Virgínia Isidro é campeã nacional de pesca no rio
Junto às águas do rio Sorraia, em Benavente, a campeã nacional de pesca desportiva fala sobre a actividade que liberta a mente e ajuda a carregar baterias e também da falta de apoios para que a modalidade seja mais reconhecida.
Virgínia Isidro não nasceu filha de pescadores. Não achou a pesca fascinante embora acompanhasse o seu companheiro e pai das suas filhas em longos dias de pescaria. Mas aos 44 anos decidiu lançar o anzol ao rio incentivada por outra mulher. Tirou umas percas, depois um barbo. A partir daí nasceu a paixão e começou a treinar e a destacar-se na modalidade em campeonatos nacionais e mundiais. Actual campeã nacional de pesca desportiva com participação em cinco mundiais vai disputar o próximo, que se realiza em França em Agosto de 2022.
O MIRANTE foi ouvir a pescadora a falar da arte piscatória que se tornou num “vício que acalma a mente e que carrega energias”, numa manhã de Novembro junto às margens do rio Sorraia, em Benavente, vila onde vive e trabalha há 33 anos. Virgínia Isidro, 52 anos, treinada pelo seu companheiro e pescador Ernesto Isidro, trata os assuntos da pesca como qualquer homem porque, diz, “nem a pesca é só para homens nem é uma grande seca”.
Montar a cana, escolher o anzol e isco certos, fazer um lançamento seguro, conseguir afastar o peixe miúdo - porque as provas vencem-se ao peso - e puxar o peixe com calma quando a bóia afunda; tudo isso faz parte de um processo complexo e exigente no qual o género é insignificante. O que realmente importa é “ter bom material, muita técnica e boas condições” para se poder pescar. E se mais mulheres houvesse, diz, melhor seria para um desporto ainda dominado por homens em Portugal.
Ali junto às margens do rio que mal se consegue ver devido à vegetação, Virgínia Isidro conta que tem que se deslocar para outros concelhos do país para poder pescar. Umas vezes porque é benéfico o treino decorrer no local onde vai competir, outras porque mesmo que quisesse naquele rio não conseguia treinar. “As margens não estão limpas nem regularizadas, a água não mantém um nível estável e mal se consegue aceder ao rio”, afirma. Na região opta por pescar em Coruche e Alpiarça, onde há boas condições. Levanta-se às quatro da madrugada, carrega o equipamento e parte para mais de dez horas de pescaria. “Claro que rouba tempo, as minhas férias são passadas nos treinos. Mas quando se faz o que se gosta todo o esforço compensa”, diz.
“A pesca ainda não é vista como um desporto”
Funcionária da Câmara de Benavente há 28 anos, como assistente técnica, lamenta que a autarquia não invista mais na preservação do rio, um dos seus recursos naturais mais preciosos. Na opinião de Virgínia Isidro, “a pesca em Portugal ainda não é vista pela sociedade como um desporto”, nem ao nível de apoios nem de visibilidade nos órgãos de comunicação social. “Temos grandes pescadores campeões do mundo, mas ninguém ouve falar deles. Em países como Inglaterra, Itália e França é completamente diferente, há muito mais praticantes e quem viva da pesca enquanto desporto”, refere.
Virgínia Isidro, que representa actualmente a Trabucco em competições nacionais, já competiu pela Vega e pelo Benfica. O material que utiliza é comprado à marca a preço de custo. A Federação Portuguesa de Pesca Desportiva “apenas fornece o equipamento [vestuário] para os campeonatos do mundo”. Para se ter uma ideia, partilha, o preço de uma cana pode variar entre os dois mil e os quatro mil euros e um banco de apoio entre os 400 e mil euros.