Sociedade | 01-12-2019 15:00

Neta de José Saramago emociona-se em homenagem ao avô na Azinhaga

Neta de José Saramago emociona-se em homenagem ao avô na Azinhaga

Ana Saramago participou na iniciativa “Cem oliveiras para Saramago”, que marcou o arranque das comemorações do centenário do nascimento do escritor, que se celebra em 2022.

A neta de José Saramago, Ana Saramago, recordou numa conversa com O MIRANTE que teve uma relação tardia com o avô, uma vez que residia na Madeira. Ainda assim, a distância geográfica não impediu de terem uma ligação forte. “A idade de ambos permitiu termos discussões maduras sobre as causas que ele defendia, como o respeito pelos direitos humanos, o sabermos ouvir e o conselho que gostava de deixar: à medida de cada um, contribuirmos para um mundo melhor. Absorvi muito dos seus ensinamentos. Sou uma pessoa melhor graças ao contacto que tive com ele”, recordou.

As declarações foram feitas durante uma homenagem feita ao escritor, que deu o arranque das comemorações dos 100 anos do seu aniversário, que se celebra no dia 16 de Novembro de 2022. “Cem oliveiras para Saramago” é o nome da iniciativa que tem por objectivo plantar 100 oliveiras nas ruas da Azinhaga até essa data. As primeiras 27 foram plantadas na sexta-feira, 22 de Novembro, na rua principal da aldeia, perto da rotunda da Locomóvel.

A neta do Nobel da Literatura defende que não são as condições em que se nasce e cresce que impedem que as pessoas ganhem dimensão e a história de vida do seu avô conta isso mesmo. Mas admite que “o improvável aconteceu na Azinhaga”. Um conjunto de improbabilidades, tal como lhe chama, que não faziam adivinhar o que viria a acontecer.

“Mais do que pensar que foi um milagre, deve-se pensar que é possível e tem que se querer muito. Apesar do contexto de onde veio, com toda a pobreza associada naquela altura, conseguiu chegar ao auge de ser Prémio Nobel da Literatura”, sublinhou Ana Saramago. “Penso que deve servir de exemplo para os dias de hoje em que tudo é muito mais fácil. Hoje temos a Internet e outras tecnologias. No tempo do meu avô só havia as bibliotecas. E foi com grande vontade de saber mais e fazer mais que chegou onde chegou”, aludiu.

Ana Saramago tem fortes ligações com a Azinhaga, onde se desloca muitas vezes, mas pretende fortalecer ainda mais esses laços. “Estão aqui as minhas raízes. Venho aqui muitas vezes e sinto-me muito bem cá”, apontou. Isso mesmo é visível com a relação de proximidade que tem, quer com Vítor Guia, ex-presidente da Junta de Freguesia de Azinhaga, quer com o actual autarca, Daniel Romão.

Azinhaga oferece 100 oliveiras a Saramago

“Cem oliveiras para Saramago” é o nome da iniciativa que a Fundação José Saramago, em conjunto com a Junta de Freguesia de Azinhaga e a Câmara da Golegã vão promover até à data da celebração do centenário do escritor. Ao longo dos três anos serão plantadas as restantes 73 oliveiras, em diferentes locais da Azinhaga.

As primeiras 27 oliveiras foram oferecidas por Manuel Coimbra, um produtor local, e as restantes 73 serão plantadas em diferentes datas e locais da Azinhaga, até 2022. As primeiras 27 localizam-se perto da casa dos avós de José Saramago, Jerónimo e Josefa.

Ana Saramago refere que esta iniciativa pretende homenagear o avô mas não só. O objectivo é também captar o turista de cultura. “Há cada vez mais turistas que se deslocam por motivos culturais e este é um exemplo de como se pode enriquecer uma pequena aldeia para captar a atenção deste público”, referiu.

Além do nome do avô, Ana Saramago deu ainda o exemplo do fotógrafo Carlos Relvas, como potenciadores do turismo cultural. “Penso que a Azinhaga vai ficar ainda mais bonita com estas árvores, o meu avô ia gostar muito desta homenagem. Hoje é um dia muito especial”, referiu emocionada a O MIRANTE.

As árvores foram plantadas pelos funcionários da Câmara da Golegã e Ana Saramago não se coibiu em pegar na enxada e sujar os sapatos para ajudar a perpetuar no chão da Azinhaga a memória do seu avô.

“Levantado do Chão” é o livro favorito da neta de José Saramago

Ana Saramago tem 45 anos, reside em Lisboa e é curadora na Fundação José Saramago. É casada e tem uma enteada de 11 anos. O livro que destaca como seu favorito, da extensa obra do avô, é “Levantado do Chão”, de 1980, pela mensagem que transmite e por ter sido um livro que marca o estilo da escrita de José Saramago. “É um livro que foi muito duro de escrever devido à extensa pesquisa que envolveu, mas que o resultado foi grandioso”. “Caim” e “O Envangelho Segundo Jesus Cristo” são os que menos lhe dizem por serem mais ligados à religião.

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