“É uma pena que Santarém esteja de costas voltadas para o Tejo”
Nuno Nunes é empresário há cerca de 20 anos quando decidiu criar a NCN – Automóveis em parceria com a esposa, Carla Nunes. A NCN Automóveis representa a Iveco há 17 anos e há cinco anos a sua empresa é responsável da marca no distrito de Santarém. Recentemente associou-se à marca New Holland para a área da agricultura. É apaixonado por carros e música. Diz ter sido muito bem acolhido em Santarém e espera terminar os seus dias nos Açores, o arquipélago da sua vida.
Estudei num seminário até ao 9º ano. Durante esse período equacionei se deveria seguir o caminho sacerdotal. Depressa percebi que não tinha vocação para ser padre. No seminário descobri a paixão pela música. Toquei viola e cheguei a integrar uma banda com amigos e tocámos em bares, mas nada profissional. Abandonei a experiência e estive 20 anos sem tocar. Em Santarém criei amizades no mundo da música. Conheci o Olavo Bilac, antigo vocalista dos Santos & Pecadores, que é um grande amigo e quando dou por mim estou em ensaios de música com ele. Tem sido muito bom. Depois de um dia de trabalho dá para descontrair. Há pouco tempo fui ao casamento de uma afilhada e o Olavo também esteve presente. Foi muito divertido.
Em criança abri um presente de Natal antes do tempo e fiquei sem prenda nesse ano. Tenho uma paixão por carros desde sempre. O meu pai comprou-me um carrinho de brincar, um Fiat 500, e escondeu o embrulho, como habitualmente, em cima do guarda-fatos. Abri a prenda antes do tempo e brincava com ele enquanto o meu pai trabalhava. Um dia deixei-o cair da varanda, parti-o e não houve prenda de Natal nesse ano. A partir daí disse que, se pudesse, um dia comprava um carro verdadeiro igual. Em 2018 consegui comprá-lo, pelas memórias criadas, mas não o utilizo muito. Costumo dizer que, se pudesse, tinha um carro de cada marca mas gosto de automóveis de origem italiana.
Fui militar da Força Aérea mas depressa percebi que não tinha asas para voar e desisti. O meu pai foi militar e quis seguir os seus passos, mas quando lá estive percebi que não era o que gostava. A actividade comercial sempre foi um bichinho para mim. Um dia comprei um carro e vendi-o logo de seguida. Percebi que era aquilo que gostava de fazer. Antes dos automóveis trabalhava na área da logística e estive em empresas multinacionais até abrir o meu próprio negócio, há cerca de 20 anos, em parceria com a minha esposa.
É muito arriscado ser empresário em Portugal. Pelas responsabilidades que o Estado nos obriga a actividade torna-se demasiado arriscada para o retorno que temos. A NCN Automóveis representa a Iveco há 17 anos e há cinco anos que somos responsáveis pelo distrito de Santarém. Recentemente associámo-nos à marca New Holland para a área da agricultura. Também trabalhamos nos distritos de Castelo Branco e Portalegre. Costumo dizer que há 20 anos que não tenho férias mas, como em tudo na vida, tem prós e contras. São muitas noites mal dormidas a pensar nas responsabilidades. Não são 28 funcionários mas sim 28 famílias, é uma responsabilidade acrescida.
Sinto-me um ribatejano de coração. Tive muita sorte quando cheguei para trabalhar em Santarém. Conheci pessoas que me apresentaram à sociedade e consegui introduzir-me rapidamente no meio. Fui muito bem acolhido. Viver em Santarém ou no interior do país é igual, as pessoas são de trato fácil. De Santarém ao Fundão são 190 quilómetros. São muitos quilómetros que faço por mês. Tenho ido a casa ao fim-de-semana porque sou mais preciso em Santarém. A minha esposa, Carla, trata da empresa no Fundão. Tenho dois filhos adolescentes e estar longe é um sacrifício muito grande para todos mas tem valido a pena. Gostava que os meus filhos dessem continuidade ao negócio que construímos mas queremos que sejam felizes e decidam por eles próprios.
Santarém está de costas voltadas para o Tejo e não tem sabido tirar partido do rio. No interior do país qualquer aldeia tem uma praia fluvial e é aproveitada. Aqui vou às Portas do Sol, que tem uma paisagem linda mas pouco mais. A zona histórica está degradada e as igrejas fechadas. A única coisa boa é a gastronomia. Santarém é um ponto estratégico do país. Comprei cá casa há dois anos e digo que comprei casa a meia hora de Lisboa. O concelho tem que saber tirar partido dessa vantagem. O distrito de Santarém é o coração da agricultura e é aqui que se fazem grandes negócios nessa área.
Sou o continental com mais espírito açoriano. Vou lá com muita frequência, sobretudo à ilha Terceira, onde tenho família. Tenho uma paixão por aquele arquipélago desde muito novo. Além do Fundão, é a minha terra, e criei raízes por lá. É naquela terra que pretendo viver a minha velhice. Sou aficionado pela tauromaquia por causa dos meus amigos açorianos. Gosto da festa e da sua envolvência.