Joaquim Veríssimo Serrão queria ser recordado como uma pessoa tolerante

Em 2006 disse a O MIRANTE que tinha regressado à sua terra para viver últimos anos de vida

O Historiador Joaquim Veríssimo Serrão faleceu em Santarém, sua terra natal, no mesmo mês em que completou 95 anos. Desejava ser recordado como uma pessoa tolerante e aberta que amava profundamente a sua terra. Joaquim Veríssimo Serrão, filho de Joaquim Vicente Serrão, armazenista de mercearia de Sinterra, Tremês e de Adriana Veríssimo, nasceu em Santarém, no rés-do-chão do nº5 do Beco dos Agulheiros, como o próprio conta, num texto publicado na edição de 2 de Setembro de 1998, a propósito da mudança de instalações de O MIRANTE para a sua antiga casa de família.

“No dia 8 de Julho de 1925, pelas 16h30, vim ao mundo. Um valente pimpolho de quatro quilos e meio, como costumava dizer o médico assistente, Dr. Joaquim Mendes Pedroso da Costa (...) a meninice passei-a, pois, no Beco dos Agulheiros, entre a casa paterna no nº 5 e a dos avós Adriano e Claudina nos nºs 7 a 11. Foram muitos anos de uma sintonia verdadeiramente popular com a vizinhança”, escreveu. Depois do falecimento de sua mãe o Historiador nunca mais voltou a entrar na casa, apesar dos convite feitos, tanto pelo novo proprietário como por O MIRANTE.
“No dia 8 de Maio de 1940 tive o desgosto de perder a minha mãe, por quem tinha uma verdadeira adoração, após meio ano de sofrimento. Em Dezembro de 1942, quando meu Pai contraiu um novo casamento, com o sangue na guelra dos meus 17 anos recusei-
-me a viver na casa e fui instalar-me na pensão Rapideza. Estava a acabar o 7º ano do Liceu e com a esperança de em breve ir estudar para Coimbra. Deixei assim, nos fins de 1942, a casa do Beco dos Agulheiros onde nunca mais quis entrar. Fora o local onde vira morrer a mãe amada, pelo que não me era possível suportar a sua ausência”.
Em 2007, a propósito do prémio “Personalidade do Ano - Vida, que lhe foi atribuído por O MIRANTE, disse que estava preparado para morrer, embora desejasse que esse dia estivesse longe, e declarou o seu amor a Santarém.
“Quero ficar recordado como uma pessoa que fez sempre o bem. Que procurou dar-se com toda a gente, que foi sempre tolerante, aberta. Quero ficar considerado como um fervoroso amigo da minha terra e filho de Santarém”. Na cidade foi dado o seu nome a uma rua e foi-lhe erigida uma estátua.
Joaquim Veríssimo Serrão foi o primeiro presidente da comissão instaladora do Instituto Politécnico de Santarém, não conseguindo concretizar o objectivo de o transformar em universidade, culpando desse facto os governantes da época. Em 2011
foi-lhe atribuído o título de primeiro professor Honoris Causa da instituição.
Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi presidente da Academia Portuguesa da História, entre 1975 e 2006. Foi reitor da Universidade de Lisboa (1973), cargo de que foi exonerado, a seu pedido, em 1974.
Autor de uma vasta obra historiográfica, na qual avulta a sua História de Portugal, em 19 volumes, que terminou em 2011, Joaquim Veríssimo Serrão doou a Santarém a sua biblioteca particular com mais de 35.000 obras, livros e fontes de investigação utilizados ao longo da sua carreira de professor universitário e investigador e documentação manuscrita, quadros, telas, condecorações, moedas e ficheiros. Esse material foi a base para a constituição do Centro de Investigação Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão, inaugurado oficialmente a 25 de Maio de 2012.
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou morte de um “amigo de muitos anos”, salientando ainda que “deixou numerosos discípulos, em particular na Academia Portuguesa de História de que foi presidente”. A Câmara Municipal de Santarém declarou três dias de luto municipal. Ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou a morte do Historiador considerando que “foi autor de uma obra historiográfica de referência” e que formou “muitas gerações de Historiadores e investigadores”. Instituto Politécnico de Santarém decretou três dias de luto académico.

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