“O Homem por mais sorte que tenha nunca deve perder a sua humildade”

Joaquim Veríssimo Serrão recebeu o Prémio Personalidade do Ano Vida atribuído pela redacção de O MIRANTE. A cerimónia foi no Centro Cultural do Cartaxo, numa noite em que também foram Personalidades do Ano em outras áreas Cristina Branco, José Niza, Ilda David, Sérgio Silva, Ana Rente, Fátima Ferreira, Amorim Ribeiro Lopes, Martins Lopes, Vasco Cunha e Maria da Luz Rosinha. Eis uma parte do discurso de Joaquim Veríssimo Serrão que encantou e emocionou a plateia.
“Se a morte vier, já não tenho tanto medo dela. Esta foi uma noite para me encontrar comigo próprio, com os meus amigos, com aqueles que amo. Hoje sou um homem feliz”. As palavras de Joaquim Veríssimo Serrão, distinguido com o prémio Vida pelo Jornal O MIRANTE, encerraram em apoteose a segunda edição da cerimónia de entrega dos prémios que decorreu no Centro Cultural Município do Cartaxo na noite de quinta-feira, 8 de Fevereiro. O público que encheu a sala de espectáculos, para a atribuição dos prémios personalidades do ano 2006, aplaudiu de pé a consagração do académico e Historiador de 81 anos, natural de Santarém. O Historiador agradeceu o prémio confessando-se surpreso pela homenagem. “Quando estou sozinho nem acredito que tenho esta idade. Escrevo, leio, deito-me às dez da noite e acordo às seis da manhã. Tenho os hábitos antigos. Muito embora algumas partes da minha biografia não sejam exactas… Disseram que em França conheci umas mulheres… Em França estudei! Mesmo que tenha pecados na minha vida quem os não tem…”, referiu num momento de boa disposição fazendo soltar risos em toda a plateia. O Historiador confessou as origens modestas da família, o percurso como estudante e deixou conselhos ao público. “O homem por mais sorte que tenha na vida, por mais feitos que alcance ou aulas que dê nunca deve perder a sua humildade. Nascemos iguais, morremos iguais. O que nós temos é esperança de que a morte venha a transformar-se para nós num sentimento de eternidade: não morrer e deixar exemplo da seriedade que tivemos ao longo da vida”, disse o professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa que está a escrever as suas memórias. O professor nascido em 1925 em Santarém elogiou o director-geral de O MIRANTE. “Leio O MIRANTE todas as semanas quando me chega a casa e fico admirado. Como é que este senhor Joaquim António Emídio vem da sua Chamusca faz um jornal, transforma-o num semanário regional, mas depois vai-lhe dando impulso e cria actividade editorial. Sei que muitos o lêem em França e no Brasil. Esperam ansiosamente a chegada do jornal. Este homem - que transformou um jornal regional num jornal de dimensão nacional - é um homem amável e honesto que sonha para criar realidades”. Veríssimo Serrão aproveitou o discurso para louvar o trabalho dos autarcas da região e espantar-se pelo desenvolvimento que há 50 anos parecia tão longínquo. Desculpou-se pela longa aula de história e da vida e comparou-se à velha Nau Catrineta que muito tem para contar. Com o objectivo de amainar os homens. “Estar hoje aqui na presença de pessoas tão amigas é um dia ganho. Posso morrer de um dia para o outro”, rematou o Historiador distinguido com o prémio Príncipe das Astúrias em 1995, o primeiro português a receber esse galardão.
Texto publicado em 14 de Fevereiro de 2007