Sociedade | 03-08-2005 11:31
Imigração brasileira faz disparar rituais de bruxaria
Os rituais de bruxaria, cujos vestígios têm vindo a ser descobertos nos pinhais da zona sul do distrito são afro-brasileiros e têm vindo a desenvolver-se devido ao aumento de imigrantes brasileiros. Quem o diz é o sociólogo Garrucho Martins, um estudioso daquele tipo de fenómenos. No entender do especialista estes são rituais de “macumba” e de “candomblé”, que juntam várias influências religiosas e de magia. No dia 19 de Julho foram descobertos vestígios de um ritual por Maria Santos, que reside perto da Mata do Estado, na freguesia de Marinhais, Salvaterra de Magos. No local estava um boneco de pano branco espetado com alfinetes de cabeça vermelha, acorrentado a uma placa de madeira com nove cadeados. Em seu redor arderam várias velas brancas. Foram também encontradas cruzes, meias luas, sal e um pó doce embebido em champanhe. Outros achados do género têm sido encontrados no lugar de Arados, Samora Correia, concelho de Benavente e no meio de uma herdade de Foros de Salvaterra. Nessa zona foi encontrada uma galinha morta espetada em vários locais e colocada sobre a fotografia de um casal. A ave estava rodeada por garrafas de bebidas alcoólicas e charutos. Para o sociólogo estas práticas apareceram em Portugal inicialmente nos grandes centros urbanos e tem vindo a expandir-se para as pequenas cidades e vilas. Os rituais decorrem perto do local onde o bruxo recebe as pessoas. A sensação de instabilidade social e profissional têm ajudado ao aumento da procura.Segundo o sociólogo, natural de Alpiarça e professor no Instituto Piaget, estes bruxos (designação que pode ser dada na generalidade às pessoas que se dedicam a práticas do sobrenatural) começaram por tentar uma profissão em Portugal, mas não tiveram sucesso. E recuperaram o que conheciam destes cultos animistas (da alma) para ganharem a vida. Garrucho Martins explica que a colocação no local de comida e bebidas serve para chamar os deuses para a floresta para irem banquetear-se. As velas que são colocadas acesas e que já provocaram dois incêndios no concelho de Salvaterra, servem para sinalizar o local sagrado, para que os deuses saibam onde está o banquete. E às vezes também são usadas para queimar objectos que estão associados a coisas negativas, a feitiços e que só podem ser anulados pegando-lhes fogo.Os rituais decorrem à noite, diz o sociólogo, porque quem os faz não quer ser visto. Aquelas práticas estão associadas a algum secretismo para funcionarem como algo fantástico, exótico, mágico. Decorrem muitas vezes em encruzilhadas e cruzamentos porque são locais considerados de indefinição. Zonas malditas. Quem recorre a estas práticas pertence sobretudo à classe média e média/alta. Enquanto por exemplo as videntes, próprias da cultura portuguesa, sempre estiveram ligadas ao povo camponês. No entender de Garrucho Martins os rituais afro-brasileiros “são formas de religiosidade de tal forma elaboradas que não ficam a dever nada a alguns movimentos religiosos conhecidos”. Estas práticas têm vindo a desenvolver-se por serem sincretismos religiosos. “São trabalhos de bricolage em que se vão buscar elementos a diversas formas de religiosidade para formar um todo”. É por isso que passam bem na classe média, que no entender de Garrucho Martins também é sincrética. “As pessoas já não são só católicos, ou protestantes, ou de outra confissão. Costumam dizer que têm a sua fé, mas no fundo juntam várias características das diferentes religiões”. O facto de serem práticas exóticas, associadas à magia e ao fantástico, aplicando conceitos mais bem aceites pelas pessoas com alguma instrução, como as energias (negativas e positivas), tem cativado a curiosidade dos portugueses. Tudo isto é ajudado também por alguma literatura que está na moda. Os livros do escritor brasileiro Paulo Coelho, as famosas aventuras de Harry Potter ou o Código Davinci.
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