Sociedade | 08-02-2009 08:08

Imagens de Cristo crucificado e ressuscitado geram polémica em igrejas de Tomar

As igrejas de Paialvo, Carrazede, Peralva, Charneca da Peralva e Curvaceiras, pertencentes à freguesia de Paialvo, Tomar, apresentam, neste momento, lado-a-lado as imagens de Cristo crucificado e de Cristo ressuscitado. Há perto de dois anos, o padre António Jesus Escudeiro, então pároco na freguesia, tomou a iniciativa de substituir as imagens e a ideia até nem foi muito contestada. Como O MIRANTE noticiou na altura, a controvérsia surgiu mais tarde quando o mesmo padre mandou retirar do interior dos templos imagens de Cristo na cruz. Os paroquianos reagiram com indignação pelo facto de não serem conhecidas situações idênticas no país ou até no estrangeiro. António Escudeiro, que foi pároco durante 49 anos, apenas permitia que as imagens de Cristo na cruz estivessem nos templos durante a Quaresma. Assim foi entre o início do segundo trimestre de 2007 e o dia 1 de Janeiro de 2008, altura em que se retirou para um lar. "A fé baseia-se na ressurreição, não acredito em Cristo morto", salientava o sacerdote que dizia não poder apresentar uma mentira e por isso Cristo crucificado não deveria estar exposto nos templos. Quando o padre Herlander Limão assumiu a paróquia de Paialvo, os membros da comissão da igreja voltaram a colocar as imagens de Cristo crucificado nas paredes das igrejas. Neste momento, em todas as capelas podem ser observadas ambas as imagens, embora as efígies de Cristo ressuscitado se destaquem pelas suas amplas dimensões.No domingo, 1 de Fevereiro, a igreja de Paialvo, Tomar, aguardava o regresso da procissão de Nossa Senhora da Purificação. Na pequena capela em obras de restauro encontrámos duas paroquianas com opiniões diferentes. Mécia Costa prefere ver o Cristo crucificado uma vez que representa “o sinal da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Segundo a paroquiana, as pessoas já estão mentalizadas mas no início custaram a aceitar a ideia. “Em Carrazede está um que parece uma pessoa, muito grande”, disse a O MIRANTE, considerando a ideia muito moderna para a sua mentalidade. Já Maria de Jesus disse que a imagem de Cristo crucificado não devia ser deitada fora mas deviam estar guardadas numa capelinha de parte. A paroquiana não tem dúvidas em afirmar que prefere ver a imagem de Nosso Senhor vivo. “Porque é que guardamos uma fotografia de uma pessoa de família que faleceu? Para a recordarmos viva”, defendeu. Já Emília Simões considera que as imagens se complementam. “Acho que um completa o outro porque não houve ressureição sem ter havido a morte primeiro”, defende.“As pessoas estão divididas. Umas gostam mais de uma imagem outras preferem a outra. Penso que, agora que a capela tem as duas, o problema está resolvido”, apontou a paroquiana. O padre Herlander Limão realça que a polémica é anterior à sua vinda para a paróquia e que as duas imagens podem conviver entre si. “Em todas as capelas existem imagens dos dois e assim vai continuar”, disse a O MIRANTE, referindo que não é sua intenção retirar quaisquer imagens dos templos. Na igreja Matriz da freguesia, em Carrazede, Herlander Limão devolveu para o trono do Altar-mor o Cristo Crucificado. A imagem do Cristo ressuscitado foi colocada à direita do altar. A decisão foi pacífica entre a população que considera poder haver uma "saudável convivência" entre ambas as imagens, tal como entre tantas outras de santos que existem na igreja. Na igreja das Curvaceiras, o Cristo crucificado voltou ao interior da capela mas é um enorme Cristo ressuscitado, uma imagem que custou 4 mil euros, que ocupa lugar de destaque que tem ao centro por trás do altar. Conceição Gaspar prefere a imagem de Cristo vivo. "Esta imagem é linda, tem luz, vida e esperança. Sinto este Cristo com uma figura e um olhar a quem podemos pedir alguma coisa. Na cruz representa dor e sofrimento”, aponta a paroquiana. “Sempre se viu Cristo com a cruz, não é agora que se vai mudar a tradição. Não se vê nenhuma Igreja que não tenha um Cristo crucificado”, defende por seu lado, Maria da Conceição Andrade.O Bispo de Santarém, D. Manuel Pelino Domingues aponta que na tradição da Igreja sempre teve e continua a ter lugar de honra a imagem de Cristo Crucificado. Reconhece que as duas representações se completam mas defende que é em Cristo na Cruz que se contempla a Paixão, Morte e Ressurreição.

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