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Tratar as varizes a tempo pode evitar problemas graves e aumenta a auto-estima
Sérgio Eufrásio é angiologista e cirurgião vascular no Hospital CUF Santarém onde trata varizes, uma doença que se não for tratada a tempo pode degenerar em situações graves

Tratar as varizes a tempo pode evitar problemas graves e aumenta a auto-estima

Sérgio Eufrásio, angiologista e cirurgião vascular no Hospital CUF Santarém, explica o que são as varizes e como podem ser tratadas.

As varizes são um problema de saúde que afecta uma franja da população que pode ir até aos 30%. As mulheres são as mais propensas a desenvolverem a doença que se não for tratada a tempo pode degenerar em situações graves que levam a ter que deixar de trabalhar por períodos prolongados. Há profissões como empregados de mesa, polícias, vigilantes, entre outras, em que o risco é maior e em que se aconselha a usar-se meias elásticas. Mas não umas meias quaisquer. Têm de ser adequadas à perna de cada pessoa. O médico Sérgio Eufrásio, angiologista e cirurgião vascular no Hospital CUF Santarém, diz que hoje as técnicas para tratar as varizes são menos invasivas e sem dor por isso não há razão para deixar prolongar as situações. Apesar de não ser de transmissão hereditária as pessoas que têm familiares com varizes têm mais propensão a terem também. Os sinais de alarme são o inchaço da perna no final do dia, o cansaço e a sensação de peso. Se a pele começar a ter um tom acastanhado então a situação já entrou numa fase mais complicada.

Há algum motivo em particular, mais propício ao aparecimento de varizes?

As varizes são um dos sinais mais frequentes da doença venosa crónica, que é uma doença com um longo período de evolução e muito prevalente na população. Pode atingir até 30% da população e é mais frequente nas mulheres. O facto de ser mulher é um factor de risco para o desenvolvimento da doença.

Há factores familiares que influenciem o aparecimento ou desenvolvimento da doença?

Não sendo uma doença genética, no sentido de uma transmissão hereditária garantida, há no entanto uma predisposição familiar ao desenvolvimento de varizes, de doença venosa, em situações em que um ou ambos os progenitores já tiveram a doença. O facto de o pai ou a mãe terem tido a doença aumenta em cerca de 50% o risco de se ter varizes. Se ambos tiveram varizes o risco aumenta para 70%. É muito comum os doentes referirem que é como um destino terem a doença porque já os pais ou outros familiares próximos tiveram.

O facto de evoluir lentamente faz com que as pessoas por vezes não liguem aos sinais de que estão a desenvolver a doença?

Normalmente a doença começa a manifestar-se por volta dos 30 anos, mas também pode ser antes e os sintomas mais comuns, e que muitas vezes são ignorados, são de uma sensação de peso, algum cansaço, desconforto no final do dia, uma certa inquietude nas pernas. Na população em geral há muitas vezes uma desvalorização porque os sintomas são atribuídos ao facto de poderem estar com mais trabalho e pensa-se que é normal as pernas estarem mais cansadas. Ou são atribuídos a problemas musculares.

Nas mulheres os sintomas são mais acentuados?

No caso das mulheres os sintomas são muito agravados com a gravidez, por exemplo pelo aumento do tamanho do útero, que causa alguma compressão sobre as veias e dificulta o retorno venoso.

Mas quais são os principais factores de risco para a população em geral?

As profissões em que as pessoas estão muito tempo em pé ou próximas de fontes de calor. A obesidade também é um factor de risco.

A maior parte das pessoas só procura ajuda quando os sintomas já são visíveis…

Se conseguirmos diagnosticar a doença em fase precoce também conseguimos iniciar o tratamento mais cedo e prevenir o agravamento da doença nas fases mais tardias, como o aparecimento de uma pele mais acastanhada, o aparecimento de úlceras ou até trombose venosa.

A doença venosa é provocada por quê?

É uma anomalia do funcionamento das veias. Ou seja, há uma dificuldade no retorno de sangue desde os membros inferiores até ao coração. Essa anomalia pode resultar ou na insuficiência das válvulas que estão dentro dessas veias, que estão danificadas, e as válvulas têm um sentido unidirecional, ou então existe alguma obstrução, uma trombose dentro da veia. Acontece em qualquer destes casos uma hipertensão venosa, ou seja, um acumular de sangue venoso nos membros inferiores que dá origem ao inchaço da perna no final do dia, ao cansaço e à sensação de peso.

As úlceras venosas são uma da forma mais grave da doença?

As úlceras resultam da hipertensão venosa que acaba por se traduzir numa inflamação crónica da pele, um espessamento da pele com a passagem do ferro, que faz parte da molécula que está no sangue para os tecidos e que dá o aspecto pigmentado da pele. A pele fica mais frágil e vai originar as úlceras que podem demorar meses ou até anos a cicatrizarem.

Há alguma forma de prevenir o aparecimento de varizes?

Há factores que não são mutáveis, como ser do sexo feminino ou a predisposição para ter a doença. Os outros que podem influenciar têm a ver com os hábitos saudáveis, perda de peso, exercício físico, sendo importante a caminhada ou corrida. Também se deve evitar estar muito tempo em pé na mesma posição e em profissões em que isso é necessário deve-se fazer intervalos em que se possa caminhar algum tempo. Há profissões em que, tendencialmente, sabemos que terão varizes de maior dimensão, como cabeleireiras, pessoas que trabalham atrás de um balcão ou em restaurantes em que estão muitas horas em pé a circular em espaços muito curtos. Vigilantes e polícias também são profissões de risco.

A utilização de meias elásticas nas pessoas que têm essas profissões ajuda?

As meias podem diminuir o reservatório venoso nas pernas. Se fizermos alguma compressão sobre as veias não permitimos que elas fiquem tão cheias e isso melhora os sinais sobretudo o inchaço da perna e a sensação de peso.

E pode ser qualquer meia de compressão?

Estas meias devem ser adquiridas em lojas da especialidade porque é necessário tirar medidas para adequar a meia à perna. Assistimos muitas vezes a doentes que dizem que têm alguém que lhes empresta meias ou que vai pedir a um familiar para ir comprar as meias e isso não se deve fazer. Nestes casos as pessoas deixam de usar as meias ao fim de pouco tempo porque ou elas são demasiado largas ou demasiado apertadas.

As varizes que não são tratadas a tempo podem trazer muitas complicações à vida pessoal e profissional das pessoas?

As situações em que há tromboses venosas ou hemorragia através das varizes, até estarem tratadas causam grande incapacidade e impedimento para o trabalho durante algum tempo. Os derrames, que são muito comuns, sobretudo nas mulheres, são inestéticos e responsáveis pela perda de alguma auto-estima. Mas são possíveis de tratar através da injecção de um líquido, sem necessidade de interromper a actividade laboral, através de método pouco invasivo e não dolorosos.

Qualquer altura é boa para tratar as varizes?

É possível tratar em qualquer altura do ano, no entanto sabemos que os sintomas são mais intensos na época de calor porque há mais vasodilatação. No Verão também há menos apetência a usar meias de compressão porque com as temperaturas que se fazem sentir em Portugal é difícil convencer os doentes a utilizá-las. O ideal será iniciar o tratamento no Inverno ou Outono.

Os tratamentos diferem do estado de evolução da doença.

A técnica de escleroterapia, vulgo secagem, tratamos vasos que têm um a três milímetros. Quando já há varizes visíveis o único tratamento é a cirurgia. Temos acompanhado o desenvolvimento de novas técnicas sem haver necessidade de fazer uma cisão maior. Com os novos métodos conseguimos introduzir um cateter na veia, gerar um calor que vai fibrosar a veia e ela fica destruída. Isto evita fazer a remoção da veia que é causa de hematomas, maior dor, mais tempo de recuperação. Neste caso o doente ao fim de semana e meia, duas semanas pode retomar o trabalho.

E é preciso ter cuidados como por exemplo o repouso?

Pretendemos desmistificar a necessidade de ficar em repouso. É benéfico que após a cirurgia os doentes façam pequenas caminhadas, por exemplo ir tomar café, comprar pão. Fazer um pequeno passeio na rua. Isso diminui o risco de trombose e promove uma recuperação mais rápida. Para além disso é necessária a contenção elástica, que é fundamental pelo menos nos dois primeiros meses.

Além da questão estética que dificuldades as pessoas podem ter?

Se não for tratada é causa de uma grande incapacidade ao longo da vida, quer pelo desconforto, com doentes que não conseguem ter os lençóis em cima da perna, quer pelas fases mais avançadas e atingem tromboflebite, por exemplo. Se conseguirmos diagnosticar e tratar a tempo conseguimos diminuir a probabilidade de ocorrerem situações de maior gravidade. Estamos a falar de uma doença crónica, ou seja, que não desaparece.

Tratar as varizes a tempo pode evitar problemas graves e aumenta a auto-estima

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