Foi na Escola de Condução Tomé que Luís Vacas, surdo-mudo desde os dois anos e meio, foi preparado para fazer o exame de condução. Desde 28 de Julho que está habilitado a conduzir viaturas ligeiras. Belina Filipe, instrutora de condução da escola da Chamusca, foi quem o acompanhou, de forma dedicada,ao longo de cerca de um ano, desde Maio de 2010, quando ele se inscreveu na escola. Os gestos foram o principal veículo de comunicação entre ambos. Belina Filipe não tem qualquer curso de linguagem gestual nem a legislação o exige. A solução foi a gesticulação ditada pela experiência de vida e o recurso à caneta e ao papel para troca de mensagens. “Foi a mãe do Luís que veio cá pedir para que ajudássemos o filho a tirar a carta pois ele precisava dela para ser independente. A princípio recusei. Apesar de já ter tido alunos com deficiências físicas o caso do Luís era diferente. Ainda por cima ele nunca tinha tido contacto com a condução de um carro e nem sequer a palavra volante lhe era familiar”, conta a instrutora, salientando que o carácter divertido, cooperante e esforçado de Luís Vacas ajudou a que tudo corresse bem. Com ajuda de uma técnica de linguagem gestual de Riachos contratada para traduzir as aulas de código, Luís passou com distinção o primeiro teste em Fevereiro de 2011. Estava na hora de passar à prática. Foram necessárias apenas 52 aulas de condução. Primeiro na Chamusca, depois em Santarém e até na circular urbana da capital do Ribatejo. “O maior problema que encontrámos foi explicar ao Luís, dentro do automóvel, o que eu pretendia. Para onde virar, que velocidades engrenar, como circular numa rotunda e mudar de direcção. Não foi fácil”, recorda Belina Filipe com um sorriso.Luís Vacas está apto a conduzir qualquer veículo ligeiro, excepto veículos prioritários como ambulâncias ou carros de bombeiros. A sua atenção tem que ser redobrada. Os olhos não são apenas olhos mas olhos e ouvidos. Tem que ver o que não ouve. Com carta na mão desde 28 de Julho Luís Vacas não perdeu tempo e a 3 de Agosto comprou um carro. Na altura em que fizemos a reportagem contou que estava a ter alguns problemas quando se desloca de casa, na Carregueira, concelho da Chamusca, para o Eco-Parque do Relvão, onde trabalha. “É na subida que tem dificuldade em fazer o ponto de embraiagem e o carro vai muitas vezes abaixo, o que também lhe tem acontecido nos semáforos. Fez toda a aprendizagem num carro a gasóleo e comprou um carro a gasolina, que exige uma diferente sensibilidade entre acelerador e embraiagem”, explica Belina Filipe, enquanto Luís faz gestos. A instrutora confessa que o mais difícil ao longo do processo foi a inserção no trânsito e o facto de ele demorar a fazer algumas manobras mais do que os outros condutores. O mais fácil para Luís Vacas foi aprender a lidar com a caixa de velocidades. Orgulho e sentimento do dever cumprido são os sentimentos da instrutora. Belina Filipe considera ter sido um desafio muito interessante que mostra que, apesar das dificuldades, os objectivos difíceis podem ser superados. Quanto a Luís Vacas, depois da conversa com a reportagem de O MIRANTE e de uma voltinha ao quarteirão perto da escola, foi com Belina até à Carregueira para aperfeiçoar o ponto de embraiagem no carro novo.
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