Clube do Bom Retiro é um exemplo de associativismo local
O Grupo Recreativo e Cultural do Bom Retiro, em Vila Franca de Xira, celebra em Janeiro 46 anos ao serviço da comunidade e está a atravessar uma nova fase de vitalidade. Já há mais atletas do que a capacidade instalada e a nova presidente, Teresa Calçada, de 23 anos, tem muito amor à camisola.
Continuar a crescer de forma sustentada, manter as contas sólidas e captar novos atletas, servindo e colocando ao dispor da comunidade novas actividades desportivas, são os objectivos dos dirigentes do Grupo Recreativo e Cultural do Bom Retiro (GRCBR), bairro de Vila Franca de Xira.
O clube foi fundado em Janeiro de 1976 por um grupo de moradores daquele bairro que quis dinamizar o Bom Retiro e criar um ponto de encontro e de partilha para a comunidade. Esses fundadores - Joaquim Reis, Carlos Costeira, Carlos Alfredo, Júlio Teles, António Teles e José Madragoa - vão ser homenageados em breve pelos actuais dirigentes, pelo papel importante que tiveram no nascimento de um clube que hoje é uma referência da cidade, em particular na ginástica acrobática.
O GRCBR está a viver uma fase de grande dinamismo e apesar da pandemia o futuro parece sorrir-lhe em todas as frentes: está afastado o cenário de crise financeira que se temeu há uma década e hoje as contas estão certinhas e não há dívidas. Há mais atletas do que capacidade para os receber e na liderança está uma presidente com 23 anos provando que afinal ainda há esperança para o envolvimento dos jovens no associativismo (ver caixa).
Além da presidente, Teresa Calçada, a direcção é composta por Henrique Garcia, Romeu Lemos, João Henrique, Elsa Ferreira e Cristina Costa. Os órgãos sociais tomaram posse em 2019. Hoje o clube tem mais de 160 atletas em modalidades como o voleibol, taekwondo, jiu-jitsu, pilates, ioga, danças contemporâneas, flexigym, ginástica de formação e, claro, ginástica acrobática, a modalidade que mais pódios tem dado ao clube.
“Mesmo que só tenhamos dois atletas numa das modalidades abrimos a classe na mesma porque acima de tudo queremos servir as pessoas, a comunidade e o nosso bairro. Não estamos aqui para fazer dinheiro”, explicam os dirigentes, que elegem o apoio da câmara e da junta como fundamental para que o trabalho de proximidade continue a ser feito. “Não queremos verbas financeiras, preferimos que os apoios que nos dão sejam em equipamentos físicos para o treino dos nossos atletas”, confessam.
O GRCBR recebe atletas de toda a região, incluindo dos concelhos de Alenquer, Benavente e Arruda dos Vinhos. Está inserido num bairro social mas o estigma está cada vez mais quebrado. “Nunca tivemos problema nenhum ainda que haja quem continue a sentir isso. Não faz sentido”, notam.
O sonho de um novo pavilhão
Por falta de espaço o clube treina também no pavilhão da Escola Reynaldo dos Santos. Mas não é o cenário ideal. O sonho dos dirigentes era ver construído no bairro um pavilhão coberto que lhes pudesse dar condições para a prática das modalidades com todo o conforto para os atletas. “Há terrenos disponíveis no bairro, bastava a câmara estudar a possibilidade de os adquirir e a obra avançar. É um sonho antigo que continuamos a alimentar”, explicam.
O voleibol, que arrancou no clube há dois anos, está a ser um sucesso, já tem mais de meia centena de atletas e o clube já não consegue aceitar mais ninguém. “É uma pena mas estamos mesmo limitados de espaço”, referem os dirigentes.
É o amor ao clube e a missão social que têm no bairro que continua a motivar os responsáveis do clube. Nenhum tem ligações à política. São auxiliares de saúde, oficiais de justiça e vendedores de telecomunicações, por exemplo. Em comum têm o facto de, tanto eles como os fundadores, viverem no Bom Retiro. O clube tem actualmente duas centenas de sócios com as quotas em dia.
Uma presidente campeã
Teresa Calçada, farmacêutica, tem 23 anos, é natural de Vila Franca de Xira e foi com a camisola do GRCBR que alcançou os seus primeiros pódios incluindo o de campeã nacional de ginástica acrobática. Foi atleta durante sete anos e o gosto pela modalidade e o clube foi sempre aumentando. Tirou o curso de treinadora e agora também treina as atletas mais novas. Foi desafiada pela anterior direcção para ingressar nos corpos sociais. Depois, em 2019, foi convidada para ser presidente e aceitou.
“Aceitei porque é muito difícil arranjar pessoas que queiram vir para a direcção. É uma responsabilidade muito grande e ocupa imenso tempo. Tudo sem ser remunerado e por amor à camisola. É preciso gostar muito disto”, conta Teresa Calçada a O MIRANTE.
Diz que se sente entre família com os restantes dirigentes mas confessa que nem sempre é fácil perder noites entre a família e amigos para estar no clube. Mas com organização, diz, tudo é possível. “Tinha algum receio que não me levassem a sério por ser muito nova. Tivemos todos de aprender a ver a transição da atleta e treinadora para a dirigente. Mas já me habituei”, confessa.
Aos outros jovens Teresa deixa um recado: vale a pensa sair do sofá e abraçar as causas da comunidade. Ganha-se experiência, valores e amizades. O problema da juventude actual, dizem os dirigentes, é nem sempre estarem dispostos a dar de si sem receberem algo à troca. A presidente é a prova do contrário. “Acabamos por nos sentir muito bem em ajudar o clube que nos deu imensa felicidade”, conclui.