Sociedade | 28-06-2020 15:00

Ciganos querem trabalhar para não dependerem de ajuda do Estado

Ciganos querem trabalhar para não dependerem de ajuda do Estado

Em Almeirim há cinco ciganos a trabalhar para a câmara que há cinco anos, quando começou a demolir um acampamento, deu uma oportunidade aos que quiseram sair da preguiça.

Há um estereótipo na sociedade de que os ciganos fogem do trabalho como o diabo da cruz, mas em Almeirim a câmara e a comunidade cigana estão a tentar contrariar esta ideia. A autarquia tem dado trabalho aos ciganos de um acampamento que existe na cidade há mais de duas décadas. Neste momento há cinco pessoas desta etnia a trabalhar para o município, incluindo duas mulheres. Sandro Fernandes, 23 anos, e José Maria Casimiro, 24 anos, estão há dois anos a mostrar que é melhor ter um trabalho do que viver da assistência do Estado.


Sandro e José estavam na sexta-feira à tarde, 19 de Junho, na limpeza das ruas da zona industrial, perto do estaleiro do município e do acampamento onde vivem. Ficaram entusiasmados por serem notícia, mas a princípio estavam reticentes quanto a serem fotografados. Está calor e refugiam-se na sombra de uma árvore para falar com o jornalista. Nos últimos meses as suas tarefas têm sido a limpeza urbana devido às limitações de transporte por causa do coronavírus. Mas em breve voltam a agarrar nas roçadoras para cortarem as ervas no mato nas bermas das estradas do concelho. É uma das tarefas que mais gostam de fazer e só se queixam de às vezes terem de andar a pé longas distâncias.


Os ciganos, que estão na autarquia através de programas do centro de emprego destinado a beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI), dizem que preferem trabalhar do que receberem o apoio do Estado. O maior aliciante é o dinheiro que levam para casa. Sandro e José têm as mulheres também a trabalhar mas para a Junta de Freguesia de Almeirim. Cada um recebe perto de 600 euros, mais do dobro do que ganhariam do RSI. Na câmara fazem parte de uma segunda geração de ciganos trabalhadores. Os primeiros entraram há cinco anos e desses só resta um ainda em funções, João Carlos Fernandes, 28 anos, que é irmão de Sandro e que na sexta-feira tinha tido dispensa do trabalho para tratar de questões pessoais.


Sandro Fernandes e José Maria Casimiro têm, cada um, uma filha. É a pensar nelas que estão a abraçar esta oportunidade, apesar de no início não ter sido fácil por não estarem habituados a cumprir horários e obrigações. Nessa altura, realça José, agarrado à vassoura, tinham que se levantar às 05h00 para entrar às 06h00 nos carros de recolha de resíduos sólidos urbanos. O encarregado da câmara, Vítor Fernandes, dizendo que é preciso ter alguma sensibilidade para quem tem uma cultura diferente, sublinha que a recolha do lixo, que entretanto passou para uma empresa intermunicipal, era talvez a função em que se sentiam melhor. O trabalho era feito durante a madrugada e manhã e pouca gente dava pela presença de pessoas de uma etnia que tem vergonha de trabalhar.


Enquanto despeja uma pazada de folhas no balde do carrinho, onde uma caixa guarda duas garrafas de água para matar a sede, Sandro não tem dúvidas que trabalhar dá mais oportunidades de vida. O jovem de 23 anos, com ar aprumado, quer continuar a trabalhar na autarquia para conseguir dar melhores condições à família. Vive desde que nasceu no acampamento, tal como José, onde não há água canalizada nem electricidade. O presidente da câmara, Pedro Ribeiro, há cinco anos mandou arrasar o acampamento na zona industrial, mas poupou seis barracas, das famílias que perceberam que a câmara não está disponível para lhes dar o peixe, mas sim a cana para os ensinar a pescar. Até hoje os ciganos não deram problemas no trabalho e a título de exemplo Vítor Fernandes diz que tomaria muitas fazerem limpeza como faz uma das ciganas no mercado municipal.

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