas por “Música dos Carapaus” e “Música dos Ciganos”. As duas bandas uniram-se em 1911 para darem corpo a uma colectividade que tem sido um exemplo na formação de músicos no concelho.

César Grácio, empresário e presidente da Filarmónica há meia dúzia de anos, recebeu O MIRANTE na sede da associação para explicar o que é preciso para manter em actividade, durante tanto tempo, uma associação composta por dezenas de pessoas, de várias faixas etárias, e que realiza várias iniciativas por ano. Músico há cerca de quatro décadas, especialista em trompete, o dirigente conta que no Sardoal não existe família que não tenha um músico no activo. “Os sardoalenses têm uma ligação muito forte com esta banda porque são um povo que gosta de manter as tradições”, sublinha.

São vários os espectáculos que marcam o calendário anual da FUS, mas César Grácio considera que os mais importantes são os concertos de Natal e da Páscoa porque são iniciativas onde estão presentes todos os sardoalenses, inclusive os que vivem fora durante o ano. “Em 2019 tocámos no concerto de Natal no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Foi incrível, mas não há nada como tocar para as nossas gentes”, afirma.

O maestro da banda, Américo Lobato, concorda com o presidente e afirma a O MIRANTE que a preparação para os concertos é muito exigente, principalmente devido ao repertório ser muito vasto envolvendo obras musicais sinfónicas, outras clássicas e outras mais ecléticas. O maestro não tem dúvidas de que para conseguir manter os músicos motivados é preciso variar e inovar e por isso tocam arranjos de Xutos e Pontapés, Quinta do Bill, Abba, Queen ou Beach Boys, entre outros grupos históricos da música pop e rock.

UMA BANDA QUE APOSTA NA JUVENTUDE

A Filarmónica Sardoalense também tem uma escola de música, apoiada e financiada através de protocolos com o município, permitindo que os alunos possam frequentar aulas pagando apenas 12 euros por mês. O orçamento anual da colectividade depende dos concertos e actuações que realizam nas procissões, arruadas e festas nas aldeias.

Como os espéctaculos têm sido cada vez menos, situação que se agravou com a pandemia, César Grácio diz que existem muitas dificuldades para manter as condições desejáveis na banda. “Precisamos de adquirir instrumentos que custam entre os mil e 10 mil euros e que são taxados a 23% de IVA, como se fossem produtos de luxo. É uma realidade que as filarmónicas vivem e que coloca em causa a sua saúde financeira”, lamenta, acrescentando que as fardas também representam um gasto considerável, chegando a custar mais de 300 euros cada. “Há azares que são impossíveis de controlar. Meses antes da pandemia começar gastámos 10 mil euros em fardas que ficaram a ganhar pó dentro dos armários durante cerca de ano e meio”, sublinha.

A juventude é um dos factores que marca a diferença na banda e a maior garantia de futuro. Do total de 40 músicos, cerca de 15 têm menos de 18 anos. O maestro vinca que formar jovens para integrar a Filarmónica é a missão e o principal objectivo da escola de música. No entanto, Américo Lobato afirma que é cada vez mais difícil competir com o futebol e, sobretudo, os ecrãs que roubam quase todo o tempo livre aos jovens.

“É preciso criar condições para que os jovens queiram pertencer ao associativismo e trabalhar em prol da comunidade”, vinca o maestro anunciando que, a curto prazo, a direcção da FUS vai apostar na mudança da actual sede, situada na antiga escola primária, para instalações com melhores condições que ajudem a cativar mais pessoas para a associação.

A Filarmónica União Sardoalense é, sem dúvida, uma das instituições mais queridas da vila. Antigos presidentes de câmara e da junta fizeram parte da banda, sendo que o actual presidente da autarquia, Miguel Borges, foi o maestro que antecedeu Américo Lobato. “Somos uma colectividade que vive das famílias e para as famílias. Precisamos de massa crítica jovem para continuar a entreter os sardoalenses e a levar o nome do concelho a muito palcos do país”, refere.

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