Sociedade | 07-08-2019 15:00

Câmara descarta expropriação e arrenda terreno do castro de Vila Nova de São Pedro

Câmara descarta expropriação e arrenda terreno do castro de Vila Nova de São Pedro
AZAMBUJA

Município de Azambuja pensou expropriar seis hectares de terreno onde se localiza o sítio arqueológico, mas optou por chegar a acordo com a proprietária.

A compra dos terrenos onde se situa o castro de Vila Nova de São Pedro, sítio arqueológico monumento nacional onde foi descoberto um povoado fortificado calcolítico com cerca de três milénios, andou durante duas décadas a ser negociada entre a Câmara de Azambuja e os proprietários daquelas parcelas. Três dos quatro proprietários concordaram finalmente em vender os terrenos à autarquia, mas Lila Botelho, dona da maior parcela, com seis hectares, apenas permitiu o arrendamento da sua propriedade. A Câmara de Azambuja passa agora a ser proprietária de grande parte dos terrenos e a gerir aquele local que está classificado como Monumento Nacional desde 1971.

O município optou por abandonar a intenção de expropriação, depois de conseguir negociar o arrendamento daquela parcela por 300 euros mensais e assinar um protocolo com Lila Botelho que autoriza a autarquia a tomar decisões a favor da valorização e manutenção do monumento. “Conseguimos chegar a bom porto e não houve necessidade de avançar com a expropriação”, situação que poderia gerar revolta junto da população da freguesia de Vila Nova de São Pedro, disse a O MIRANTE o presidente da câmara, Luís de Sousa.

O processo de expropriação do terreno foi colocado em cima da mesa pela Câmara de Azambuja. Em Maio de 2018, tal como O MIRANTE noticiou, Luís de Sousa admitiu durante uma assembleia municipal avançar com a expropriação, usando a figura da declaração de utilidade pública, caso a proprietária não voltasse atrás com a decisão de não vender o terreno. Lila Botelho já havia explicado a O MIRANTE que se recusava a vender o terreno herdado por promessa à sua mãe Felismina Ferreira.

Tecnologia dá a conhecer o passado

O castro, que continua a ser um dos sítios de referência a nível peninsular para o estudo do Calcolítico, nomeadamente na matéria dos povoados fortificados, conta agora com um painel informativo onde é possível a qualquer visitante, com a ajuda de um telemóvel, aceder a toda a informação disponível (no site vnsp.arqueologos.pt.) sobre o seu passado histórico e acompanhar os desenvolvimentos dos trabalhos arqueológicos.

À margem do Dia Aberto, realizado a 24 de Julho, com a população a chegar perto das escavações arqueológicas, a Câmara de Azambuja, a Junta de Freguesia da União de Freguesias de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa e a AAP - Associação dos Arqueólogos Portugueses assinaram ainda um acordo de cooperação que visa promover o estudo, preservação, conservação e divulgação do castro.

Com este acordo, a AAP compromete-se a realizar trabalhos de investigação, conservação, restauro e musealização do sítio arqueológico, trabalhos de limpeza na área contígua e a dinamizar e promover visitas ao castro e ao Museu Arqueológico do Carmo, onde se encontram depositados alguns dos materiais arqueológicos do sítio.

Ao município cabe a colocação de mobiliário urbano, marcar o percursso com sinalética informativa e de orientação, promover a criação de um centro interpretativo e, em parceria com a União de Freguesias, apoiar financeiramente as campanhas de Verão.

Castro faz parte da identidade do povo

Quem trabalhou nas campanhas de escavações arqueológicas entre os anos 50 e 60, no castro de Vila Nova de São Pedro não esquece a dureza do trabalho ao sol, mas acima de tudo a alegria de encontrar um artefacto milenar. É o caso das irmãs Lurdes Matias, de 81 anos, e Assilda Silva, de 84, que passavam os verões a crivar a terra que os homens escavavam. “Encontrámos agulhas em osso, contas de colares, placas de cerâmica, setas, um carneiro em carvão e um machado em cobre”, recorda Assilda sobre a campanha de 1951. Desde que foram retomadas as campanhas de Verão que as duas irmãs, nascidas em Vila Nova de São Pedro, sobem a colina de 100 metros de altitude para acompanhar de perto os trabalhos arqueológicos. “Esta é a nossa identidade, faz parte da nossa história e alegra-nos ver que voltaram a valorizar este sítio”, diz Assilda a O MIRANTE.

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