Sociedade | 23-03-2020 10:00

“Nasci para a agricultura mas devo tudo ao meu avô António Sequeira”

“Nasci para a agricultura mas devo tudo ao meu avô António Sequeira”

Filipe Sequeira, natural da Chamusca, recebeu recentemente as distinções de jovem agricultor e melhor produtor de batata do ano de 2019, atribuídos pela Agromais.

António Sequeira, reconhecido pelos seus pares como um agricultor de extrema dedicação às suas explorações agrícolas, sempre aberto à inovação, faleceu o ano passado e deixou ao neto, Filipe Sequeira, 27 anos, um negócio de exploração agrícola de cerca de 200 hectares, sempre com elevados níveis de produtividade nas culturas de milho, batata e ervilhas. “Fiquei com o menino nas mãos. Ser reconhecido pelo trabalho que desenvolvemos, é um orgulho”, afirma a O MIRANTE. Durante a campanha passada produziu cerca de 1800 toneladas de batata, o que é considerado o seu melhor ano.

Filipe Sequeira sempre gostou de trabalhar no campo e começou a sério aos 12 anos quando acompanhava o avô quase diariamente. Os seus primeiros trabalhos foram em cima dos tractores e das máquinas de colheita. Diz que nunca foi tratado de forma especial por ser neto do patrão, e que às vezes isso até o obrigava a dar o exemplo. Os trabalhos mais exigentes eram muitas vezes para Filipe. O avô justificava-se dizendo-lhe que “eram desafios que iam fazer dele um verdadeiro homem”.

Mesmo nos últimos momentos de vida do avô, aprendeu com o homem que é também o seu ídolo. “Duas horas antes de morrer esteve a ensinar-me como se tratava da gestão da empresa”, conta emocionado. Quando questionado sobre qual foi o maior ensinamento que tirou do avô, Filipe Sequeira, não perdeu muito tempo a pensar: “O fracasso não é uma coisa má. Mau é quando se fracassa e não se é humilde para o admitirmos”.

Filipe Sequeira sabe que nasceu para trabalhar no campo por uma simples razão: acorda todos os dias com vontade de ir para a labuta. E não se pode dizer que seja pouca. Todos os dias reúne com os três colaboradores na sua casa, às oito em ponto, para orientarem os afazeres do dia. A hora de almoço, ao meio-dia, é sagrada. Depois de um dia no campo ou a tratar da papelada, o trabalho chega ao fim sem uma hora definida. “Sei a que horas começo, mas nunca sei a que horas acabo”, explica com um sorriso.

A tecnologia no sector agrícola é um tema sempre fracturante, porque implica menos postos de trabalho, mas o empresário não pode pensar desta forma: “A inovação no meu trabalho representa um desafio estimulante e o meu avô disse-me sempre que eu não podia ser preguiçoso a pensar. Se estivermos atentos às novas tecnologias poupamos tempo e recursos”. E deu um exemplo: “O GPS permite fazer um uso adequado e rentável das máquinas e de todas as alfaias que já admitem novas tecnologias. Se tivermos três metros de apanha e não formos atentos só fazemos 2,5 metros. No fim do dia perdemos o lucro de uma boa parte da seara”, afirma.

Filipe Sequeira não concorda com a ideia de que os agricultores só conseguem vingar se tiverem subsídios do Estado. Considera que o Estado tem um papel importante no apoio aos agricultores e à agricultura, mas cada um tem de saber tirar o máximo proveito das suas explorações agrícolas, insistindo nos temas da modernização e inovação, considera pontos fortes dos agricultores que sabem exactamente que chegámos ao ano de 2020.

O papel mais importante da sua vida

Filipe Sequeira foi pai há cerca de um mês. Neste momento esse é o papel mais importante da sua vida. “Quero aproveitar ao máximo o tempo com o meu filho, mas sem nunca esquecer e sem roubar muito tempo à empresa e ao trabalho”. Também aqui só tem de seguir as pisadas do avô. “Tenho que trabalhar porque o dinheiro não cai do céu, mas também hei-de arranjar tempo para viver o tempo do meu filho”, diz.

O clima em Portugal não é amigo da agricultura

Filipe Sequeira considera que a irregularidade do clima em Portugal afecta muito a gestão agrícola. “A produção das culturas depende sempre do muito calor ou da muita chuva. Há uma imprevisibilidade climatérica que afecta muito o nosso trabalho. Ainda este ano, depois de ter semeado ervilhas, choveu abundantemente durante uns dias, e tive de voltar a semear tudo de novo. Estas situações abalam o orçamento. Não é fácil recuperar depois”, refere, adiantando que não é por isso que vai deixar de continuar a trabalhar e a honrar o nome do seu avô António Sequeira.

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