“Dedicamos o nosso tempo a quem precisa e isso é o melhor que podemos dar”
Paulo Grego é o novo presidente da Liga dos Amigos do Hospital de Tomar e o único homem numa equipa de 36 pessoas que se debate com a crise de voluntariado, sobretudo entre a juventude e os homens.
Paulo Grego é o novo presidente da Liga dos Amigos do Hospital de Tomar (LAHT) e uma pessoa muito popular entre os doentes dessa unidade hospitalar. Recebeu O MIRANTE no piso zero e levou-nos para o piso 2 para nos encontrarmos com algumas voluntárias. Quando entramos no elevador estava uma paciente, acompanhada por uma enfermeira, de costas para a porta. Paulo Grego, que está na LAHT desde 2010, chamou-a pelo nome e perguntou como estava enquanto lhe afagava carinhosamente as costas com a mão. A doente não lhe reconheceu a voz mas quando ele se identificou fez uma enorme festa. À saída do elevador desejou-lhe um bom dia. Durante o percurso cumprimentou os pacientes com quem se cruzou pelo nome, o que demonstra as muitas horas que dedica a esta causa.
No piso 2 fomos ao encontro das voluntárias Lurdes Martinho e Virgínia Batista, que naquela manhã estavam de serviço no balcão onde arrumam as coisas e preparam os lanches. De bata amarela, para se distinguirem, colocam um termo com chá, um termo com café, bolachas, leite achocolatado e sumos num carrinho de mão. Com esse carrinho andam pelos vários andares do hospital a visitar os pacientes. Além disso, também vão ao espaço das consultas externas, onde muitos pacientes aguardam para ser atendidos.
“Utilizamos o carrinho com a comida como uma forma de nos aproximarmos dos doentes. Nunca falamos das doenças. O que queremos é animá-los e perceber se existe mais algum tipo de problema que devemos reportar aos responsáveis do hospital. Queremos dar-lhe apoio e mimos porque sabemos que quem está no hospital está numa situação frágil e queremos minimizar isso dando-lhes palavras de conforto e fazendo-os sorrir. Esse é o nosso principal objectivo todos os dias”, afirma Paulo Grego.
Além do presidente existem mais 35 voluntárias. Todas mulheres. Um dos objectivos do novo mandato é trazer mais voluntários para a Liga e também mais homens. “Fico triste quando pergunto a alguém se quer vir fazer voluntariado e me perguntam quanto se ganha. Dedicamos o nosso tempo a quem precisa e acho que isso é o melhor que podemos dar”, sublinha. A quota anual é 18 euros e têm cerca de 200 sócios. O problema é que quando os associados morrem a família não dá continuidade, o que faz com que vão perdendo sócios. Uma situação que pretendem combater.
A LAHT é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) criada a 13 de Junho de 2005 e a principal bandeira é, desde o início, a causa social. Quando existem doentes carenciados que precisam de fazer medicações e não têm dinheiro para comprar medicamentos são encaminhados pelas assistentes sociais para a Liga. “Quando é necessário colaboramos. Fizemos um protocolo com uma farmácia em Tomar onde o doente vai aviar a receita e nós pagamos”, explica Paulo Grego.
A Liga explora dois bares no hospital e abriu agora uma livraria, que pretende ter em breve jogos da Santa Casa da Misericórdia. O objectivo é angariar dinheiro para poderem ajudar. Ao todo têm seis funcionárias, cinco nos bares e uma na livraria. Outro dos objectivos é trazer mais jovens para a causa voluntária. Quando entrou para a Liga criou o Núcleo de Voluntariado Juvenil que entretanto terminou. A voluntária mais nova tem mais de 50 anos. “É necessário criar uma dinâmica para que os jovens também queiram ajudar”, realça.
A LAHT tem uma escala de voluntariado que funciona de segunda a sexta-feira. Cada pessoa vem consoante a sua disponibilidade. Paulo Grego entra às 08h00 da manhã e sai às 08h00 da noite, de segunda-feira a domingo. Diz que o sorriso dos pacientes compensa o muito tempo que passa no hospital.
O militar que sempre quis fazer voluntariado
Paulo Grego nasceu em Moçambique há 62 anos. Veio para Portugal com a mãe e as duas irmãs quando tinha 12 anos. Foram para o Porto e nunca se adaptou ao clima. Nessa altura esteve dois anos num seminário. A intenção era ser padre mas depressa mudou de ideias. Como o pai tinha ficado em África foi ter com ele. Estudou e trabalhou lá, onde conheceu a sua esposa. Depois da independência regressou a Portugal. Entrou na Guarda Nacional Republicana (GNR) e passados quatro anos surgiu a hipótese de ir para Tomar. A sua carreira militar esteve sempre ligada ao treino de cães. Vive em Tomar há mais de 30 anos. Quando se reformou não quis ficar parado por isso deu catequese e fez voluntariado. Entrou para LAHT onde foi vogal e esteve oito anos como vice-presidente até ao anterior mandato. Tomou posse como presidente a 4 de Fevereiro deste ano. A seu lado tem Cristina Schulz (vice-presidente) e Hália Santos (tesoureira).