Pedido de donativos da Junta de Freguesia de Mouriscas gera guerra
Em Mouriscas, Abrantes, há muitos anos que a junta de freguesia pede donativos a pessoas da terra, nomeadamente emigrantes, para pagar obras públicas mas este ano gerou-se uma guerra política.
A Junta de Freguesia de Mouriscas, Abrantes, enviou, com data de 6 de Dezembro, uma carta a uma lista de pessoas da terra, cujos nomes não foram revelados, a pedir donativos para poder pagar duas facturas no valor 4.784,70 euros, relativas a obras na sua sede.
“(...) gostaríamos muito, de solicitar, mais uma vez, a Vª Exa colaboração na oferta de um DONATIVO para podermos fazer face às despesas que não conseguimos pagar, por falta de verba (...) de duas facturas relacionadas com melhoramentos no edifício sede da freguesia”, pode ler-se.
O pedido de donativos é uma prática habitual na freguesia, cujos habitantes, nomeadamente os que estão emigrados, têm orgulho na sua terra e gostam de participar nos melhoramentos ali feitos mas este ano a iniciativa gerou uma guerra política.
A CDU, que governou a autarquia até 2017, tendo nas eleições desse ano sido derrotada por uma lista do PS, encabeçada pelo actual presidente, Pedro Matos, emitiu um comunicado, a 27 de Dezembro, no qual acusa o executivo de andar a “mendigar apoios para uma pequena obra” e diz que a culpa de tal situação é da Câmara de Abrantes, liderada pelo socialista Manuel Valamatos.
“A antiga escola primária da freguesia, propriedade da câmara, encontra-se em ruínas (...) as estradas encontram-se em estado lastimável (...) O cemitério encontra-se há anos à espera de ser alargado. (...) A CDU questiona o que faz a Câmara Municipal de Abrantes aos impostos cobrados aos mourisquenses uma vez que muito pouco é investido na freguesia (...)?” questiona a comissão concelhia de Abrantes daquele força política.
O presidente da junta, em declarações a O MIRANTE, diz estranhar o que se passa e explica que a prática de pedir donativos é habitual e que vem de anteriores mandatos quando a CDU estava no poder. “É comum fazer-se isto nas Mouriscas porque as pessoas gostam de ajudar. Muitas não estão cá durante o ano inteiro e regressam nesta altura do Natal”, afirma.
No mesmo dia em que saiu o comunicado da CDU, o executivo da junta de freguesia reagiu, também em comunicado, acusando a CDU de falar mais do que trabalhar e de, ao longo dos anos que geriu a freguesia, pouco ou nada ter feito.
“O ofício recentemente enviado pelo executivo para as forças vivas da Freguesia de Mouriscas foi realizado com base num acto de boa-fé em prol da Freguesia de Mouriscas. Ao contrário dos anteriores executivos da Junta de Freguesia de Mouriscas e forças políticas com poder de decisão e fiscalização da freguesia, tem este executivo enveredado por um caminho de transparência, honestidade e trabalho. Tivemos muitos anos estagnados, com inércia total por parte de quem liderava a freguesia, estando entregues a um trabalho vazio que colocou as Mouriscas numa terra de nada”, refere o texto.
Presidente da Câmara de Abrantes diz que pedido era desnecessário
Confrontado com a situação, o presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Valamatos (PS), diz que não aprova a iniciativa, até porque, segundo ele, a Junta de Freguesia de Mouriscas tem uma situação financeira estável.
“Aprovo que as empresas e pessoas possam ajudar e apoiar a sua comunidade com dinheiro através da Lei do Mecenato, mas não é enviando cartas com pedidos de donativos. Além disso, a junta não tem essas facturas pagas porque não quer. Poderia ter colocado aqueles trabalhos como prioritários nos contratos interadministrativos através dos quais, todos os anos, a câmara apoia as juntas de freguesia, mas nunca nos falou em nada disso”, afirma.
No final de 2019 a Câmara de Abrantes aprovou cerca de 900 mil euros para contratos interadministrativos com as 13 juntas de freguesia para execução de obras. À freguesia de Mouriscas foram atribuídos 66.264,00 euros, para requalificação da Rua das Amendoeiras, da Travessa do Casal dos Castanhos, do Beco da Bogalhinha, da Rua do Pinceiro, da Rua do Craveiro e da Rua Lomba Cimeira e para projectos e aquisição de serviços.