Sociedade | 03-05-2020 10:37

Desapareceu o lápis azul mas existem novas formas de censura

Desapareceu o lápis azul mas existem novas formas de censura

No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, António Valdemar, jornalista com a carteira profissional número 1, fala a O MIRANTE sobre o antes e o depois da democracia e de como existem actualmente novas formas de censura que ameaçam o jornalismo.

Para assinalar a data em que se comemora o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, O MIRANTE conversou com António Valdemar, jornalista com a carteira profissional número 1.

Aos 82 anos, o ex-chefe de redacção do 1º de Janeiro, a viver em Torres Novas, recorda o caso da “censura” à medalha escolhida para evocar o centenário do 5 de Outubro de 1910. Um episódio que aconteceu em 2010 e que, em seu entender, "manchou as comemorações do centenário da República” e é bem representativo de que continua a existir "lápis azul" em Portugal.

Tudo aconteceu quando a medalha vencedora do concurso alusivo ao centenário, promovido pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda, acabou por não ser editada. Para António Valdemar e para o criador da medalha, o escultor João Duarte, não houve dúvida que a forma triangular, associada à maçonaria, terá sido uma das razões apontadas para a decisão.

O jornalista trabalhou 16 anos em redacções sob intervenção da censura. "Passei pela censura de Salazar e pela censura de Marcelo Caetano que até foi pior, porque passou a ser especializada e mais difícil de enganar. No tempo do Salazar os coronéis não tinham especialização para ler determinados textos", confessa António Valdemar alertando, no entanto, que "falar nos tempos passados é cair num saudosismo deplorável". A realidade agora é outra e, segundo o jornalista e estudioso de literatura e história, não se pode fazer uma análise comparativa porque existem novas formas de censura e de repressão para as quais é preciso alertar. Um exemplo que aponta são os vínculos laborais precários que unem jornalistas e meios de comunicação, onde muitas vezes a liberdade de expressão é ensombrada pelo receio do desemprego.

O jornalista fala também dos negócios que se estão a fazer neste momento em câmaras municipais e em ministérios à volta dos equipamentos de protecção individual para a Covid. Considera que ultrapassam os limites do bom senso e da decência e questiona se haverá coragem jornalística para averiguar o que se está a passar num país anestesiado e dominado pelo medo.

Uma reportagem para ler na íntegra numa próxima edição de O MIRANTE, nas bancas à quinta-feira.

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