Faleceu o empresário de Abrantes que começou a trabalhar aos 13 anos e nunca teve férias
Amândio Mendes da Silva faleceu aos 86 anos. O empresário natural de Alferrarede, no concelho de Abrantes, subiu a pulso na vida e construiu o grupo “Mendes – Transportes e Construções, SA”. Um homem com um percurso notável e que chegou a ganhar uma medalha de mérito municipal.
O empresário e fundador do grupo “Mendes – Transportes e Construções, SA”, Amândio Mendes da Silva, faleceu aos 86 anos. O funeral realizou-se na quarta-feira, 22 de Maio. Um dos pontos altos da sua carreira de empresário foi a entrega, em 2004, da medalha de mérito municipal económico de Abrantes por ter sido um “um exemplo de homem empreendedor, combativo e comprometido”.
Amândio Mendes da Silva começou a trabalhar nos transportes aos 13 anos, com seu pai, que era motorista numa empresa de distribuição de lenhas e pinhas em Lisboa. Entretanto o pai fundou um negócio e ele passou a tratar da escrita da empresa e das contas. Aos 17 anos foi preso por conduzir um camião sem ter carta. “Era domingo e fui beber um café. Fui mandado parar pela polícia que me levou logo para a esquadra. O meu pai foi-me lá buscar e saí da prisão no mesmo dia. Na segunda-feira fui responder. Naquele tempo havia mais moralidade. Não sou contra o regime antigo, de maneira nenhuma. Pelo contrário, acho é que isto não pode continuar como está”, referiu numa entrevista a O MIRANTE realizada em 2010, ano em que a Transportadora Mendes tinha mais de duas centenas de funcionários. “Tenho uma boa equipa e devo este crescimento a muitos amigos e clientes. Não foi a ambição de querer ser rico que me levou o negócio para a frente. Aliás, costumo dizer que sou o mais pobre cá da firma. Trabalho de noite e de dia, não tenho férias, ando nervoso, ando revoltado”, disse na entrevista.
Para Amândio Mendes da Silva nunca houve ligação entre as universidades e as empresas. “Os professores deviam ir às empresas para conhecer a realidade do mundo do trabalho e só depois deviam ir ensinar”, considerou.
Amândio Mendes da Silva nasceu em Lisboa mas foi viver para Alferrarede, no concelho de Abrantes, com apenas 12 anos, de onde não voltou a sair. Por isso sempre se considerou mais abrantino - “terra de boa gente” - do que lisboeta. “Durmo sem cortinas nas janelas e sou um bom companheiro do sol. Se o sol se levanta às cinco e meia da manhã, levanto-me também”, afirmou durante a conversa com O MIRANTE em 2010. No seu gabinete havia uma coisa que nunca podia faltar: a fotografia a preto e branco emoldurada do pai, António Mendes. “Quando tinha 13 anos fui com o meu pai vender um suíno ao mercado do Sardoal por duzentos escudos, para poder pagar uma letra. Ele ensinou-me a trabalhar e a dar valor ao trabalho. Pegou-me o vício de trabalhar. Gosto de andar com a cara destapada”, contou.