Sociedade | 22-09-2019 10:00

“A nossa geração também se interessou pelo ambiente mas os problemas continuam”

“A nossa geração também se interessou pelo ambiente mas os problemas continuam”
AMBIENTE
fotos DR Alexandra Forte, Maria Rosário Casola, Nuno Carvalho e Susana Vieira

Professores incentivam entusiasmo dos jovens mas alguns não escondem o pessimismo.

O famoso buraco na camada do ozono, escudo gasoso que protege a terra das radiações ultravioleta está a diminuir e de acordo com a comunidade científica uma cicatrização completa poderá acontecer antes de 2050 ou 2060 mas para tal é preciso terminar com a utilização dos gases poluentes e sensibilizar os mais novos para que não cometam os erros do passado.

Para perceber como se está a fazer essa sensibilização, O MIRANTE ouviu professores de Estudo do Meio e Ciências da Natureza desde o 1º ciclo do ensino básico até ao secundário.

Susana Vieira professora do 1º ciclo do ensino básico no Agrupamento de Escolas dos Templários, em Tomar, apercebe-se que as crianças se interessam cada vez mais pelos temas do ambiente.

“Fazem muitas perguntas, por exemplo, sobre as notícias dos incêndios e sabem dar valor ao ar que respiram”, afirma a professora, acrescentando que é também frequente denunciarem comportamentos errados que vêem em casa ou na rua.

“Uma das actividades que adoram é ir ao ecoponto separar e colocar o lixo. Estas crianças começam por criar hábitos em casa, pois é um divertimento para elas. Acredito que a solução para o problema da poluição pode estar nas novas gerações. Com a idade da minha filha mais nova, que tem 11 anos, nem sabia o que era reciclagem. Esta geração vai crescer mais consciente e cuidadora do planeta”, diz.

Nos primeiros anos de ensino é quando as crianças mais aprendem sobre o ambiente. É nessa altura que estudam o ciclo da água ou a preservação da camada de ozono. A professora tenta corresponder ao interesse dos seus alunos o melhor que consegue. “Não chega o manual, é necessário observar, experimentar e realizar experiências em aulas práticas”, sublinha.

Nuno Carvalho, professor do 2º ciclo de Matemática e Ciências da Natureza na EB de Azambuja não se entusiasma por aí além e fala com algum desencanto. “Nós também já fomos a nova geração e os problemas não se resolveram”, afirma o professor que defende que as coisas só mudam com uma decisão mundial e política.

“Começou-se a falar que o planeta está a aquecer e agora parece que se nota de facto isso. Os alunos notam que as estações do ano já não são o que eram e talvez a proximidade e os impactes dos problemas ambientais que estão a ser mais sentidos levem esta nova geração a adoptar outros comportamentos mas penso que a solução passará sempre por decisões políticas antes de passar por cada um deles”, remata.

Ligado ao ensino há duas décadas, Nuno Carvalho refere que o programa de Ciências da Natureza se tem mantido o mesmo há vários anos a nível de conteúdo, mas congratula-se com alterações importantes ao nível da organização. “Enquanto há uns anos se começava por estudar os animais, depois as plantas e só no final se abordava o tema do ambiente e dos recursos disponíveis na natureza, agora aborda-se a água, o solo e o ar logo no início do ano”.

O docente realça o facto de, no 5º e 6º ano se passar a ideia de que os recursos presentes na natureza são finitos e de que as nossas acções têm influência nos níveis de poluição. Também se abordam as causas e consequências da poluição e os comportamentos que se devem adoptar, como o uso de energias renováveis em detrimento dos combustíveis fósseis.

“Na EB de Azambuja os alunos participam no projecto Eco Escola que lhes possibilita visitas a locais como a ValorSul - Sistema de tratamento de resíduos domésticos. São visitas que despertam nos alunos mais interesse e contribuem para reter melhor a informação”, refere.

Maior consciência dos problemas pode não gerar soluções

A necessidade de preservação da camada de ozono também é bem conhecida dos jovens estudantes de Física e Química do 3º ciclo, garante Maria Alexandra Forte, professora da disciplina há 22 anos no Agrupamento de Escolas Doutor Ginestal Machado, em Santarém.

No 7º, 8º e 9º anos os alunos aprofundam a importância da reciclagem e da preservação das matérias-primas, assim como a diferença entre energias renováveis e não renováveis e as respectivas consequências na sustentabilidade do planeta. A mensagem é passada em sala de aula, através dos manuais escolares, mas sobretudo em projectos no âmbito do desenvolvimento sustentável.

“Com estas idades os jovens já desenvolveram a consciência da importância da preservação do ambiente e de como é necessário garantir qualidade de vida às gerações futuras”, defende a docente.

Mais céptica é a sua colega Maria do Rosário Casola, que dá aulas no ensino secundário no Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, de Mação. Professora há 30 anos, duvida que a solução para os problemas ambientais esteja na nova geração, embora aceite que esta está mais consciente porque sente na pele os efeitos da poluição. Essa consciencialização tem-se revelado de várias formas. As que têm tido maior visibilidade foram as manifestações de estudantes em defesa do ambiente, inspiradas pela jovem activista sueca Greta Thunberg.

No ensino secundário introduziu-se uma nova modalidade no método de ensino em sala que inclui a análise de textos científicos, a discussão dos mesmos e o debate. Aborda-se a poluição, as suas causas, consequências e soluções e a dicotomia entre crescimento demográfico e sustentabilidade.

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