Sociedade | 23-06-2019 07:00

A primeira mordoma da Festa dos Tabuleiros quase não tem tempo para dormir

A primeira mordoma da Festa dos Tabuleiros quase não tem tempo para dormir

Maria João Morais é a primeira mulher a dirigir a equipa que prepara o evento.

Maria João Morais, 60 anos, já dorme pouco mas nas últimas semanas dorme entre duas a três horas por noite e diz que é suficiente. “Costumo dizer que durmo rápido”, brinca. Concilia as aulas de História aos alunos do 7º ano e do Secundário na Escola Jácome Ratton, em Tomar, com o cargo de mordoma da Festa dos Tabuleiros, que assumiu o ano passado. Diz que nesta altura a vida pessoal é mais sacrificada mas em nome da festa vale a pena.

Quando o seu nome foi anunciado como a nova mordoma da Festa dos Tabuleiros sentiu preocupação e responsabilidade. “A Festa dos Tabuleiros tem uma importância muito grande a nível nacional e também já começa a ter a nível internacional. É uma festa que une todo o povo do concelho de Tomar, que ama a sua festa, que trabalha afincadamente, e uma pessoa tem sempre receio de falhar. Tem que haver uma grande coordenação e espírito de entreajuda para que tudo corra bem”, refere.

A professora de História, que já integrou a Comissão Central em várias festas dos Tabuleiros, realça que a candidatura da Festa dos Tabuleiros a Património Nacional está a ser ultimada e deve avançar em breve. O passo seguinte é a candidatura a Património Imaterial da UNESCO.

Não considera que ser a primeira mulher a desempenhar o cargo de mordomo da festa seja especial. “O papel que as mulheres desempenham actualmente na sociedade é igual ao dos homens. Foi com naturalidade que se escolheu uma mulher para o cargo”, diz. Admite, no entanto, que talvez tenha que mostrar o dobro por ser mulher. “A equipa que me acompanha na Comissão Central é formada só por homens e não tenho razões de queixa. Todos têm um cuidado extremo comigo e esse cuidado faz de nós uma equipa coesa. Ninguém me dificulta o trabalho e formamos uma boa equipa”, realça.

Diz que o mais difícil ainda está por vir, que é o desfile dos rapazes, a 30 de Junho, e o cortejo principal, a 7 de Julho. Até agora o mais complicado é procurar patrocínios, pois a festa é muito dispendiosa. O orçamento é de 400 mil euros, sendo que a Câmara de Tomar apoia com 200 mil euros. O restante conseguem-no através de patrocinadores que colaboram há vários anos e também com a população que ajuda sempre que elementos da comissão andam de porta em porta a pedir ajuda. “As pessoas ajudam a preparar a festa e ainda ajudam com dinheiro. A Festa dos Tabuleiros está tão enraizada na população que ninguém quer que nada falhe”, sublinha.

Maria João Morais conta a O MIRANTE que quando entrou para a Comissão de Festas começou a tirar notas e a apontar num caderno como era o protocolo da festa antigamente. Ouviu os mordomos mais antigos que transmitiram todas as tradições. Actualmente, seguem esses apontamentos e passam-nos aos elementos novos que integram a comissão. Nunca participou no desfile com o tabuleiro à cabeça e admite que essa é uma visão diferente da festa.

“Esta é a festa maior do nosso concelho e nem nos apercebemos do que ela engloba, sobretudo a nível económico. Traz muita gente a Tomar, a hotelaria está esgotada há vários meses, o que significa que ajuda muito a desenvolver a economia local. A Festa dos Tabuleiros é um motivo de orgulho e as pessoas gostam de receber e mostrar o que aqui se faz”, conclui.

Voluntários criam as flores de papel que vão ornamentar as ruas

Centenas de pessoas de todo o concelho envolvem-se nos preparativos da festa.

Na Escola Jácome Ratton a azáfama é grande com a feitura de flores para ornamentar o tecto da Rua dos Moinhos. Maria das Neves, 60 anos, é professora nessa escola e há vários anos que ajuda na criação de flores. No final do dia de trabalho junta-se numa das salas da escola com as suas colegas para darem continuidade ao trabalho. É habitual levarem papel para casa para continuarem a tarefa. “É a nossa festa maior e por isso damos o nosso contributo. Todos temos orgulho em participar na realização da festa. Temos sempre medo de não conseguir fazer flores suficientes para ornamentar a nossa rua, mas com esforço tudo se consegue”, afirma.

Numa das zonas de acesso interdito da escola estão espalhados pelo chão rolos de flores coloridas que já foram feitas e que estão prontas para serem colocadas. A mordoma confirma que nesta altura o stress é maior. “Estão todos a trabalhar, em todas as freguesias do concelho, para ter tudo pronto a tempo e horas. Dorme-se menos e há sempre o receio de não se conseguir mas vamos conseguir ter tudo pronto a tempo e horas”, conta Maria João Morais.
O Cortejo das Crianças vai contar com cerca de 1500 meninos e meninas e o Cortejo Principal, no domingo, 7 de Julho, vai ter 748 pares que vão desfilar pelas ruas da cidade, elas com o tabuleiro à cabeça. Nas ruas já é possível encontrar raparigas a treinar o equilíbrio com o tabuleiro na cabeça para que no grande dia nada falhe.

Júlia Ceríaco está a agrafar as flores no cordel. A professora, de 60 anos, não é de Tomar mas já vive na cidade há tantos anos que sente a festa como sendo sua. “Damos o nosso contributo para que tudo corra bem. É uma alegria imensa ajudar a que a festa corra o melhor possível”, diz, acrescentando que ajuda sempre consoante a sua disponibilidade. Júlia Ceríaco lamenta apenas que poderia haver mais gente a ajudar, o que facilitaria o trabalho.

Na Rua Amorim Rosa os comerciantes começaram a criar flores em Janeiro. Em Abril iniciaram a sua montagem nos placards. Num dos espaços comerciais da rua estão guardadas as milhares de flores que foram sendo feitas ao longo dos últimos meses. Tem que se percorrer o espaço com cuidado porque este está lotado com as flores já feitas. Suzete Ribeiro conta a O MIRANTE que os comerciantes e os colaboradores das lojas se juntam muitas vezes à noite para continuar a missão de criação de flores e montagem das mesmas.

“Estas últimas semanas precisávamos de mais tempo para fazermos tudo como pretendíamos. Temos 100 pessoas a trabalhar mas como a nossa rua é de grande dimensão exige muito trabalho. Gostaríamos que todos os moradores também participassem mas o número é reduzido”, refere. Suzete Ribeiro considera que só faz sentido a festa realizar-se de quatro em quatro anos. “Temos que nos esquecer do trabalho que tivemos para voltarmos a ter força para fazê-la de novo”, diz.

Saída de pendões e coroas do Espírito Santo anuncia que festa está a chegar

Quem visita Tomar já percebe que a cidade se prepara para receber a Festa dos Tabuleiros, o maior evento do concelho, que se realiza de quatro em quatro anos. Na manhã de domingo, 16 de Junho, realizou-se a sétima e última saída de pendões e coroas do Espírito Santo, representativas das freguesias do concelho. O objectivo é anunciar à população que a Festa dos Tabuleiros está a chegar. Nas varandas as colchas, a maioria em tons vermelhos, embelezam as casas. Em algumas ruas, onde o cortejo passou, foram colocados tapetes de flores, e coroas que simbolizam a festa.

A última saída de coroas partiu da Igreja da Misericórdia e percorreu a Rua da Infantaria até à Praça da República, onde se assistiu à missa na Igreja de São João Baptista. Com a igreja cheia, muitos dos elementos da Comissão de Festas, trajados a rigor – eles com calça preta, camisa branca e gravata vermelha e elas com saia preta e camisa branca – esperam cá fora. Os turistas que percorrem o centro histórico param para observar a agitação na praça. Alguns perguntam o que se passa e ficam curiosos por saber mais pormenores sobre a festa que entusiasma as gentes de Tomar.

A chegada da banda da Nabantina dá outro colorido à rua com o som da sua música. Perfilam-se na estrada, perto da estátua de Gualdim Pais, fundador da cidade, e aguardam pela saída dos pendões e coroas do interior da igreja. Os elementos da Comissão de Festas formam um cordão à porta da igreja para que o cortejo possa começar. Máquinas fotográficas e telemóveis elevam-se para os turistas registarem o momento. A Nabantina recomeça a tocar e marca o compasso do cortejo. Os moradores assistem na rua ou nas varandas e aplaudem a passagem. Alguns lançam papelinhos coloridos para o ar. De tempos a tempos ouvem-se foguetes até ao regresso do cortejo à Igreja da Misericórdia.

Maria João Morais diz que durante as sete saídas de coroas e pendões toda a Comissão de Festas, que integra mais de uma centena de elementos, foi sempre muito bem recebida pelas pessoas. “Fomos recebidos com muito carinho e muita alegria. Houve dias de muito calor e deram-nos água, sumos e petiscos porque o cortejo demora algumas horas. As pessoas vivem muito a festa e fazem questão de nos agradecer”, explica a mordoma da Festa dos Tabuleiros.

Bilhetes para assistir na bancada ao Cortejo dos Tabuleiros custam dez euros

Câmara Municipal de Tomar vai instalar ecrãs gigantes ao longo da cidade para os visitantes poderem assistir ao desfile.

Os bilhetes para assistir na bancada ao Cortejo dos Tabuleiros, o principal desfile da Festa dos Tabuleiros, que se realiza no dia 7 de Julho (domingo), vão custar dez euros cada. Vão ser 1204 lugares pagos em bancadas instaladas na Avenida Cândido Madureira. A proposta foi aprovada por unanimidade em sessão camarária.

A presidente da Câmara de Tomar, Anabela Freitas (PS), explicou que as bancadas, que vão ter cores diferenciadas, vão ser instaladas depois da Mata dos Sete Montes, junto à paragem de autocarros, do lado esquerdo e também do lado direito da avenida, em frente à Conzel e à Padaria Rosa. Em frente ao antigo hospital vão ser reservados lugares para pessoas com mobilidade reduzida e que utilizem cadeiras de rodas.

São quatro os espaços de bancadas com um total de 1204 lugares. Anabela Freitas referiu que os lugares escolhidos para a colocação das bancadas tiveram em conta a segurança do cortejo e dos visitantes. Os bilhetes podem ser adquiridos no site online ticketline e também na sede da Comissão Central, no edifício Vieira Guimarães.

Além das bancadas, vão ser instalados ecrãs gigantes pela cidade para transmitir o cortejo principal e a bênção dos tabuleiros, um dos momentos altos da festa e a que a maior parte dos visitantes não consegue assistir. Um dos ecrãs vai ficar junto à Casa dos Cubos e outro perto do edifício da ex-Junta de Santa Maria, virado para a Alameda 1 de Março. Existe ainda a possibilidade de ser colocado outro ecrã no quartel dos bombeiros.

A Festa dos Tabuleiros é o maior evento do concelho de Tomar e realiza-se de quatro em quatro anos. Como manda a tradição a festa só acontece se os munícipes se pronunciarem favoravelmente. Este ano, pela primeira vez, o mordomo da festa é uma mulher. É Maria João Morais quem tem a responsabilidade de coordenar os vários elementos da festa nomeadamente a construção de centenas de tabuleiros, confecção de flores e outros ornamentos, que vão colorir as ruas de Tomar e também os cortejos.

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