Sociedade | 30-06-2020 12:30

Revisão do PDM de Ourém foi refém do negócio das pedreiras que envolve milhões de euros

Revisão do PDM de Ourém foi refém do negócio das pedreiras que envolve milhões de euros

Cília Seixo é uma mulher de desafios. Ficou surpreendida mas deu a cara pelo PS tendo sido a cabeça-de-lista à Câmara de Ourém nas autárquicas de 2017 quando Paulo Fonseca foi impedido pelo tribunal de se recandidatar.

É mais atractivo viver em Fátima do que em Ourém. O número de pessoas a viver em Fátima tem aumentado. Isto deve-se ao desenvolvimento da cidade e também porque Ourém parou no tempo. Precisava de ser uma cidade mais embelezada. A opinião é da vereadora do PS na Câmara de Ourém, Cília Seixo, que critica a maioria PSD/CDS que gere o município por não investir na cidade sede de concelho.

“O actual executivo poupou mas o dinheiro tem que servir as pessoas. Dar-lhes melhores condições investindo em novos projectos que revitalizem todas as freguesias”, afirma a vereadora em entrevista a O MIRANTE. A professora discorda da construção de uma Zona Industrial na Freixianda pois existem várias no norte do concelho. Na sua opinião, deveria existir uma aposta no interior mas mantendo as características rurais aproveitando os milhões de turistas que todos os anos visitam Fátima.

A revisão do Plano Director Municipal (PDM) de Ourém foi aprovada recentemente. Cília Seixo considera que houve situações que ficaram pouco claras, nomeadamente a falta de importância que se dá ao meio rural e a organização do território em relação às pedreiras. “As pedreiras são um lóbi fortíssimo e um negócio muito importante para o concelho. Tem que haver um controlo sobre a exploração ou, além de perdermos a pedra, ficamos com uma zona deteriorada. Temos que pensar nas próximas gerações e que território é que lhes vamos deixar. As pedreiras fazem pressão porque são um negócio que envolve milhões de euros. O PDM foi refém dos interesses das pedreiras”, critica.

A autarca lamenta que o actual executivo, liderado por Luís Albuquerque, não aposte mais na freguesia de Fátima. Nos primeiros anos do actual mandato criticou bastante o facto das árvores e plantas das avenidas principais nunca serem regadas. “Está tudo seco, morto. São coisas básicas. Não se compreende que aconteça. É um executivo muito agarrado ao dinheiro e isso nota-se na falta de investimento e até na limpeza”, afirma.

A viver em Fátima há mais de 30 anos realça que a cidade tem capacidade para ser concelho mas não é adepta de divisões. Diz que há argumentos bons de ambos os lados. “O concelho de Ourém faz falta a Fátima e vice-versa. Faz sentido unir e potenciar o melhor do concelho aproveitando o desenvolvimento de Fátima”, sublinha.

“vida privada de Paulo Fonseca teve consequências na vida pública”

Cília Seixo era a número dois na lista do PS à Câmara de Ourém, encabeçada por Paulo Fonseca, nas eleições autárquicas de 2017. A actual vereadora da oposição soube pela comunicação social que seria a cabeça-de-lista do partido depois de Paulo Fonseca ter sido impedido pelo tribunal de se recandidatar. “Nunca me passou pela cabeça ser candidata à presidência da Câmara de Ourém. Achei sempre que o PS arranjaria outro candidato. Fiquei surpreendida mas aceitei o desafio apesar de não me sentir preparada. Tive que me preparar”, confessa, acrescentando que nunca falou do assunto publicamente.

Garante ser uma mulher de bom-senso e sabia que seria extremamente difícil ganhar porque ninguém a conhecia politicamente. Recorda que além de haver um desgaste político por parte do executivo PS, liderado por Paulo Fonseca, que já tinha feito dois mandatos, Luís Albuquerque era candidato pela terceira vez. Todos o conheciam e o concelho é maioritariamente PSD. “Se eu vencesse as eleições era o segundo milagre de Fátima”, afirma em jeito de brincadeira. Amiga de Paulo Fonseca, foi este quem a convidou para integrar pela primeira vez as listas do PS à assembleia municipal em 2005. A vereadora considera que Fonseca foi vítima de questões de ordem privada. “Foi um bom presidente, as pessoas gostavam dele. Fez coisas importantes e deixou muitas obras e projectos que o actual executivo herdou. A falta de orientação na vida privada trouxe-lhe consequências para a vida pública”, afirma, sublinhando não ter competência para julgar a justiça. Ainda não pensou se será novamente candidata mas admite ser difícil conciliar a sua vida profissional com a vida política..

Uma feminista que foi vice-presidente da Amnistia Internacional

Cília Seixo nasceu a 17 de Agosto de 1961 em Mira, distrito de Coimbra. É uma mulher de causas e por isso aceitou o convite para ser vice-presidente da Amnistia Internacional entre 1999 e 2004. “Temos conhecimento de casos concretos, em que há injustiças, sobre os quais é preciso intervir. Isso dá-nos luta porque sentimos que estamos a construir algo melhor”, explica.


É feminista. Não tem nada contra os homens mas as mulheres têm que pedalar muito para chegarem aos cargos que os homens ocupam. “Os cargos de chefia são maioritariamente ocupados por homens. Ainda há um longo caminho a percorrer para mulheres e homens terem direitos iguais”, realça.


A primeira licenciatura foi em Filosofia. Seguiu-se um mestrado em Educação Intercultural e aos 40 anos licenciou-se em Psicologia Clínica. Dá aulas no Centro de Estudos de Fátima e consultas numa clínica na mesma cidade. Está a pensar fazer uma pós-graduação em Geriatria.


É a mais velha de três irmãos. Foi viver para Fátima quando o ex-marido, médico, foi colocado a trabalhar no concelho. Admite que quando chegou a Fátima não foi amor à primeira vista mas agora sente-se em casa. Divorciou-se depois de 30 anos de casamento e decidiu continuar a viver na cidade.


Acha difícil voltar a viver um novo amor porque, explica, as pessoas tendem a fechar-se com a idade mas não fecha portas ao romance. “O Homem precisa de amor, é isso que move a vida”, afirma. Sempre que pode foge para Mira e adora as caminhadas junto à praia da sua vida. Tem uma filha, de 27 anos, que vive em Lisboa. A viagem que mais a marcou foi à Índia pela diferença cultural. Os dias que passou na Amazónia (Brasil) também lhe ficaram na memória.


Gosta de vários géneros musicais e ouve consoante o humor. Aprecia cinema francês e está a ler “Homo Deus”, do israelita Harari, mas “Cisnes Selvagens”, que conta a história da China do século 20 através de três gerações de mulheres da mesma família, é o seu livro preferido.

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