Seriedade
As ideologias cegas e dogmáticas impedem o crescimento de Portugal privilegiando-se a manutenção do poder a todo o custo em detrimento do acto corajoso de governar.
O Orçamento de Estado para 2022 contemplava uma verbazita de 1.815 milhões de euros, em despesa excepcional, para ser entregue à excelsa CP. Em 2021 essa verba foi “apenas” de 70 milhões. Limpava-se – ou limpa-se - a CP do seu passivo e desculpava-se – ou vai desculpar-se…- olimpicamente, os desmandos de gestão, ocorridos ao longo de muitos anos, de nomeações discretas e silenciosas de pessoas que ninguém sabe quem são.
De acordo com o relatório de contas da CP, o valor da dívida financeira do grupo no final de 2020 situava-se em cerca de 2,1 mil milhões de euros.
Já a TAP recebeu no ano de 2020 a totalidade dos 1,2 mil milhões de euros em empréstimos do Estado. Dinheiro seu, caro leitor, dinheiro seu.
Com a periclitante aprovação do Plano de Reestruturação por parte da Comissão Europeia – cuidado, a ansiedade em excesso pode provocar ataques de pânico…-, a ajuda à TAP, em 2021 poderá totalizar 998 milhões de euros.
O ministro das Finanças, João Leão, adiantou numa entrevista que o Governo vai despejar mais cerca de mil milhões de euros na TAP em 2022 – ou 990 milhões!? -, a juntar às toneladas de dinheiro que já foram esbanjadas naquela transportadora.
Quanto à TAP estamos, então, para já, em presença de cerca de 3,2 mil milhões de euros apenas em três anos!
Para a CP, assistiremos, impávidos e serenos, a uma simples entrega de 1,8 mil milhões de euros.
O total destas quantias, perfaz, singelamente, cerca de 5 mil milhões de euros! Coisa pouca, num país cada vez mais pelintra.
Num país cada vez mais pobre e desanimado. Além de não querermos gerar riqueza, somos indigentes na utilização dos parcos recursos que temos. Não queremos estabelecer prioridades, recusamos a racionalidade e vivemos de esquemas, cunhas e sibilinas cumplicidades. As ideologias cegas e dogmáticas impedem o crescimento de Portugal, privilegiando-se a manutenção do poder a todo o custo, em detrimento do acto corajoso de governar.
Os mesmos que elogiam, em sábios artigos de opinião, os esquemas e as jogadas políticas estratégicas, são os mesmos que carpem mágoas e vertem lágrimas de crocodilo pelo desgoverno do país. Hipócritas!
Anunciam-se infinitos incentivos empresariais, em sucessivas cascatas de verborreia, sem que nunca ninguém monitorize e avalie a sua utilidade prática. Sorri-se com imaculadas alvas dentições, escondendo-se os nós apertados que se vão apertando nos pescoços de várias instituições em desespero.
Arregimentam-se 5 mil milhões de euros para pagar a óbvias falências que remuneram principescamente nomeações de flamantes e cinzentos gestores, mas não se pagam às empresas e instituições as dívidas que o Estado vai acumulando. E o representante do Estado é o Governo.
Sim, existem várias instituições no país e no distrito de Santarém que se prestaram a fazer cirurgias e outros actos médicos, em contrapartidas por contratos celebrados com o Ministério da Saúde, sem que este pague o que deve a tempo e horas: muitos milhares e milhares de euros! Claro que essas instituições têm depois de recorrer à banca para satisfazerem os seus compromissos, endividando-se dramaticamente, num ciclo infernal que conduz à desesperança e, quiçá, a um súbito óbito das mesmas e ao subsequente desemprego.
Já não é simples falta de vergonha e hipocrisia, mas é antes todo um país que assiste placidamente a esta falta de respeito por muita gente simples que diariamente luta por manter Portugal de pé.
Deve ser precisamente desta resiliência que uma Senhora Ministra falava há bem pouco tempo: resiliência nossa para aturar tanta intrujice e hipocrisia juntas!
P.N.Pimenta Braz.