Celtejo reclama 250 mil euros a ambientalista
Processo, com 90 páginas, é sustentado com imagens publicadas nas redes sociais e cópias de notícias de vários órgãos de comunicação social.
A empresa Celtejo instaurou um processo ao ambientalista Arlindo Marques, do movimento proTEJO, por este associar os episódios de poluição no Tejo à empresa, reclamando esta o pagamento de 250 mil euros por danos atentatórios do seu bom nome.
Em causa, segundo se pode ler no processo que a Celtejo - Empresa Celulose do Tejo, SA, instalada em Vila Velha de Rodão, Castelo Branco, instaurou a Arlindo Marques, guarda prisional de profissão e conhecido no distrito de Santarém como o "guardião do Tejo", estão "afirmações que têm por objectivo gerar na opinião pública a ideia de que a autora [do processo] é responsável, ou co-responsável, pela alegada poluição do rio Tejo".
O documento, entregue no Tribunal Judicial de Santarém, tem a data de 12 de Dezembro de 2017 e reclama do réu 250 mil euros acrescidos de juros de mora até integral pagamento para "compensar a autora pelos danos sofridos por causa da ofensa cometida".
O processo, com 90 páginas, é sustentado com imagens publicadas nas redes sociais e cópias de notícias de vários órgãos de comunicação social com denúncias e entrevistas do ambientalista que a Celtejo considera difamatórias.
"Ao longo dos últimos meses, o réu tem vindo a proferir, de forma reiterada e através de meios e plataformas que facilitam a sua divulgação, afirmações que atentam contra o bom nome, a credibilidade e o prestígio da autora", pode ler-se na acusação.
Tendo por objecto social a produção e comercialização de pastas celulósicas e seus derivados ou afins, a Celtejo afirma "orientar a sua actividade económica por critérios de sustentabilidade e preservação ambiental, bem como pela rigorosa certificação de qualidade".
O ambientalista disse estar "triste e indignado com este processo", tendo afirmado que o mesmo "pretende silenciar vozes incómodas num caso de autêntico terrorismo psicológico".
Segundo Arlindo Marques, "os casos de denúncia de situações de poluição têm aumentado de visibilidade graças ao trabalho de cidadania dos populares e do movimento proTEJO", tendo afirmado que "toda a gente vê, toda a gente sabe, que a poluição vem de lá", referindo-se a Vila Velha de Rodão.
"Para montante de Vila Velha de Rodão já não há aquela poluição, nada disto se passa, pelo que acho que é lamentável virem querer atacar um simples cidadão que está no exercício dos seus deveres e obrigações de cidadania. Não estou arrependido e vou continuar a denunciar estes casos de poluição, enquanto eles existirem", afirmou, tendo manifestado a "esperança de ainda ver o rio correr limpo".
"Vou defender-me, conto com o apoio de muita gente que está revoltada com este processo e acho que esta indemnização que me estão a pedir deviam ser eles a pagar. Não a mim, mas aos pescadores, que ficaram privados do seu ganha-pão, e por todos os prejuízos que têm causado em termos ambientais", concluiu.
Os primeiros apoios a Arlindo Marques chegaram através do porta-voz do Movimento pelo Tejo - proTEJO, tendo Paulo Constantino afirmado que o ambientalista "tem sido a voz e os olhos das populações ribeirinhas" e que a acusação "não tem sentido, sendo antes uma oportunidade para saber quem é quem na poluição do Tejo".
Também a Assembleia Municipal de Mação, município do distrito de Santarém, já se pronunciou sobre este processo, tendo aprovado por unanimidade uma moção na quarta-feira denominada "Arlindo Marques actuou como porta-voz de Mação" e que visa apoiar financeiramente a defesa judicial do ambientalista.
"Esta Assembleia Municipal solidariza-se com o Arlindo Consolado Marques, verdadeiro guardião do rio Tejo, que tem actuado como legítimo porta-voz da população do concelho de Mação e de todos aqueles que se preocupam com o rio Tejo. Os membros desta Assembleia Municipal consideram que uma acção contra Arlindo Consolado Marques é uma acção contra todos os cidadãos de Mação", lê-se no texto da moção daquele município ribeirinho.