Sociedade | 25-02-2020 12:30

Camiões com resíduos deixam rasto de queixas pelas ruas da Chamusca

Camiões com resíduos deixam rasto de queixas pelas ruas da Chamusca

Muito do trânsito para o EcoParque do Relvão atravessa a vila e deixa marcas na qualidade do ar. Solução é a construção de uma via alternativa à EN118, há muito prometida mas que os sucessivos governos tardam em concretizar.

A Estrada Nacional (EN) 118, que atravessa a vila da Chamusca, é percorrida diariamente por dezenas de camiões carregados de resíduos, perigosos ou não, a caminho do Eco Parque do Relvão, na vizinha freguesia da Carregueira, deixando com frequência no ar um cheiro nauseabundo. A população queixa-se há muito da passagem dos camiões pelo interior da vila, em trânsito para a zona industrial dedicada à valorização e tratamento de resíduos, desde urbanos aos industriais perigosos. A solução seria a construção de uma via alternativa, há muito falada mas que tarda em sair do papel.

João Nazário, de 82 anos, é um desses habitantes e não pode ter as janelas da sua casa abertas “por causa do cheiro” deixado pelos “muitos camiões” que todos os dias atravessam a terra que o viu nascer. “Não era assim. Só tenho a dizer mal daquilo que se passou aqui na Chamusca. [Os camiões] passam para Almeirim com estrume e outros para a Resitejo [Associação de Gestão e Tratamento dos Lixos do Médio Tejo] que também não vão tapados”, disse, franzindo o nariz como que a lembrar-se do cheiro. “Qualquer dia tenho de usar uma máscara”, graceja.

São cerca de 17 os quilómetros entre o centro da vila e o complexo industrial, tomando como ponto de partida o semáforo junto à câmara municipal, onde várias vezes ao dia, conforme a Lusa constatou, os camiões fazem fila à espera do sinal verde, alguns exalando um odor pestilento.

“Durante a manhã é pior com os camiões a passar. O pivete que aqui fica, com os camiões a deitar o ‘molho’ para o chão. Antes de estar aquilo do Relvão não era assim, há alturas em que cheira muito a porcaria de porco”, conta Luís Moreira. Para este habitante da Chamusca há uma alternativa para desviar o trânsito da vila: “Deviam ir pela estrada militar que passa a Ulme, uma estrada que vai embocar directamente ao Relvão. Disseram que desviavam o trânsito de dentro da vila e não desviaram”, lamentou.

Segundo o presidente do município, Paulo Queimado (PS), a questão da passagem dos camiões pela vila é a principal queixa da população sobre a localização do Eco Parque do Relvão. “As populações queixam-se em várias frentes, seja pela degradação das estradas, seja a questão do transporte e da quantidade de camiões que passa por dentro das localidades, muitas vezes com cheiros, falando da questão de lamas, um cheiro que incomoda bastante”, explica o autarca.

Nova ponte e nova via rápida são soluções há muito prometidas

Paulo Queimado lembra que, na altura da instalação dos dois CIRVER - Centros Integrados de Recuperação, Valorização e Eliminação de Resíduos no concelho da Chamusca, “havia a contrapartida do Governo” de fazer a ligação do Itinerário Complementar 3 à Autoestrada 13, entre Almeirim e Vila Nova da Barquinha, o que nunca foi cumprido. “Agora foi notícia a rejeição de uma proposta para incluir no Orçamento do Estado 2020”, acrescenta. Uma rejeição determinada pelo grupo parlamentar do seu partido, o PS, e que não mereceu contestação pública por parte dos autarcas da Chamusca. Segundo o autarca socialista, passam por dia “10 mil viaturas na ponte da Chamusca, das quais mil são camiões, veículos pesados”. Destes, há “480 com destino ao Eco Parque do Relvão”.

José Crispim gere as bombas de gasolina perto da ponte Isidro dos Reis, mais conhecida por ponte da Chamusca, e diz que o tráfego a caminho do “aterro da Carregueira” é mais intenso de manhã e rente à tarde. “Há um ou outro que não sabemos o que levam, outros deixam cheiros que permanecem cerca de cinco minutos. Daqueles com lamas a céu aberto, que não vêm tapados, passam se calhar 10 por dia”, conta.

Manuel Neves concorda com os seus conterrâneos ao explicar que os camiões que passam “têm um cheiro horrível que não se aguenta”. Além disso, os moradores não sabem bem o que levam, mas imaginam-se várias hipóteses. “Resíduos de hospitais e de fossas, coisas que ouvimos dizer”, atira. Ainda assim, “alguém tem de tratar do lixo, calhou ser aqui”.

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