Sociedade | 01-02-2020 12:30

Brasões são a fotografia de um território e não devem ser desvalorizados

Brasões são a fotografia de um território e não devem ser desvalorizados

Eduardo Brito é um heraldista de Vialonga que tem sido responsável pela criação de dezenas de brasões para municípios de todo o país.

Ainda há autarcas que não compreendem a importância e dignidade dos brasões e por isso é preciso dar um novo olhar, mais dedicado, à heráldica. Até porque são a primeira e única imagem oficial de um determinado território, defende Eduardo Brito, heraldista de Vialonga.

No seu currículo tem mais de 38 brasões criados para municípios e freguesias nacionais, incluindo, por exemplo, Forte da Casa, Venda do Pinheiro, Borba, Peniche, Silves, Palmela, Cachoeiras e Odivelas. Um dos seus últimos trabalhos foi para a freguesia de Vila Franca de Xira, que não tinha brasão próprio. O trabalho, anunciado em Dezembro de 2019, deu polémica e dividiu opiniões na comunidade, não tendo também gerado unanimidade na assembleia de freguesia ao ter sido votado por maioria, com o voto contra do Bloco de Esquerda.

O novo brasão vai ficar inscrito na comissão de heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, será publicado em Diário da República e deve começar a ser visto de forma oficial no final deste ano, juntamente com a nova bandeira e selo oficial. O novo brasão tem um fundo prata e os símbolos do rio Tejo, espigas de milho (representando a lezíria) e um colete de campino encarnado, em homenagem a essa figura tradicional. É a primeira vez que um colete de campino entra na heráldica portuguesa.

“Este processo arrasta-se desde 1991 quando a freguesia começou a tentar criar um brasão próprio. Nunca se conseguiu encontrar entendimentos e o assunto foi-se arrastando no tempo”, explica Eduardo Brito a O MIRANTE. O heraldista admite que o novo brasão não foi consensual na comunidade mas diz que isso acontece frequentemente. “Os brasões mexem muito com a sensibilidade das pessoas e com o sentimento bairrista. É difícil agradar a todos. O que tentamos é encontrar os símbolos mais identificativos de um determinado local e, segundo a lei, apresentá-los de forma estilizada”, explica.

Da livraria para a heráldica

Eduardo tem 39 anos e vive no Forte da Casa. Trabalha numa livraria em Lisboa especializada em literatura católica. Mas é sobretudo pelo seu trabalho como heraldista que tem dado nas vistas. Apaixonou-se pelos brasões aos seis anos quando lhe ofereceram uma bandeira do município. Estudou artes e aos 11 anos começou a coleccionar galhardetes. António Manuel Botto e José Bénard Guedes foram duas das suas referências.

Em 1995 começou uma cruzada com o então presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Daniel Branco, para tirar a palavra “cidade” do listel, a fita que envolve o brasão. “Dizia Notável Vila Franca de Xira Cidade. Acrescentar a palavra cidade era um erro e por isso lutei para que isso fosse corrigido. Há muitas freguesias que teimam em ter o seu brasão ilegal e não os querem corrigir. Na nossa região agora tudo está legal”, explica.

Para Eduardo Brito ainda não é dada a devida importância à heráldica, mesmo sendo a portuguesa considerada uma das mais perfeitas e rigorosas do mundo. “A lei que rege esta matéria está desactualizada e precisa de uma revisão”, sugere.

A paixão pela heráldica levou-o a tomar contacto com o desenhador – e também apaixonado pela área – António Sérgio Horta, autor dos desenhos finais dos brasões. “Um brasão é a nossa honra e a nossa história. É o que nos identifica. Os autarcas desvalorizam-no mas ele é muito importante, é o símbolo de uma terra e de uma gente”, conclui.

O brasão de Vila Franca de Xira

O brasão do município de Vila Franca de Xira tem as cores do concelho, duas flores de Lis e uma torre. A torre representa as raízes da povoação e as duas flores de Lis terão significados sujeitos a várias interpretações: na generalidade representam pureza, mas acredita-se que no caso de Vila Franca de Xira signifiquem a ligação com outros povos da Europa que ali foram chegando.

A iluminura de um brasão, ou seja, as cores, é uma das partes mais importantes da imagem. Há esmaltes e as cores base, que se dividem em metais (ouro e prata) e cores (azul, vermelho, verde, púrpura e negro) fixas. À excepção do púrpura, são todas cores que estão na bandeira nacional. A coroa mural, que encima o escudo, é composta sempre por castelos, a saber: cinco torres para municípios com sede em cidade; quatro torres para municípios com sede em vila e três torres para freguesias com sede em povoação simples.

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