Pastorinhos de Fátima sucumbiram à gripe espanhola

Meses depois de Jacinta e Francisco terem presenciado a aparição de Nossa Senhora de Fátima, a gripe espanhola levou-os. Lúcia, em clausura, conseguiu passar incólume. Uma história que lembramos quando se assinalam os 103 anos das aparições, num cenário que volta a ter como protagonista um vírus.
Em 2020 comemora-se o 103º aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos, na Cova da Iria. Este foi o ano em que, pela primeira vez, as comemorações em Fátima se fizeram sem peregrinos. A culpa é do novo coronavírus que obrigou ao distanciamento social. Não é, contudo, a primeira vez que um vírus marca a história deste santuário mariano. Há cerca de um século chegava a Portugal a gripe espanhola ou pneumónica, que se viria a tornar na pandemia mais mortífera da história humana recente, estimando-se que tenham ceifado entre 50 a 100 milhões de vidas em todo o mundo.
Em Portugal, onde a epidemia chegou trazida de Espanha pelos trabalhadores sazonais alentejanos, terá causado 120 mil mortes. Francisco e Jacinta Marto, dois dos três pastorinhos da Cova da Iria, foram vítimas desta doença. Francisco Marto morreu a 4 de Abril de 1919 na casa da família, em Aljustrel, e foi sepultado no cemitério de Fátima. A sua irmã, Jacinta, que sofria de pleurisia e não podia ser anestesiada devido à má condição do seu coração, foi levada para Lisboa a 21 de Janeiro de 1920, para o Orfanato de Nossa Senhora dos Milagres. A 2 de Fevereiro de 1920, foi internada no Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa, onde morreu 18 dias depois. O seu corpo foi levado para Vila Nova de Ourém, em cujo cemitério foi sepultado a 24 de Fevereiro, no jazigo dos condes de Alvaiázere. A 30 de Abril de 1951 os seus restos mortais são identificados e trasladados para o braço esquerdo do transepto da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima no dia seguinte, 1 de Maio. Um ano mais tarde os restos mortais do seu irmão, Francisco, foram exumados e trasladados para o mesmo templo, a 13 de Março de 1952, repousando no braço direito do transepto.
“A partir da primeira Aparição de Nossa Senhora, a 13 de Maio de 1917, a vida dos três pastorinhos transformou-se completamente: não só porque acolhem os pedidos da Senhora, recitando diariamente o terço, fazendo sacrifícios, alguns dolorosos, pelos pecadores e comparecendo durante seis meses, ao dia 13, naquele local, mas sobretudo porque passam a ser constantemente interrogados sobre o que viram e acusados de mentirem e de inventarem tudo”, refere o site comemorativo da visita do Papa Francisco a Fátima em 2017.
Apesar de dizerem que Nossa Senhora, numa das Suas aparições, lhes pediu moderação, as crianças tinham o hábito de praticar penitências. Sendo possível que a pobreza da sua condição e os prolongados jejuns os tenham enfraquecido, numa altura em que a epidemia varria a Europa. Recolhida no Asilo de Vilar, no Porto, depois da última Aparição (ocorrida a 13 de Outubro de 1917), a conselho do bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, Lúcia de Jesus, prima de Francisco e de Jacinta, ficou protegida deste perigo e deu início a uma vida retirada do mundo que a levou aos 15 anos a Espanha, ao postulantado das Irmãs Doroteias. Mais tarde entrou em clausura em Coimbra, no Carmelo de Santa Teresa, onde permaneceu desde 17 de Maio de 1946 até à sua morte, a 13 de Fevereiro de 2005. Tal como Nossa Senhora vaticinava em 1917, Francisco e Jacinta haviam de partir em breve, enquanto Lúcia permaneceria por uns largos anos.