Sociedade | 08-12-2019 18:00

Em Rio Maior os presépios são feitos de sal

Em Rio Maior os presépios são feitos de sal

Nas emblemáticas marinhas de sal situadas nos arredores da cidade estão em exposição diversas representações do nascimento do Menino Jesus feitas com o produto ali produzido.

São toneladas e toneladas de sal. Horas de trabalho a mais e noites perdidas. Várias peças partidas devido à humidade. Os artesãos das salinas de Rio Maior não tiveram mãos a medir nestas últimas semanas para ter, cada um, o seu próprio trabalho exposto em mais uma edição dos Presépios de Sal, organizada pelo município. Uma iniciativa única no país e que tem ganho cada vez mais participantes. Foi no dia da inauguração desta exposição, no sábado, 30 de Novembro, que O MIRANTE esteve à conversa com alguns dos artesãos e ficou a conhecer um pouco mais da arte de moldar o sal e do seu uso para outras finalidades que não apenas a de temperar comida.

Ana Lourenço, 42 anos, é vendedora de peças feitas em barro e de produtos à base de sal desde 2011 nas salinas de Rio Maior, um local único no país cada vez mais procurado pelos turistas ao longo do ano. De barrete de Pai Natal na cabeça e sempre de sorriso rasgado, vai mostrando o seu mais recente presépio feito em sal, que apenas exclui os três Reis Magos. A artesã conta que sempre gostou de artesanato, mas nunca pensou que um dia iria ser ela a criar as suas próprias peças. “Comecei primeiro a fazer trabalhos com barro e a vender sal com especiarias por brincadeira. Até que surgiu este evento e decidi participar”, explica Ana Lourenço.

Segundo a artesã, que faz as peças durante a semana e vende aos fins-de-semana, o segredo de trabalhar o sal é deixá-lo ficar em pedra para depois ser mais fácil esculpi-lo com faca e martelo. O resto, admite, vem da habilidade e da imaginação de cada um. Para Ana Lourenço, mais que trazer turistas às salinas de Rio Maior, a iniciativa Presépios de Sal é uma mais-valia porque permite que os lojistas se unam nesta época festiva e remem todos para o mesmo lado.

Mais eventos nas salinas

Algumas lojas à frente está o presépio de sal de Maria Vinagre e do marido, feito com cerca de dez quilos de sal. O trabalho levou uma semana. Desde há três anos a vender peças em barro e produtos com sal, a artesã de 54 anos diz que aprendeu a trabalhar com sal depois de ouvir as pessoas mais velhas e de muitas experiências pelo meio. “Todos os anos tenho feito presépios diferentes. Este ano saiu mais pequeno, mas foi o que consegui”, confessou a artista, explicando que muitas peças em sal acabam por se desfazer devido à humidade.

Maria Vinagre garante que este tipo de eventos traz sempre muitos turistas às salinas e, por isso, o município devia ponderar realizar mais actividades naquele local emblemático. É que, revela, muitas pessoas vêm a Rio Maior nesta época festiva atraídas pelos presépios de sal e não propriamente pela animação natalícia que decorre na cidade. “Se houvesse mais eventos nas salinas todos ficávamos a ganhar”, afirma a artesã.

Não há dois presépios iguais

Mais à frente, já encostado à estrada de acesso às salinas, encontra-se Paulo Candoso. Foi há 25 anos que a mãe abriu a loja para vender produtos com sal até que faleceu. Depois os filhos agarraram no negócio. A trabalhar como técnico superior no IEFP e a vender na loja aos fins-de-semana, o artesão, de 46 anos, explica que é quando o sal está húmido que costuma moldar as peças. Este ano, nos Presépios de Sal, revela que escolheu fazer um trabalho em relevo invertido e que a maior dificuldade esteve na representação do Menino Jesus, tendo decidido fazê-lo de pernas arqueadas para se identificar melhor a figura.

“Primeiro bati os 90 quilos de sal e humedeci para ganhar consistência para depois começar a cavar com uma colher de sobremesa e um pau do chinês”, adianta o artesão, referindo que demorou três horas a concretizar o presépio. Paulo Candoso não tem dúvidas que esta iniciativa é muito importante para as salinas porque consegue atrair quase seis vezes mais pessoas por fim-de-semana do que num período normal. “O especial deste evento é que não há dois presépios iguais e, por isso, vale a pena ver”, considera.

Um presépio à grande

Há quatro anos que José Ferreira e Cristina Alves são os responsáveis de um dos presépios mais visitados nas marinhas de sal de Rio Maior. O trabalho, onde não falta o poço com água nem os animais, representa a Cooperativa Agrícola de Produtores de Sal de Rio Maior e conta com 400 toneladas de sal e cinco semanas de trabalho. Para José Ferreira, a maior dificuldade foi a humidade, tendo obrigado a renovar duas a três vezes as peças em sal.

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