Sociedade | 24-02-2005 12:26

Voluntários da caridade

Nas paróquias da região há grupos de pessoas reunidas num movimento que se chama Cáritas e que tem por objectivo dar mais pão e esperança aos lares mais pobres. Distingue-se por nunca dar dinheiro. Entre 24 e 27 de Fevereiro vai promover um peditório nacional.Celeste Rato espera sentada numa cadeira de madeira à porta da sua casa no bairro 1º de Maio, em Tomar, pela chegada da carrinha branca da Cáritas. Quando chegam as duas voluntárias do grupo de caridade da igreja católica, dirige-se com a nora à porta lateral da viatura e carregam dois sacos de plástico com pão. O sustento das 18 bocas que tem a seu encargo, entre filhos, netos e genros, está assegurado. Todos os dias faz 30 litros de sopa, ou açorda, ou o que houver. Garante que ninguém passa fome “porque estas senhoras dão-nos uma grande ajuda”, diz com emoção enquanto vai pedindo que lhe arranjem uma casa para os filhos. Para que não tenham que dormir em divisões improvisadas ao fundo do quintal. Nalgumas camas dormem três ou quatro pessoas. Na sexta-feira, dia 18, o grupo da Cáritas de Tomar, com Maria Pinto ao volante e Luzia Caetano na distribuição, não conseguiu arranjar muitos alimentos, mas alguns quilos de pão, uns ovos e uns iogurtes vão sendo distribuídos conforme as necessidades. Uma mulher com uma criança pela mão pergunta se há leite para os filhos. “Hoje não, mas leve uns iogurtes…”, responde Luzia. As pessoas vão saindo das casas brancas, com portas e janelas verdes, todas iguais, e concentram-se ao pé da carrinha. A pobreza reflecte-se nas ruas esburacadas, nos canteiros de ervas secas, nas roupas velhas que a maioria dos habitantes enverga.Todos os dias, alguns dos 30 voluntários, com idades na casa dos 50 anos, vão a dois hipermercados da cidade recolher alimentos que são oferecidos pelas superfícies comerciais. Os produtos são distribuídos pelos lares carenciados de vários bairros da cidade. Charomela, Venda da Gaita, Palha Vã de Cima, Palhavã de Baixo, Bairro dos Pobres, bairro atrás do convento, Albardões, Nossa Senhora dos Anjos e os acampamentos de ciganos são os locais mais problemáticos. Ao todo são apoiadas 240 famílias. Mas, avisa a presidente da Cáritas da paróquia local, Túlia Sá Correia, os pobres estão a aumentar.Este é um dos 49 grupos que praticam a caridade e que estão a funcionar na diocese de Santarém. A Cáritas já existe há dezenas de anos, mas a capacidade de organização e a eficiência só começaram a ser conhecidas do público com a tragédia dos fogos na Chamusca, em Agosto de 2003. Foi o momento que deu maior visibilidade a esta estrutura de solidariedade, admite o padre Aníbal Vieira, responsável pelas Cáritas diocesana. Enquanto os políticos decidiam sobre os montantes a atribuir à Chamusca, num fundo de emergência, já a Caritas diocesana estava a avançar com a recuperação de duas casas ardidas. Isto é possível porque nestes grupos não há burocracias. Porque a comunidade sabe mobilizar-se para ajudar os que mais precisam. No âmbito de uma campanha de solidariedade, foram investidos 253.079 euros na restauração de habitações. Quase 29 mil euros foram aplicados na manutenção de postos de trabalho, com o pagamento de facturas de material de algumas pequenas empresas que sem matéria-prima não tinham condições para se manterem abertas. Na Cáritas não se dá dinheiro. A ajuda é sempre em géneros. Na área da diocese, que vai de Santarém a Tomar e de Rio Maior a Almeirim, a aposta neste ano de 2005 é o de fazer acções de formação para os grupos da Cáritas a nível paroquial. O objectivo é criar uma maior eficiência e ajudar cada vez mais pessoas necessitadas. De modo a que, como diz o padre Aníbal, “não falte o pão a uns e que os outros não se acomodem numa religiosidade sem caridade”.

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