O que sabemos de matemática é um grão de areia no deserto
Pedro Antunes acumulou na última década prémios e distinções na área da matemática. Tem projectos publicados em revistas da especialidade e é convidado para conferências em todo o mundo.
É investigador da área da matemática e dá aulas a estudantes do ensino superior mas a sua grande paixão sempre foi a música. Pedro Antunes, 40 anos, nunca equacionou a matemática como saída profissional. Natural de Tomar, entrou para a Banda da Sociedade Filarmónica Gualdim Pais aos oito anos e ali permaneceu durante 25 anos. Entrou com o irmão mais velho e aprendeu a tocar clarinete. O pai estudou música e incutiu esse gosto nos filhos. A mãe era professora de matemática e o pai de português e francês. Dar aulas era algo que fazia sentido a Pedro mas nunca pensou muito nisso.
Na adolescência respirava música e o que lhe dava prazer era estar com os amigos a tocar. A matemática foi uma opção racional. “Só na véspera das candidaturas é que escolhi. Optei por matemática porque era algo que não desgostava e sabia que tinha muitas opções no mercado de trabalho. Não me recordo da média com que entrei na universidade mas não foi nada de especial”, recorda a O MIRANTE. Os primeiros dois anos do curso no Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, não correram muito bem. Ia fazendo as cadeiras mas ainda não tinha ganho o gosto pelo que andava a fazer.
Só quando teve que preparar o trabalho de final de curso é que a sua vida mudou. Escolheu o orientador de estágio, o professor Carlos Alves, que já tinha sido seu docente durante a licenciatura e foi aí que se apaixonou pela matemática. Pedro Antunes diz que um bom professor pode mudar a vida de um aluno. A partir daí deu aulas no IST durante quatro anos enquanto fazia o mestrado. Conseguiu uma bolsa para fazer o doutoramento. Entretanto, passou para a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde fez o pós-doutoramento. Depois disso ganhou um concurso para investigador durante cinco anos.
Nos últimos dez anos acumulou vários prémios, distinções e alguns projectos seus estão em publicações científicas. Participa em vários projectos de investigação e é convidado para conferências em todo o mundo. Venceu diversos prémios dos quais se destacam o de Jovem Investigador da Universidade Técnica de Lisboa/CGD (2009) e o prémio “Estímulo à Investigação” - na área da Matemática (2009), da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 2018 foi nomeado para o Prémio Europeu de Matemática Computacional “Jaques Louis Lions Award” e venceu, no mesmo ano, o Prémio Universidade de Lisboa/CGD na área da Matemática Pura e Aplicada.
De personalidade reservada, não se mostra muito à vontade a falar dos prémios conquistados nem se considera um investigador de sucesso. Diz que o segredo para as coisas correrem bem é gostar do que faz e ter uma devoção e uma entrega ao trabalho sem limites. Deu aulas em diversas universidades e, actualmente, lecciona na Universidade Aberta, em Lisboa, conciliando a actividade com a investigação e com o filho, Francisco, de seis anos, a sua grande prioridade na vida. “Quando estou com o meu filho não há tempo para a matemática”, afirma.
Pedro Antunes confessa que o que o cativa na matemática é esta ser um ‘universo’ e sentir que trabalha apenas num ‘microcosmos’. “O que sabemos de matemática é um grão de areia no deserto e nunca iremos saber tudo. É isso que me seduz: a descoberta do desconhecido. Essa procura dá-me muito gozo”, adianta.
Dia Internacional da Matemática assinala-se pela primeira vez
O Dia Internacional da Matemática foi aprovado pela UNESCO no final do ano passado e será celebrado a 14 de Março. Até agora a data 3/14 era mundialmente conhecida como Dia do Pi (constante matemática cujo valor é 3,14). Para Pedro Antunes faz todo o sentido existir um Dia Internacional da Matemática. “Há dias internacionais de tudo. Esta é uma forma de se falar de matemática, pelo menos nesse dia ou nessa semana”, refere.
A matemática está em todo o lado
Pedro Antunes gosta de dar aulas mas tem noção que a matemática continua a ser o ‘bicho papão’ dos alunos. O professor tenta cativá-los com exemplos práticos e diz que hoje os jovens estão mais avessos a aprender. “Tudo o que envolva tempo, atenção, dedicação e resiliência não cativa os estudantes. É preciso encontrar estratégias para tornar a Matemática uma disciplina atraente”, sublinha.
O professor diz que a matemática é fascinante porque é como um jogo. Além disso, é uma ferramenta para todas as outras ciências. “Em tudo há matemática. Nas aplicações de telemóveis como o googlemaps, para levantar dinheiro, nas rotas dos aviões ou nas portagens das auto-estradas… a matemática está em todo o lado”, conclui.