uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

A opinião também tem um preço

Estamos a mil à hora para as eleições legislativas e com pressa de despacharmos as listas dos deputados que vão gerir os lobys instalados. Aparentemente vai mudar tudo de alto a baixo; na realidade vai ficar tudo na mesma; esta é só mais uma contribuição para discutirmos a região e os interesses instalados nos partidos, onde faltam líderes locais carismáticos e sobram artistas e mágicos dos negócios.

Cada vez que se realizam eleições temos oportunidade de olhar melhor para dentro das organizações partidárias e perceber a evolução da democracia no nosso país. Não é preciso morar em Lisboa, no Largo do Rato, sede do PS, ou na Rua de S. Caetano, sede do PSD, para sabermos o estado da Nação: os partidos mantêm uma máquina dirigente que se eterniza porque estão endividados, falidos e não podem entregar as suas contas nas mãos de pessoas que não as percebem nem querem perceber. E é perigoso tirar o poder num partido a um dirigente que usou todas as estratégias possíveis e imaginárias, à margem da lei, para financiar campanhas e ter dinheiro para as empresas que ajudam a ganhar eleições e a promover as imagens dos líderes.

A nível local e regional a escolha de deputados para as listas é outra oportunidade para vermos e avaliarmos o que representa ser deputado nos dias de hoje; nada evoluiu nas últimas décadas; a Assembleia da República é como um clube de futebol rico. O plantel principal tem meia centena de jogadores mas só 11 é que jogam. No máximo o treinador conta com 20 jogadores. Os outros 30 foram negociados para alimentarem os agentes, para pagar favores a outros clubes, para manterem uma estrutura pesada e pouco dinâmica e assim os dirigentes terem margem de manobra para as suas manigâncias.

Já sabemos que a CDU vai ter o António Filipe como cabeça-de-lista, um jovem promissor que certamente vai ajudar a lançar muitos novos dirigentes locais e regionais em defesa das regiões e contra o centralismo. Estou a fazer humor, como é evidente: António Filipe é mais do mesmo; em vez de estar a passar a pasta para gente mais jovem, e envolver novos dirigentes, está agarrado ao poder como uma lapa: nada que não conheçamos dos outros partidos.

O PSD distrital tem uma malapata contra o deputado Duarte Marques, de Mação, que é de longe, nos últimos anos, um dos melhores deputados da região independentemente dos partidos. É um deputado com opinião, que não foge às polémicas, que é detestado por alguns dirigentes dos partidos adversários que vêem nele um tipo que mete o dedo na ferida e sabe usar os seus conhecimentos para fazer sangue. Nunca convivi com Duarte Marques, nem me sentei à mesa com ele, mas não sou cego; ele é o político da região que faz abanar o sistema, que se põe do lado dos opositores, que sabe tratar os assuntos que alguns deputados nem sabem que existem. Sei do que falo: Duarte Marques já levou à Assembleia da República questões relacionadas com a lei da publicidade e a falta de cumprimento do Governo que envergonha a democracia e os governantes socialistas. Por isso é que ele é detestado pelos socialistas, e dirigentes do seu próprio partido; os socialistas acham que ele é terrorista; os seus camaradas acham que ele é tão bom a fazer política que é um perigo para a sobrevivência da espécie daqueles que são deputados como poderiam ser carne para canhão.

O Bloco de Esquerda, que nas eleições locais não consegue fazer campanha de jeito, como aconteceu no Entroncamento, onde o PSD renasceu das cinzas embora com a mesma bruxa de sempre, e o BE perdeu o seu vereador, também volta a apostar na divisão contra o centralismo do partido a partir de Lisboa. Mas o Bloco é um caso à parte. O partido ainda é metade UDP e outra metade melancia com presunto, para usar um termo que ouvi ontem numa palestra sobre José Saramago, o escritor da Azinhaga, essa terra desconhecida, de uma região que não está no mapa. JAE.

Mais Notícias

    A carregar...